Especial 38 anos do 11 de setembro: um resgate e uma homenagem

Tania Pacheco

Há mortes e mortes, é óbvio. Naturais ou infringidas, rápidas ou lentas; físicas, emocionais ou cerebrais; morridas e matadas… Mas talvez uma das piores seja a morte imposta à nossa mente, aos nossos neurônios, à nossa emoção, inclusive, em decorrência de algo que poderíamos considerar como uma simples “perda de memória”. Só que não se trata, aqui, de memória perdida por doença ou acidente. Estamos falando da memória que é manipulada de forma a subverter e, em alguns casos, a chegar a apagar a História. Estamos falando da insidiosa ação da propaganda, utilizada de forma cada vez mais competente para nos tornar reféns das “verdades dominantes”, de modo praticamente inevitável.

Há semanas somos submetidos ao bombardeio ininterrupto do chamado “11 de setembro”. Na internet, na tevê, nos diferentes meios impressos. Os últimos momentos no celular de um, o bilhete de despedida rabiscado por outra, a respeitável dor das famílias e amigos, as imagens sempre impactantes dos aviões explodindo os dois símbolos da arrogância…

Todo o nosso respeito à dor e às mortes desse 11 de setembro de 2001. Mas é claro que não é dele que quero falar.

Quero falar, sim, de outro, que aconteceu há 38 anos. Quero falar de outro que, cada vez mais, está sendo literalmente deletado das nossas vidas. Quero falar daquele que a imprensa sequer menciona e que só aparece, como num texto da Carta Maior que postei há pouco, em termos de lembrança e comparação, o que não deixa de reforçar a importância do segundo em detrimento do primeiro.

Tinha, nesse sentido, decidido que iria pensar em alguma coisa especial para colocar no Blog amanhã. E comecei inclusive a preparar algo, que postarei em seguida. Mas o que me fez repensar a homenagem/lembrança que pretendia fazer foi algo fortuito mas profundamente revelador. Descobri que para algumas pessoas amigas, que trabalham comigo, inclusive, e que respeito politicamente, o 11 de setembro era um só: o dos seus 20 anos, que há dez anos vem sendo repetido e repisado, até se transformar no real, no verdadeiro, no único!

O golpe no Chile, a morte de Allende, o então Estádio Nacional durante dias transformado num dos centros de tortura, o assassinato de tantos e tantas não tinham mais direito à data! O 11 de setembro de 1973 deixara de existir para essas pessoas, enquanto um dia histórico e específico (embora os fatos nele acontecidos ainda se mantivessem, mas como uma fotografia antiga, sem data, que foi amarelecendo e em pouco tempo ficaremos em dúvida se vale continuar a guardar).

Amanhã, mais que nunca, jornais, revistas e tudo o mais estarão no seu ponto máximo vomitando as torres gêmeas sobre as nossas cabeças. O Fantástico, até onde sei, será totalmente (ou parcialmente, não faz muita diferença) dedicado às “vítimas do terrorismo”…

Pois aqui vai a minha pequena mas indignada tentativa de oferecer a algumas pessoas outras chances quanto ao que ler, ouvir e ver. De de alguma forma me reencontrar com outras. E, acima de tudo, de poder escrever, tomando simbolicamente um por todos e todas: Companheiro Victor Jara? Presente!

Comments (1)

  1. Presente … só assim, só aqui, para responder a este ato que reclama o pensar, o estar presente, não se submeter ao manto da arrogância que a todos e em tudo encobrir.
    Parabens pelo Especial 38 Anos

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