Seis meses após decreto, fim da poeira fica só na promessa


Legislação. Logo na entrada de Congonhas, placa avisa aos motoristas da lei que proíbe o trânsito de veículos carregados com minério

População reclama de sujeira e danos causados ao asfalto pelos caminhões

Rafael Rocha

CONGONHAS. Seis meses se passaram desde que a Prefeitura de Congonhas, na região Central de Minas, anunciou que a intensa poeira na cidade, vinda das mineradoras instaladas no entorno, estaria próxima do fim. Desde então, um decreto proibiu o trânsito de veículos leves com resíduos de minério na área urbana. E uma outra lei, anterior à de 2011, já proibia a presença de caminhões. O problema é que nenhuma delas conseguiu resolver o problema. Enquanto moradores reclamam da sujeira, prefeitura e Polícia Militar discutem de quem é a responsabilidade da fiscalização.

A passagem dos veículos com detritos de minério não apenas deixa a cidade dos profetas de Aleijadinho repleta de sujeira, como também provoca danos ao asfalto, que não suporta o peso da carga transportada pelos caminhões.

Diante do descumprimento da lei, a prefeitura promete colocar, nos próximos dias, 12 agentes municipais de trânsito nas ruas para multar os motoristas infratores. O Executivo explica que atrasou a fiscalização por causa de uma outra demora, a da municipalização de gestão do trânsito. Prevista para acontecer em setembro passado, ela só virou realidade neste mês.

Nas ruas. A reportagem de O TEMPO esteve na cidade e flagrou a imprudência de motoristas de caminhões que carregam toneladas de minério de ferro. Mesmo com várias placas espalhadas pela cidade, informando sobre a proibição, encontrar um caminhão ou mesmo um veículo leve com dejetos de minério não é difícil.

O auxiliar de laboratório Hilton Pereira Inácio, 33, conta que o decreto do ano passado havia trazido esperança para a população de que a sujeira iria diminuir, mas não foi o que aconteceu.
“Foi uma lei para inglês ver. Os caminhões continuam sujando as ruas. A foto da propaganda da cidade é linda, mas não é a realidade que vemos”, reclamou Inácio.

Para evitar passar por ruas de fluxo intenso, motoristas de caminhões criaram rotas alternativas que passam por dentro de bairros residenciais, próximos a escolas e a um centro de saúde. A ajudante de pedreiro Nilda Gonçalves, 41, estranhou quando os veículos pesados começaram a passar na rua onde mora. “Começou há dois meses, quando os motoristas deixaram de passar pelo bairro vizinho”. Com o peso dos veículos, o asfalto teve problemas: afundou de um lado da via e estufou do outro. “Fiquei com medo de afetar a minha casa”, disse o ajudante de pedreiro.

 

 

FISCALIZAÇÃO
Prefeitura joga a culpa na PM
A municipalização da gestão do trânsito em Congonhas chega como uma nova promessa para acabar com o excesso de poeira na cidade. Segundo a prefeitura, as duas leis municipais que tentam combater o problema não tiveram efeito prático porque a Polícia Militar não conseguiu fiscalizar o trânsito. 

“A polícia tem as preocupações dela sobre segurança pública, que ocupa muito tempo e trabalho, por isso não conseguimos implantar (a lei) da forma ideal”, afirmou o secretário municipal de Desenvolvimento Sustentável, Gabriel Scliar.

Semanas após o decreto de julho, a PM chegou a fazer blitze que resultaram em cerca de cem multas de agosto a outubro, mas a fiscalização efetiva parou por aí. “As blitzes diminuíram por falta de efetivo”, informou o diretor de trânsito de Congonhas, Sérgio Pires. Consultada, a Polícia Militar informou que nenhuma multa foi aplicada em 2012. “Nosso efetivo é suficiente, mas a lei é fiscalizada na medida do possível”, argumentou o tenente Cláudio Corrêa Armond, da 122ª Companhia.

Taxista há 20 anos na cidade, Fábio Marques afirmou que nunca viu fiscalização na cidade. “Ontem mesmo, eu vi um caminhão com 40 toneladas de minério passando na rua”, disse.

Mineradoras monitoram ar
Congonhas deve ter, até o meio do ano, um sistema de monitoramento do ar implementado pela prefeitura e financiado pelas mineradoras com sede nos arredores do município. A implantação do monitoramento irá se basear em um inventário da poeira, que deve ser entregue depois do Carnaval. 

O investimento é de R$ 1,5 milhão. “Não fazia sentido usar dinheiro do contribuinte para isso”, disse o secretário municipal de Desenvolvimento Sustentável, Gabriel Scliar.

http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=196413,OTE

Enviada por Gustavo Gazzinelli.

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