“Como explicar ao morador de outras regiões que 500 mil estudantes estão há mais de um mês sem aula porque professores do GDF estão insatisfeitos com salários iniciais, sem curso superior, de R$ 3,5 mil?”, indaga Silvio Ribas
Os sucessivos episódios tristes envolvendo greves no serviço público convidam todo o Brasil a uma reflexão. Como sugere o nome, servidores têm a nobre missão de servir ao público, zelar pela dignidade e pelo bem-estar de quase 200 milhões de brasileiros. Contudo, excessos do corporativismo em áreas essenciais como saúde, Educação e segurança colocam em xeque a credibilidade dos contratados para cuidar de gente. E a maioria dos cidadãos, que quase não tem alternativa aos serviços do Estado, sofre com impasses entre gestores com mandato político e agentes estáveis da máquina pública.
Todos os trabalhadores precisam defender os seus sagrados direitos, mas há protestos que os podem desonrar, levar a fatos intoleráveis e estimular o caos. Tais situações ocorrem com mais destaque no Distrito Federal, onde serviços públicos gozam, na média, dos melhores salários e recursos de custeio.
Como explicar ao morador de outras regiões que 500 mil estudantes estão há mais de um mês sem aula porque professores do GDF estão insatisfeitos com salários iniciais, sem curso superior, de R$ 3,5 mil? É óbvio que todos os educadores deveriam ganhar mais. Mas a indignação não explica crianças pobres sozinhas em casa, sem merenda e expostas a riscos. Como se não bastasse, ainda há retrato pior nesta unidade da Federação: a tropa policial mais bem paga do país debochando da explosão de violência.
Se persistir nessa trilha amarga, o servidor mata o profissionalismo e favorece seu maior pesadelo — a terceirização. O atual avanço da classe média tornou a população consciente da pesada carga tributária, semelhante à de nações servidas pelo mais generoso serviço público. O povo cobra qualidade e não vai se solidarizar com ações que o coloca como refém de interesses privados.
Quando um operário cruza braços tira lucros de empresa privada. Quando um soldado faz corpo mole, um agente de saúde ignora o paciente e um professor abandona seu aluno são vidas e futuros em jogo. Os servidores deveriam ser a face humana do Estado que tem no cidadão seu cliente e patrão. É hora de fixar regras para serviços movidos a dinheiro do público. Como ensinou o grande líder sindical Lula, longas greves com salário não são lutas, mas férias.
Enviada por José Carlos.
Fonte: Correio Braziliense (DF)
http://todospelaeducacao.org.