Campanha contra os agrotóxicos promove primeiro debate no Rio

A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida organizou o primeiro debate no Rio de Janeiro.

O evento aconteceu na UERJ e teve como expositores Nivia Regina, do MST, Marcelo Firpo, da Fiocruz, e Gabriel Fernandes, da AS-PTA, na semana passada.

Apesar da campanha já ter participado de outros eventos no estado do Rio, este foi o primeiro organizado pelo comitê fluminense.

O tom do debate foi de formação da militância. Reconhecendo a complexidade do debate, os integrantes da mesa se esforçaram em fornecer dados e argumentos concretos que mostrassem o avanço do agronegócio sobre a agricultura familiar, o lucro estratosférico das empresas produtoras de agrotóxicos e a viabilidade da produção agroecológica como alternativa no fornecimento de alimentos.

A primeira fala foi de Nivia Regina (MST), que se deteve na análise do dados do Censo Agropecuário de 2006. Através da riqueza dos números, mostrou porque os agrotóxicos são a base do agronegócio, e deixou clara a correlação entre agronegócio, trabalho escravo, violência no campo, desmatamento e uso de agrotóxicos. Por fim, defendeu a agricultura familiar, que ao contrário do agronegócio, tem o foco na produção de alimentos, usa pouco ou nenhum agrotóxico, gera mais empregos e defende as florestas.

Em seguida, Marcelo Firpo centrou-se na discussão sobre as conflitos e injustiças ambientais, citando os grandes empreendimentos (agronegócio, mineração, hidrelétricas) que infernizam a vida de comunidades camponesas, ribeirinhas, quilombolas e indígenas. Sua pesquisa resultou no Mapa da Injustiça Ambiental. Firpo remontou ainda à história da indústria dos agrotóxicos, que teve início nos experimentos com armas químicas na primeira guerra mundial. Segundo ele, “o Brasil representa hoje 16% do consumo mundial de agrotóxicos, e o mercado cresceu aqui 4 vezes mais do que no resto do mundo, nos últimos 9 anos.”

O pesquisador da Fiocruz finalizou sua fala defendendo o conceito do Sumak Kawsay: “Em oposição à lógica do capitalismo neoliberal que propõe “viver melhor” com mais mercadorias que ameaçam o equilíbrio ecológico e social, o conceito do “sumak kawsay” propõe repartir os bens para que todos possam ‘viver bem’. A vida humana de todos em harmonia com a natureza é o eixo central dessa proposta”.

Depois de listados os inúmeros problemas causados pelos agrotóxicos e pelo modelo de desenvolvimento que o cerca, Gabriel Fernandes (AS-PTA) tinha a gloriosa tarefa de apresentar as alternativas a este modelo de destruição da vida.

E logo no começo, impressionou a plateia ao mostrar um gráfico onde se via uma altíssima correlação entre o preço do petróleo e o preço dos alimentos. E dado que a matéria-prima dos agrotóxicos e fertilizantes é o petróleo, e que seu preço só tende a aumentar com a proximidade do fim das reservas mundiais… a alternativa é urgente!

Os dados que comparavam a composição de renda de produção agroecológico e de monocultivo mostraram claramente benefícios ao produtor. A diversidade dos produtos faz com que o agricultor não fique dependente de um único cultivo, que pode ter baixa no preço ou queda de safra. E o mais impactante: o custo de insumos em uma roça agroecológica beira zero! Mesmo com uma renda bruta menor que a do monocultivo, o produtor agroecológico sai ganhando pois os insumos vem justamente dos seus resíduos, num ciclo virtusoso que recupera o solo e a água, e é quase auto-suficiente.

No debate final, foram esclarecidas dúvidas e feitas as considerações da plateia e dos palestrantes. Por fim, ficou a sensação de que o assunto é complexo, e portanto faz-se necessária uma formação profunda da militância. As informações obtidas são instrumentos poderosos para combater argumentos do senso comum, sobretudo aquele que diz que “o mundo vai morrer de fome sem agrotóxicos e transgênicos”.

Sem dúvida, o mundo hoje já morre de fome e de doenças causadas pelos agrotóxicos e transgênicos. E a solução obrigatoriamente passa por uma agricultura mais justa, soberana e saudável para agricultores e consumidores.

 

http://www.mst.org.br/node/11987

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