A vida matada e a mata, por Egon Heck

“Vocês não deixem esse lugar. Cuidem com coragem essa terra. Essa terra é nossa. Ninguém vai tirar vocês…Cuidem bem de minha neta e de todas as crianças. Essa terra deixo na tua mão (Valmir). Guaiviry já é terra indígena”. Nestes termos se expressou o nhanderu Nisio, baleado, agonizante. Isso foi relatado aos membros do Conselho da Aty Guasu, que foram levar apoio ao grupo e se inteirar do bárbaro ataque. Conforme o relato, três tiros foram disparados em Nisio – nas pernas, no peito e na cabeça. Além do corpo de Nisio, mais três crianças que estavam chorando ao seu redor, foram jogadas na carroceria de uma camionete.

Polícia Federal, Força Nacional e especialistas estiveram no local da execução brutal do nhanderu Nisio Gomes, no tekohá Guaiviary, no amanhecer do dia 18 de novembro. Sangue Guarani-Kaiowá no chão. Rastos do corpo arrastado. Apenas constatações. Um pequeno resto da mata testemunhou mais um assassinato de seus seculares guardadores.

Matam e destroem a mata com a mesma desenvoltura e certeza de impunidade há anos, décadas, séculos. A revolta da Mãe Terra e de seus filhos primeiros chegará. Como diz a canção em homenagem a Marçal Tupã’i: “Chegará o dia em que o alto preço dessa covardia será cobrada pelos Guarani”. (mais…)

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RJ – Manhã de homenagens na Praça XI pelo Dia da Consciência Negra

Cássia Valadão

Na Praça XI, Centro do Rio, este domingo 20, Dia da Consciência Negra, começou meio preguiçoso, mas logo o pessoal da capoeira, por volta das 7h, com seu gingado e canto, tratou de despertar os ainda adormecidos. Junto ao busto de Zumbi dos Palmares, ou melhor, um símbolo do guerreiro hoje homenageado, haja vista ser a imagem, na verdade, o rosto de um príncipe nigeriano, os capoeiristas criaram uma espécie de trilha sonora para a chegada das baianas e integrantes do afoxé Filhos de Ghandi.

Responsáveis pela lavagem do busto de Zumbi, os religiosos, conforme explicou a ekedi Maria Moura, além do tributo, pedem paz para a cidade do Rio e saúde para os cariocas: “Esta tradição veio da Bahia, do sincretismo religioso dos séculos XVII e XVIII. Os escravos se encontravam na Igreja de Conceição da Praia e seguiam até a Igreja do Senhor do Bonfim, onde promoviam a lavagem bastante conhecida, para adorar os deuses africanos. Eles levavam água de cheiro com alfazema e vassouras”. (mais…)

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O Quilombo dos Palmares

Por: Ivan Alves Filho*

Entre o final do século XVI e o início do século XVIII, o estado de Alagoas atual serviu de palco para uma verdadeira epopeia, encarnada pelos combatentes do Quilombo dos Palmares. Ao questionar toda uma estrutura que poderíamos denominar de igualitária, a qual prevalece até meados do século XVI, o colonialismo português abre a via para a sociedade de classes no Brasil: no lugar das roças indígenas, o latifúndio; no lugar dos homens livres, os escravos.

O Quilombo representa para os escravos negros, índios, mestiços e brancos pobres – para os que não tinham, enfim, vez nem voz na sociedade colonial – acima de tudo uma alternativa de vida. De uma vida sem perseguições nem espoliações. Contrastando com a penúria generalizada na Colônia, praticamente mergulhada na monocultura do açúcar, existia em Palmares um aparelho produtivo capaz de satisfazer não apenas as necessidades materiais dos membros da comunidade, como também gerar um excedente, negociado junto aos vilarejos coloniais vizinhos. (mais…)

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RJ – Único quilombo reconhecido na Baixada luta para sair do esquecimento

Dona Janaina Silvana Sardina , Rosiele Ribeiro junto com seus filhos no lugar onde Maria Conga ia lavar roupa Foto: Cléber Júnior / Extra
Aline Custódio
Margeando a linha férrea que cruza Magé, o único quilombo da Baixada Fluminense reconhecido pelo Ministério da Cultura ainda luta para sair do esquecimento. Apesar de homenagear a escrava guerreira que fundou um quilombo na cidade, o Maria Conga não tem motivos para comemorar, hoje, o Dia da Consciência Negra.

— Não temos água encanada, saneamento básico, escola ou asfalto. Em pleno século 21, continuamos num quilombo — desabafa o montador José Carlos Marinho da Conceição, de 50 anos, sintetizando uma ideia comum entre as 180 famílias do Maria Conga.

Tataraneta de Dona Candinha, moradora que conheceu a escrava Maria Conga, Michelle Franco, de 30 anos, lamenta que nem a importância histórica teve forças para fazer o bairro se desenvolver.

— Não adianta falarmos que estamos num lugar histórico, se falta tudo por aqui — diz Michelle. (mais…)

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Dia da Consciência Negra

Dia da Consciência NegraFrancisco Fernandes Ladeira*

20 de novembro é o Dia da Consciência Negra. A escolha da data não foi por acaso, remete à morte do mártir negro Zumbi, ocorrida em 1695.

Zumbi foi o último líder do Quilombo dos Palmares (localizado no atual estado de Alagoas). Os quilombos eram comunidades auto-sustentáveis para onde se dirigiam os escravos que fugiam do cativeiro. Além dos negros, minorias brancas e indígenas também formavam as comunidades quilombolas.

O Dia da Consciência Negra é uma data para lembrar a resistência dos cativos à escravidão e refletir sobre a atual situação dos negros em nossa sociedade.

Durante um período considerável imperou no pensamento intelectual brasileiro o paradigma da “democracia racial”, tese que partia do pressuposto de que as diferentes “raças” no Brasil conviveriam em relativa harmonia. (mais…)

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Dilma afirma que ‘pobreza no Brasil tem face negra e feminina’

SALVADOR – A presidente Dilma Rousseff disse neste sábado que “a pobreza no Brasil tem face negra e feminina”. Daí a necessidade de reforçar as políticas públicas de inclusão e as ações de saúde da mulher, destacou, ao encerrar, em Salvador, o Encontro Ibero-Americano de Alto Nível, em comemoração ao Ano Internacional dos Afrodescendentes. Em discurso, ela explicou por que as políticas de transferência de renda têm foco nas mulheres, e não nos homens: elas “são incapazes de receber os rendimentos e gastar no bar da esquina”. Dilma destacou que, nos últimos anos, inverteu-se uma situação que perdurava no país, quando negros, índios e pobres corriam atrás do Estado em busca de assistência. Agora, o Estado é que vai em busca dessas populações, declarou.

Dilma também definiu a “invisibilidade da pobreza e a miséria” como a herança mais marcante da escravidão. Segundo ela, atrelada a essa herança, veio a visão das “elites” de que o país poderia crescer “sem distribuir renda e incluir”. Nesse sentido, lembrou os programas inclusivos iniciados com a gestão do ex-presidente Lula e seu lema de que “pais rico é país sem pobreza”.

Segundo Dilma, os afrodescendentes são os que mais sofrem com o desemprego, a violência e a extrema pobreza. Por essa razão, disse que “reverter esse quadro é o objetivo da Carta de Salvador” e defendeu as políticas públicas de promoção e igualdade social. Ao explicar a necessidade de ações de combate à pobreza, a presidenta citou o Programa Brasil sem Miséria, cujo objetivo é retirar 16 milhões de pessoas da pobreza extrema. No discurso, ela destacou ainda a criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), em 2003, e a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, no ano passado, além da obrigatoriedade do ensino da história afrobrasileira nas escolas. (mais…)

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Crianças negras ainda são preteridas pelas famílias na hora da adoção

Amanda Cieglinski, Repórter da Agência Brasil

Brasília – Três anos após a criação do Cadastro Nacional de Adoção, as crianças negras ainda são preteridas por famílias que desejam adotar um filho. A adoção inter-racial continua sendo um tabu: das 26 mil famílias que aguardam na fila da adoção, mais de um terço aceita apenas crianças brancas. Enquanto isso, as crianças negras (pretas e pardas) são mais da metade das que estão aptas para serem adotadas e aguardam por uma família.

Apesar das campanhas promovidas por entidades e governos sobre a necessidade de se ampliar o perfil da criança procurada, o supervisor da 1ª Vara da Infância e Juventude do Distrito Federal, Walter Gomes, diz que houve pouco avanço. “O que verificamos no dia a dia é que as família continuam apresentando enorme resistência [à adoção de crianças negras]. A questão da cor ainda continua sendo um obstáculo de difícil desconstrução.”

Hoje no Distrito Federal há 51 crianças negras habilitadas para adoção, todas com mais de 5 anos. Entre as 410 famílias que aguardam na fila, apenas 17 admitem uma criança com esse perfil. Permanece o padrão que busca recém-nascidos de cor branca e sem irmãos. Segundo Gomes, o principal argumento das famílias para rejeitar a adoção de negros é a possibilidade de que eles venham a sofrer preconceito pela diferença da cor da pele. (mais…)

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RJ – Um drama sob o chão da cidade

Análise do Cemitério dos Pretos Novos destaca colossal dimensão da escravidão no Rio

Ana Lucia Azevedo

Sepultada por toneladas de terra e séculos de esquecimento, jaz no Centro antigo do Rio, uma dolorosa memória da escravidão. São os resquícios do Cemitério dos Pretos Novos, cimentados sob os bairros da Gamboa e da Saúde. Eles reaparecem aos poucos, em escavações, análises de ossos, dentes e objetos. Cada um deles revela um pouco mais de uma história que assombra pelas dimensões da crueldade e da ambição que trouxeram da África milhões de escravos para o Rio. Uma dessas análises foi concluída este ano e confirma a tese de que a cidade foi um dos maiores portos de entrada de escravos das Américas.

Pessoas escravizadas originárias de quase todas as partes da África chegavam ao Rio e daqui podiam ser levadas para o restante do país. Muitas não resistiam às condições desumanas da travessia do Atlântico ou do mercado de escravos do Rio e eram enterradas perto do porto. O termo enterro é, de fato, um eufemismo. Os corpos eram abandonados à decomposição ou queimados. (mais…)

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Pesquisa da PUC mostra que religiões afro-brasileiras no Rio são vítimas de intolerância

Isabela Vieira, Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro- Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) sobre religiões afro-brasileiras no estado do Rio comprova denúncias de intolerância religiosa. Dados preliminares do Mapeamento das Casas de Religiões de Matriz Africana no Rio de Janeiro, que identificou 847 templos, revelam que 451 – mais da metade – foram vítimas de algum tipo de ação que pode ser classificada como intolerância em razão da crença ou culto.

No estado com a maior proporção de praticantes de religiões afro-brasileira na população (1,61%), segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas com base no Censo 2010, a pesquisa da PUC-Rio identificou templos em 27 dos 92 municípios fluminenses. Embora não represente a totalidade das casas religiosas desse segmento no estado, de acordo com uma das coordenadoras, a professora Denise Fonseca, o mapeamento é o primeiro a tratar de casos de intolerância religiosa.

Encomendada pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), a pesquisa começou em 2008. Em fase de análise, indica que vaita o tipo de violência contra os templos. Segundo Denise Fonseca, a maioria dos casos relatados pelos entrevistados são “pequenas sabotagens”, mas também agressões. “Os relatos vão desde carros sendo multados por uma polícia que nunca entra em determinada comunidade nem de dia nem de noite- a não ser em dia de atividades religiosas – até a situação de pai de santo sendo espancado por praticantes de outras religiões”, disse. (mais…)

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Ataque a indígenas em Mato Grosso do Sul é tragédia anunciada, diz membro do CDDPH

Luciana Lima, Repórter da Agência Brasil

Brasília – O ataque ao acampamento indígena Tekoha Guaiviry, ocorrido ontem (18), no município de Amambai, em Mato Grosso do Sul, é tragédia anunciada, disse hoje (19) o vice-presidente do Conselho dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), Percílio de Souza Lima Neto. De acordo com o conselheiro, há muito tempo a região é palco de conflitos entre os interesses dos índios e das empresas de agronegócio.

“Toda violência contra comunidades indígenas em Mato Grosso do Sul já estava anunciada há longo tempo. Nós já constatamos que não há espaço para os interesses indígenas, e há uma crescente discriminação contra os integrantes dessa comunidade”, disse. Ele apontou a especulação pelas terras como principal motivo dos conflitos. O ataque pode ter levado à morte o líder dos Guarani Kaiowá, cacique Nísio Gomes, de 54 anos de idade, que, de acordo com relato dos índios, foi baleado e o corpo levado pelos pistoleiros.

O cacique ainda não foi encontrado, segundo o Ministério Público Federal (MPF), que confirmou o desaparecimento do chefe indígena. Há informações de que dois índios – uma mulher e um criança de 5 anos – também foram levados pelos pistoleiros. Os indígenas disseram que cerca de 40 homens encapuzados e armados invadiram o acampamento localizado entre Amambai e Ponta Porã. (mais…)

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