Especulação imobiliária em Parajuru, CE: relato de quem acompanha o caso

Walber Nogueira da Silva*

Nos últimos anos têm crescido assustadoramente o número de estrangeiros – notadamente europeus – que investem em terras no litoral do nordeste brasileiro. Até aí, tudo bem, já que, para o capitalismo, dinheiro não tem nacionalidade. O problema é que a maioria destes “investimentos” são feitos loteando praias (portanto, terras da União), reservas ambientais, provocando danos ao meio ambiente e descaracterizando as comunidades que tradicionalmente ocupam estes espaços e sua cultura.

É o que está acontecendo em Parajuru. Há cerca de seis anos, um grupo austríaco começou a comprar terras nesta praia localizada no município de Beberibe, distante cerca de 120km de Fortaleza, para construir um complexo hoteleiro. Com claras intenções especulativas, a própria líder do grupo, Gisela Wisniewski, admite ter comprado terras por 50 centavos de euro o metro quadrado, terras estas que hoje valem 15 euros, mas podem atingir até 100 euros!

Esta compra desenfreada de terras com vistas à especulação imobiliária desagradou grande parte da comunidade. Para tentar reverter a situação, o grupo austríaco (que tem o sugestivo nome de Estrela do Mar) criou projetos sociais através do quais são oferecidos cursos de línguas e hotelaria para jovens da comunidade. Os participantes dos programas pagam pelo ensino com o próprio trabalho, servindo de mão-de-obra barata aos hotéis do grupo. A tática deu certo e hoje a comunidade se divide entre os que criticam o grupo, questionando seus métodos de atuação e expansão, e os que o apóiam.

Dentre os empreendimentos do grupo está a barraca de praia Paraíso do Sol (outro nome sugestivo), que funciona como uma escola de kitesurf. Ocorre que a barraca está situada em uma área de preservação permanente. O Ministério Público Federal entrou com uma ação civil pública questionando a obra, já que a barraca não tem licença ambiental emitida pelo órgão ambiental competente para funcionar e por estar situada em terreno de marinha.

Toda esta situação foi denunciada pelo cineasta espanhol José Huerta, que produziu e dirigiu o documentário Uma Semana em Parajuru. Devido a esta denúncia, o grupo austríaco moveu contra Huerta nada menos que oito processos, que ainda estão em tramitação na comarca de Beberibe.

Recentemente, veio a público a notícia do escândalo financeiro Buwog-Affare, envolvendo o governo austríaco. O pivô do escândalo é Peter Hochegger, primo e sócio de Gisela Wisniewski no grupo Estrela do Mar. Hochegger entrou no empreendimento em 2006 com parte do dinheiro obtido do escândalo. No Ceará, de acordo com a imprensa austríaca, Hochegger seria proprietário de 45 hectares de terrenos na área de praia em Parajuru. No escândalo, ele teria obtido cerca de 10 milhões de euros (R$ 22,5 milhões).

*Membro da RENAP-CE

http://www.portaldomar.org.br/blog/portaldomar-blog/categoria/efetivando-direitos/especulacao-imobiliaria-em-parajuru-relato-de-quem-acompanha-o-caso

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