Tania Pacheco
Há mortes e mortes, é óbvio. Naturais ou infringidas, rápidas ou lentas; físicas, emocionais ou cerebrais; morridas e matadas… Mas talvez uma das piores seja a morte imposta à nossa mente, aos nossos neurônios, à nossa emoção, inclusive, em decorrência de algo que poderíamos considerar como uma simples “perda de memória”. Só que não se trata, aqui, de memória perdida por doença ou acidente. Estamos falando da memória que é manipulada de forma a subverter e, em alguns casos, a chegar a apagar a História. Estamos falando da insidiosa ação da propaganda, utilizada de forma cada vez mais competente para nos tornar reféns das “verdades dominantes”, de modo praticamente inevitável.
Há semanas somos submetidos ao bombardeio ininterrupto do chamado “11 de setembro”. Na internet, na tevê, nos diferentes meios impressos. Os últimos momentos no celular de um, o bilhete de despedida rabiscado por outra, a respeitável dor das famílias e amigos, as imagens sempre impactantes dos aviões explodindo os dois símbolos da arrogância…
Todo o nosso respeito à dor e às mortes desse 11 de setembro de 2001. Mas é claro que não é dele que quero falar.
Quero falar, sim, de outro, que aconteceu há 38 anos. Quero falar de outro que, cada vez mais, está sendo literalmente deletado das nossas vidas. Quero falar daquele que a imprensa sequer menciona e que só aparece, como num texto da Carta Maior que postei há pouco, em termos de lembrança e comparação, o que não deixa de reforçar a importância do segundo em detrimento do primeiro. (mais…)