Entrevista – Olmedo Carrasquilla: “Cada segundo que você perde é um segundo que as transnacionais têm”

Tatiana Félix, Jornalista da Adital

Em entrevista à ADITAL, o representante do Fórum Alternativo sobre Mudanças Climáticas, e integrante do Coletivo Vozes Ecológicas do Panamá, Olmedo Carrasquilla, fez um balanço sobre este evento que aconteceu na Universidade do Panamá, nos dias 1 e 2 de outubro. Ele ressaltou que um dos pontos altos desta mobilização foi a integração de diversos setores populares do país e o fortalecimento da solidariedade e organização entre os povos.

Ele enfatizou ainda a importância de se pensar o que é ser sócio-ambiental e o que é preciso mudar no atual sistema de desenvolvimento depredador para uma economia ecológica e sustentável. Para Olmedo, é importante que a população participe das tomadas de decisão e que se criem programas que possam ser executados por sociedade civil e governos, sem participação de instituições financeiras.

O Fórum Alternativo sobre Mudanças Climáticas aconteceu em paralelo à III Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontece entre os dias 1 e 7 de outubro também no Panamá, como uma etapa preparatória à Cúpula de Durban, que acontecerá a partir de 28 de novembro na África do Sul, quando serão negociadas, entre outras ações, medidas de redução da emissão de gases poluentes. Confira a entrevista.

ADITAL – Qual foi a importância de realizar este Fórum em paralelo à III Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas?

Olmedo Carrasquilla – O Fórum paralelo reuniu a distintas correntes, distintos grupos, distintas entidades do povo panamenho, que se sentiam muito excluídos dos debates. Outro ponto pelo qual nós realizamos este Fórum era pelo fato de dar maior relevância ao tema socioambiental no Panamá. O modelo de desenvolvimento depredador, através da mineração, represas, monocultivo são temas que são muito debatidos pelas comunidades.

O fato é que o governo panamenho não tem uma política de divulgação em matéria ambiental, não tem uma posição firme de qual é o erro que vai desempenhar essa Convenção e não tem – e muito menos – terá para aplicar política ambiental no Panamá. Por isso, decidimos que pela continuidade de executar grandes orçamentos a essa Convenção, nossa proposta é de que as instituições financeiras internacionais, como os governos, devem incluir a sociedade civil de todo o mundo, pela força viva da sociedade. E não apenas a organismos internacionais, portanto, lhe explico que um dos pontos disso é que se podem determinar programas que sejam executados pela sociedade civil e governo, mas não através do Banco Mundial e do BID.

Temos dito que a crise do clima não é apenas a crise do que estamos vivendo com os transtornos no ambiente, e sim que o que gerou essa crise foi o modelo de desenvolvimento imperante, hegemônico, depredador, de acumulação, que podemos resumir que é um modelo de caráter genocida.

Portanto, nós afirmamos que se acabem com este tipo de modelo de desenvolvimento, para implementar a economia ecológica, através de programas de consumo responsável, através de implementação ou de refortalecimento do que é o desenvolvimento sustentável, como as comunidades que vêm praticando tradicionalmente pela produção e que neste cenário vimos que tem uma violação flagrante na soberania ecológica, na soberania alimentar dos povos, pelo fato de industrializar a semente, industrializar o clima, industrializar tudo o que são recursos naturais.

Com este Fórum rompemos com a dinâmica monótona. Tanto dos que estão em negociações e tanto nos movimentos, em que já existe compromisso como ambientalistas de que não podemos por em jogo até a solução das mudanças climáticas. Neste espaço todos temos que desempenhar um papel muito importante sobre o que é ser socioambiental.

Nos perguntaram quem convocava este Fórum e nós respondemos: convocam o povo panamenho, convocam as mulheres, convocam os jovens, convocam os ecologistas, convocam os sindicalistas, convocam os profissionais, as organizações de base, povos originários. Por quê? Porque todos precisam se apropriar de conhecimento para ter reconhecimento de como é feito o marketing das transnacionais.

Então, temos que nos mobilizar todos os dias, e cada segundo que você perde é um segundo que as transnacionais têm.

ADITAL – Todos os objetivos foram alcançados em este Fórum Alternativo?

Olmedo Carrasquila – Claro, as vozes que estiveram presentes de todos os setores em nível nacional e internacional tiveram uma grande relevância. Já mencionei a parte da dinâmica; outro [ponto] que se está construindo é a solidariedade entre os povos. Está fortalecendo a experiência pessoal de um povo originário com o povo campesino. Está fortalecendo a aprendizagem de como plantar e como consumir responsavelmente.

Em matéria de política ambiental sobre mudanças climáticas se manifestou que se deve fortalecer realmente ao povo, para que tenhamos como organização, uma rede internacional e como movimento que entrou primeiro na comunicação, na mobilização e na discussão de um plano em matéria de economia ecológica.

ADITAL – Quais são as expectativas com a entrega da declaração?

Olmedo Carrasquilla – Ao momento de ventilar os principais pontos que nós começamos é que queríamos participação cidadã, e nos responderam que se necessita de uma creditação. Nós apresentamos nossa creditação dentro do período.

Porque como país anfitrião você tem que ter certa visibilidade aqui no Panamá e não foi assim. Muito se denunciou de que não existe uma agenda pública e que se existe uma agenda pública ou se tem uma agenda, melhor dito, não estava em castelhano e os povos originários que são as vítimas afetadas diretamente não têm esse grau de linguagem ou de compreensão para saber o que se está debatendo. Se ventilou durante todo o período que se vai manter vigilante e não apenas durante a Cúpula, mas por agora a negociação está parada, não está avançada.

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=61023

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