RJ – Manhã de homenagens na Praça XI pelo Dia da Consciência Negra

Cássia Valadão

Na Praça XI, Centro do Rio, este domingo 20, Dia da Consciência Negra, começou meio preguiçoso, mas logo o pessoal da capoeira, por volta das 7h, com seu gingado e canto, tratou de despertar os ainda adormecidos. Junto ao busto de Zumbi dos Palmares, ou melhor, um símbolo do guerreiro hoje homenageado, haja vista ser a imagem, na verdade, o rosto de um príncipe nigeriano, os capoeiristas criaram uma espécie de trilha sonora para a chegada das baianas e integrantes do afoxé Filhos de Ghandi.

Responsáveis pela lavagem do busto de Zumbi, os religiosos, conforme explicou a ekedi Maria Moura, além do tributo, pedem paz para a cidade do Rio e saúde para os cariocas: “Esta tradição veio da Bahia, do sincretismo religioso dos séculos XVII e XVIII. Os escravos se encontravam na Igreja de Conceição da Praia e seguiam até a Igreja do Senhor do Bonfim, onde promoviam a lavagem bastante conhecida, para adorar os deuses africanos. Eles levavam água de cheiro com alfazema e vassouras”.

Ainda segundo Maria Moura, Ihá Nasso, Ihá Deta e Ihá Calá teriam sido as três princesas que trouxeram as tradições africanas para a Bahia, onde fundaram os três primeiros terreiros, o Gantois, Apofonjá e Casa Branca. Já no Rio, a cultura africana teria desembarcado com Tia Ciata e as baianas da Praça XI, Carmem do Xibuco, Esmeralda e Mariquinha do Pandeiro.

A lavagem na Praça XI, todavia, teve início somente em 1986, com a chegada do busto – sendo o pedido atendido pelo então secretário Darcy Ribeiro -, uma das primeiras reivindicações do movimento negro, que desejavam ser representados na cidade pelo ícone de sua luta, morto em 20 de novembro de 1695.

O ritual, nesta manhã, foi realizado pouco antes das 10h, sendo antecedido por grupos de afoxé, como Imalê Ifé e Maxambomba, que prestaram suas homenagens. Todos juntos também rezaram por Carlinhos de Jesus, que agora sofre pela perda de um filho. A festa, coordenada pelo Conselho Estadual dos Direitos do Negro (Cedine), com apoio do governo do Estado, se estenderá por todo o dia, com apresentações de teatro, músicos e escolas de samba em palco montado no local.

Fotos: Diego Mendes

 

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