O Quilombo dos Palmares

Por: Ivan Alves Filho*

Entre o final do século XVI e o início do século XVIII, o estado de Alagoas atual serviu de palco para uma verdadeira epopeia, encarnada pelos combatentes do Quilombo dos Palmares. Ao questionar toda uma estrutura que poderíamos denominar de igualitária, a qual prevalece até meados do século XVI, o colonialismo português abre a via para a sociedade de classes no Brasil: no lugar das roças indígenas, o latifúndio; no lugar dos homens livres, os escravos.

O Quilombo representa para os escravos negros, índios, mestiços e brancos pobres – para os que não tinham, enfim, vez nem voz na sociedade colonial – acima de tudo uma alternativa de vida. De uma vida sem perseguições nem espoliações. Contrastando com a penúria generalizada na Colônia, praticamente mergulhada na monocultura do açúcar, existia em Palmares um aparelho produtivo capaz de satisfazer não apenas as necessidades materiais dos membros da comunidade, como também gerar um excedente, negociado junto aos vilarejos coloniais vizinhos.

Essa primeira tentativa concreta de superação da realidade colonial foi finalmente esmagada pelas forças portuguesas e pelas tropas arregimentadas pelos senhores de engenho e escravos de várias capitanias. Não obstante isso, a compreensão do que se passou nas florestas que se estendiam do cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, até o norte do curso inferior do rio São Francisco, em Alagoas, se revela de extrema importância: o Quilombo dos Palmares logrou construir uma comunidade conduzida com autonomia pelos ex-escravos e homens livres que ali nasceram.

Convém examinar, além das formas de organização material do Quilombo (trabalho livre, propriedade comunitária da terra), a complexa questão do território efetivamente controlado pelos quilombolas. Um território frequentemente invadido, depredado. Trata-se, na realidade, de uma sociedade acossada. Nesse contexto, as forças produtivas não têm como se expandir além das atividades de subsistência e se encontram, de fato, bloqueadas. Em Palmares, vigora uma forma social de produção algo coletivizada, cuja especificidade maior consiste em ser transitório e em servir de refúgio para os perseguidos e espoliados da sociedade oficial. A segurança e a sobrevivência, a guerra e o medo – eis os verdadeiros motores da comunidade palmarina.

* Ivan Alves Filho publicou, pela Fundação Astrojildo Pereira, Memorial dos Palmares.

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