A tristeza é senhora

João Paulo, editor de Cultura

De uns tempos para cá, todo dia nos deparamos com deprimidos. Não se trata de tristeza, desânimo, infelicidade ou fossa, mas depressão. As palavras não são neutras. A força que o termo depressão assume entre os estados de ânimo contemporâneos tem muitos sentidos. Em primeiro lugar, aponta para um contínuo que tem na outra ponta a ideia de felicidade como euforia e prazer. Assim, aquele que de alguma forma não se reconhece no padrão, quase sempre marcado pela possibilidade do consumo conspícuo e pelo exercício do poder sobre o outro, sente-se diminuído. A depressão é o lugar dos fracassados.

Outra dimensão que dá substância à palavra é sua pretensa origem orgânica. O deprimido é um doente, alguém a quem falta algo (serotonina, neurotransmissores e outros ingredientes que deveriam estar sendo fabricados por nosso cérebro e glândulas) que deve ser reposto. A cura para a depressão é a dosagem ideal de medicamentos que realizem com eficiência o que falta em nosso organismo. A depressão é o lugar da falta e da incompetência do corpo.

Por fim, a doença nervosa que infelicita tanta gente tem marcas típicas de nosso tempo. Numa sociedade que não é apenas competitiva, mas excludente, vive-se com a ameaça constante de que podemos ser, amanhã, a bola da vez. Se todos são descartáveis em algum momento da sua trajetória, a proximidade desse destino, pior que a morte, nos solapa a dignidade humana de ser apenas gente. A depressão é o lugar dos que ocupam um lugar que não é mais deles. (mais…)

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A dor da interdição

Violência contra a mulher tem fundamentos históricos que podem ser reforçados por ideologias religiosas e políticas, que são reproduzidas na educação que alimenta preconceitos machistas

Inez Lemos*

No filme A separação, Nader e Simim possuem posições diferentes sobre o Irã. Simim quer sair do país em busca de melhores oportunidades para a filha, Termeh. Nader prefere ficar e cuidar do pai, que sofre de Alzheimer. Chama-nos atenção a forma determinada e absoluta como Nader lida com o conflito familiar. Sempre frio e certeiro em suas posições. Simim reclama da incapacidade do marido em demonstrar afeto e carinho – em nenhum momento este pediu a ela que ficasse, que desejava tê-la ao seu lado. Sem a esposa para cuidar da casa, Nader contrata uma empregada grávida.

Num momento de fúria, Nader a empurra e esta alega que perdeu o bebê devido ao tombo provocado pela agressividade do patrão. Assim, somos jogados num festival de neurose envolvendo maridos, esposas e filhas. A situação de conflito em que os envolvidos não assumem responsabilidades transforma-se em palco de insanidades. E se intensifica quando ocorre em países regidos por religiões que permitem a radicalização fundamentalista.

A humanidade foi marcada por homens totalitários como Hitler, Komeini, Kadhafi – exemplos de força e violência contra os mais fracos. Contudo, mesmo que o consentimento social de que alguém deva exercer o poder de forma absoluta e autoritária seja posta em xeque – vide as últimas revoltas nos países árabes –, muitas crianças ainda crescem acreditando numa verdade absoluta e odiando todos que tentam contrapô-las ou questioná-las. Tanto no Irã como no Brasil, muitos são os exemplos de violência contra a mulher. Diante de tantas tragédias, é fundamental investigarmos como está se constituindo, em nossos filhos, o imaginário masculino. (mais…)

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Nota de repúdio contra Despejo da EFA Bontempo em Itaobim/MG

Comunicamos à imprensa e à sociedade em geral que ontem, 23 de fevereiro de 2012, aconteceu que a diretoria da AEFAMBAJE foi pega de surpresa quando por volta das 14 horas oficiais de justiça e policiais apareceram na sede da Escola Família Agrícola Bontempo, situada em Itaobim, Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais para comunicar o mandado de reintegração de posse dos prédios onde a referida EFA funciona há mais de 10 anos.

Não bastassem os dados estarrecedores da situação da educação da juventude rural no Brasil que não vem ao caso comentar agora, é lamentável tal episódio. É sabido que a EFA Bontempo surge da necessidade dos trabalhadores resolverem o problema da educação de seus filhos com uma escola diferenciada, contextualizada em sua realidade.

A EFA Bontempo foi construída pelos trabalhadores rurais em terreno doado pela Fundação Brasileira de Desenvolvimento, cujo presidente é o padre católico, Sr Felici Bontempi. O terreno foi doado em comodato por tempo indeterminado. Ele e sua fundação reivindicam o terreno e os prédios construídos ali pela Associação gestora da EFA, AEFAMBAJE. São 201 jovens matriculados cursando 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio e Profissional Técnico em Agropecuária. (mais…)

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