Perseguição étnica em Humaitá: depoimento exclusivo de liderança indígena a Ninja explica crescente onda de violência na região amazônica

Funai incendiada Humaitá

Por Cley Medeiros na Midia NINJA

Foto: Raolin Magalhães

“Já são muitos anos de convivência com os brancos, não nos interessa criar inimigos.. Agora depois destes incidentes todos, nós indígenas estamos preocupados com nosso futuro. A dificuldade dos órgãos para investigar o caso gerou esta revolta contra nosso povo, e nos colocou numa situação de culpados por algo que ninguém sabe o que de fato aconteceu.”

O depoimento de Ivanildo Tenharim, líder indígena da aldeia Tenharim no Amazonas, relata os acontecimentos dos últimos dias na cidade de Humaitá, nos quais cerca de 3.000 não-indígenas incendiaram o prédio da Funai e Funasa, além de 11 carros da instituição e embarcações.

O início da recente perseguição aos Indígenas teria sido uma resposta ao desaparecimento de três homens ocorrido no dia 16 de dezembro na BR 230 Transamazônica, que passa dentro da Terra Indígena Tenharim, e abrange os municípios de Humaitá, Apuí e Manicoré. A Polícia Federal de Rondônia informou que uma equipe se deslocou no dia 19 de dezembro para região a fim de localizar os desaparecidos, mas não tiveram êxito na busca. Até o momento nenhuma evidência foi encontrada.

REFUGIADOS

Mais de 140 índios, incluindo crianças e mulheres, continuam refugiados dentro do quartel do 54° Batalhão de Infantaria de Selva (BIS) do Exército em Humaitá. O isolamento é uma medida de segurança, já que as ameaças contra indígenas que moram na cidade estão aumentando.

Ivaneide Bandeira, coordenadora da ONG Kanindé, que trabalha com etnias do sul do Amazonas, relata que entre refugiados está uma índia Juma, que pertence a um grupo isolado. “Um indígena juma está protegida no quartel com medo. Tem mulheres e crianças na mesma situação. Isso só aconteceu porque o governo não tomou uma atitude no momento certo. Agora estão incitando a discriminação e o ódio contra os índios”, afirma.

“Desde que recebemos notícia do desaparecimento destas pessoas, preocupados com o que iria sobrar para nosso Povo Tenharim devido a morte do cacique Ivan, procuramos a Polícia Federal para investigar o caso, foram até o quilômetro 85 e não identificaram nada dos desaparecidos.” Continua Ivanildo: “Pedimos que seja apurado com urgência esta situação para que possamos voltar a ter Paz em Humaitá e nas nossas aldeias, porque o clima é tenso, e estamos exilados aqui no quartel e nossos parentes nas aldeias sem condições de ir e vir, porque correm sérios riscos”.

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