Representantes da comunidade quilombola de “Luízes” defenderam, em reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que um laudo antropológico aponta que o terreno localizado no bairro Grajaú, em Belo Horizonte, onde a construtora Patrimar realiza um empreendimento imobiliário, é de propriedade daquele grupo étnico. O anúncio foi feito durante a audiência pública na última quarta-feira (19/10/11), que discutiu a suposta irregularidade no uso do terreno pela empreiteira.
Segundo o coordenador do Serviço de Regularização de Territórios Quilombolas da Superintendência Regional do Incra, Antônio Carlos da Silva, o Incra concluiu o Relatório de Identificação e Delimitação do local, que faz parte do processo de regularização da terra. Neste documento, consta o laudo antropológico, produzido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em sua fala, ele explicou que foram incluídos no estudo do terreno diversos prédios e casa de alto valor imobiliário. “Queremos agendar uma reunião com a comunidade e com os representantes do Poder Judiciário, para que possamos definir a delimitação da terra e avançar o processo”, disse.
O deputado Durval Ângelo (PT), autor do requerimento que motivou o debate, cobrou agilidade do órgão, tendo em vista que existem ainda outras 350 comunidades quilombolas no Estado sem a regularização da suas terras.
Guerra de liminares prejudica a comunidade
Miriam Aprígio Pereira, integrante do Conselho de Promoção da Igualdade Racial do Quilombo dos Luízes, lembrou que uma liminar da Justiça Federal teria paralisado a obra da Patrimar durante mais de 30 dias, mas teria sido derrubada posteriormente. “Eles retomaram os trabalhos e, hoje, há tanto concreto que é difícil imaginarmos uma solução para o problema”, lamentou. Ainda em sua fala, ela destacou que o terreno foi adquirido pelos seus familiares em 1893 e que está incluído na categoria de aglomerado étnico. “Nossa terra foi invadida pela construtura, que mantém policiais e vigias armados. Não tivemos sequer o direito de dialogar com eles sobre a propriedade do terreno”, denunciou.
A representante da Procuradoria Regional do Direito do Cidadão do Ministério Público Federal, Silmara Goulart, disse que o órgão irá entrar com recurso para paralisar novamente as obras até que o Incra conclua a regularização. De acordo com ela, caso fique comprovada a propriedade da terra aos quilombolas, a União terá que indenizar todos os futuros moradores do empreendimento realizado pela Patrimar. “O Incra não tem como finalizar seu trabalho em curto prazo, portanto o Poder Judiciário precisa analisar a questão com a complexidade que o caso exige”, cobrou. Para ela, há um conflito de interesses entre a comunidade, que tem o direito antropológico, e a construtora, que tem liminares a seu favor.
Contradição – A defensora pública da União Ilcelena de Souza Queiroz afirmou que as liminares da Justiça foram contraditórias, tendo em vista que a primeira decidiu pela paralisação da obra até a propriedade terra fosse definida, mas a posterior autorizou a continuidade do trabalho da Patrimar. Ela acredita que a comunidade dos Luízes tem o justo título do terreno, portanto deve-se chegar a um acordo para a suspensão das obras até que o Incra encerre o trabalho de regularização da terra.
Patrimar defende decisão judicial
O advogado da construtora Patrimar Engenharia, Argemiro Borges Cardoso, acredita que o Poder Judiciário tem a prerrogativa de aplicar a lei seja em benefício de quem for. Segundo ele, quando a liminar que paralisava a obra foi emitida, a empresa suspendeu seus trabalhos imediatamente, e só retomou as atividades porque a mesma Justiça autorizou. “Procuramos a comunidade espontaneamente para mostrar que não somos levianos ou inimigos de ninguém. Acredito que possamos chegar a um acordo que não prejudique nem os quilombolas nem a empresa”, ponderou. Nesse sentido, ele sugeriu que uma compensação de terras possa ser a solução.
Ao final, o deputado Luiz Carlos Miranda (PDT) disse que o mais importante é que a lei seja cumprida e que os verdadeiros proprietários da terra recebam o direito de posse.
Providências – Após os debates, foi aprovado um requerimento do deputado Durval Ângelo para que sejam solicitadas providências e enviadas as notas taquigráficas da reunião à Defensoria Pública da União, ao Ministério Público Federal, ao Incra, à Prefeitura de Belo Horizonte, à Secretaria Nacional da Igualdade Racial, à Secretaria Nacional de Direitos Humano e à Presidência da República.
A comissão também aprovou proposições. Consulte o resultado completo da reunião.
Enviada por Ricardo Álvares.
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