Rede indígena

Página virtual brasileira em língua indígena tem contribuído com o esforço de modernização e preservação do idioma kaingang, falado por cerca de 30 mil índios.

Rede indígena
Índios Kaingang navegam no ‘site’, feito totalmente em língua indígena. (foto: Equipe do Projeto Web Indígena)

Rafael Foltram, Ciência Hoje On-line/SP

 

Um site brasileiro totalmente escrito em idioma indígena vem se mostrando um grande aliado na luta contra o desaparecimento de línguas nativas do Brasil. A página virtual Kanhgág Jógo (em português, Teia Kaingang), lançada em 2008, está permitindo a modernização e manutenção do idioma tradicional da comunidade Kaingang, que, com seus cerca de 30 mil representantes em aldeias das regiões Sul e Sudeste, é uma das cinco maiores populações indígenas do país.

site é resultado do Projeto Web Indígena, coordenado pelo indigenista e linguista Wilmar da Rocha D’Angelis, do Instituto de Estudos de Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo o pesquisador, a iniciativa promove uma efetiva modernização do idioma indígena, à medida que estimula a criação de novos verbetes. A entrada no ambiente on-line fez com que surgissem, por exemplo, as palavras ‘login’ e ‘senha’ (respectivamente, jyjyis?p? em kaingang).

D’Angelis explica que essa modernização ocorre não apenas pelo fato de a internet ser um suporte tecnológico de ponta, mas também por oferecer um espaço para a ampliação do uso e da geração de conteúdo no idioma kaingang.

“As línguas que não se modernizam, isto é, que não atendem às necessidades reais e novas das populações que as falam, acabam suplantadas e substituídas pelas línguas majoritárias das sociedades ou comunidades dominantes”, alerta o linguista.

Tradições indígenas
Segundo o pesquisador responsável pelo Projeto Web Indígena, a inclusão digital não impede a manutenção das tradições culturais kaingang. (foto: Equipe do Projeto Web Indígena)

Mas, para o pesquisador, a grande contribuição da Teia Kaingang é fazer com que as novas gerações alimentem uma imagem positiva de sua língua ancestral. “O idioma indígena já não é visto (como vinha sendo por muitos) como algo dos ‘velhos’, usado só para falar (ou estudar) coisas do passado”, afirma.

Conteúdo colaborativo

A participação no site, hoje com cerca de 150 usuários cadastrados, é livre. Qualquer pessoa – indígena ou não – pode se cadastrar e contribuir, porém só são permitidas postagens integralmente no idioma kaingang. Uma das únicas palavras decifráveis aos falantes apenas de português é ‘vocabulário’, nome de uma seção que dá acesso a um dicionário kaingang-português que inclui a reprodução sonora de alguns verbetes.

Site Teia Kaingang
Página inicial do ‘site’ ‘Kanhgág Jógo’, escrito no idioma kaingang. (imagem: reprodução)

Os usuários cadastrados podem adicionar nomes (em um repositório de nomes indígenas kaingang, chamado Kanhgág Jyjy), notícias (Vãme), fotos (Kãgrá), vídeos (Kãgrá vogvo) e verbetes em uma enciclopédia livre, nos moldes da Wikipédia (no caso deles, V? ki ke p?). Pessoas com colaborações mais frequentes e envolvimento mais próximo com o projeto têm permissões mais amplas, como o direito de contribuir na seção ?mã kar, que reúne textos e imagens das aldeias Kaingang.

Para moderar o site, será constituído um grupo de seis gestores – todos indígenas Kaingang – com conhecimento razoável do software de código aberto usado para construir a página, chamado Drupal. “No momento, apenas um indígena integra esse grupo”, diz D’Angelis.

O processo de formação de gestores funciona também como uma estratégia de inclusão digital. A partir do conhecimento que obtêm nas oficinas, alguns jovens Kaingang estão estruturando outros sites em seu idioma, que devem ser lançados antes do fim do ano.

O Projeto Web Indígena é uma parceria entre o grupo de pesquisa de D’Angelis e a ONG Kamuri – Núcleo de Cultura, Educação, Etnodesenvolvimento e Ação Ambiental, de Campinas (SP), e tem apoio da empresa Chuva Inc., que hospeda gratuitamente o siteTeia Kaingang e dá suporte e consultoria à iniciativa.

http://cienciahoje.uol.com.br/blogues/bussola/2011/10/rede-indigena

 

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