Eles participarão de dois rituais na tribo {SIC]; Funai deve fazer escolta dos presos. Uma das festas escolhe sucessor de cacique cuja morte [provável assassinato] pode ter motivado homicídios [cuja autoria, como diz a matéria, não foi comprovada nem julgada]
Por Adneison Severiano, no G1 AM
A Justiça do Amazonas autorizou dois dos cinco índios da etnia Tenharim, que estão presos pela suspeita do assassinato de três homens em Humaitá, a participarem de duas festas indígenas. Os índios integram o grupo apontado como autor do triplo homicídio na Rodovia Transamazônica (BR-230), em dezembro de 2013.
Os índios Tenharim foram presos no dia 30 de janeiro deste ano e desde setembro eram mantidos detidos na delegacia de Lábrea, 702 km de distância de Manaus. Nesta terça-feira (4), foi determinado que eles deverão ser transferidos para a base Hi-Merimã da Fundação Nacional do Índio (Funai). A base fica em área de difícil acesso na região de Lábrea.
O magistrado explicou que ausência dos representantes nas festas é considerada prejudicial às tradições da etnia. “Na Mbodawa é renovada a proteção espiritual de todo o povo. Quando não é realizada essa festa, eles entendem que os integrantes daquela nação indígena ficam com os espíritos desprotegidos e podem ser castigados espiritualmente. Essa festa é muito importante para o povo indígena e por isso autorizei”, justificou o juiz.
Ainda foi autorizada a liberação de dois índios para o ritual que define a escolha do sucessor do cacique Ivan Tenharim, que foi encontrado morto no dia 2 de dezembro de 2013. Entre os presos, dois são filhos do líder indígena morto. “Também autorizei que eles participem da festa de sucessão do cacique morto. Eles serão escoltados pela Funai. Sempre tem o risco deles fugirem, mas não temos como deixar eles não participarem das festas. Há um prejuízo muito grande para cultura deles”, comentou o juiz Jeferson Galvão.
As duas cerimônias religiosas indígenas devem ocorrer ainda neste mês de novembro, na reserva indígena Tenharim, situada em Humaitá.
Entenda o caso
O vendedor Luciano Freire, o professor Stef Pinheiro de Souza e o funcionário da Eletrobras Amazonas Energia Aldeney Salvador desapareceram no dia 16 de dezembro de 2013. As investigações apontam que as três vítimas foram assassinadas a tiros no dia 16 de dezembro de 2013, ainda dentro do veículo no qual seguiam em viagem pela Rodovia Transamazônica (BR-230) com destino ao município de Apuí. Conforme a denúncia, os corpos foram ocultados e encontrados durante uma operação de buscas pela área da Transamazônica somente no dia 3 de fevereiro de 2014.
A suspeita é de que os crimes tenham sido resposta à morte do cacique Ivan Tenharim. No inquérito, de acordo com o representante das famílias das vítimas, consta que os assassinatos foram definidos em uma pajelança – ritual místico realizado por um pajé indígena. A defesa dos índios presos apontou supostas fragilidades da investigação desempenhada pela Superintendência da Polícia Federal em Rondônia. Os advogados dos indígenas alegam que as ameaças de morte supostamente recebidas por uma das vítimas não teriam sido apuradas.