O Juiz e a farinha do Uarini, por José Ribamar Bessa Freire

Beco, Dile 2(1)

Em Taqui Pra Ti

“Por favor, pare agora, senhor Juiz, pare agora”
Wanderlea

Quando tomei conhecimento da lambança do juiz que foi flagrado numa blitz no Rio dirigindo sem habilitação um carro sem placa e sem registro de licenciamento, telefonei para minhas irmãs em Manaus. São elas as narradoras oniscientes que me abastecem com as histórias do Bairro de Aparecida, em cujos becos cabe todo o universo. Tudo o que acontece e ainda vai acontecer no planeta, já ocorreu no Beco da Bosta, onde se vive um tempo mítico. O Beco contém o mundo e o infinito. Essa é que é a verdade.

– Maninha, como é o nome do teu ex-vizinho, marido da dona Albertina, que mandou prender a Leonor por causa da farinha do Uarini?

– “Cachorrão” era o apelido. Já morreu faz tempo. Esqueci o nome dele, mas da história eu lembro – me disse a Dile.

Consultei as outras irmãs. Nada. Nenhuma delas – são 9 – sabia o nome do “Cachorrão”. Nem a Helena que tem memória de elefante. O cara era tão bostífero, mas tão bostífero que elas apagaram seu nome da memória. Nos anos 1950, ele serviu o Exército aquartelado no 27° Batalhão de Caçadores, hoje prédio do Colégio Militar. Lá dentro era um reles soldado e se borrava todo diante do grito do sargento, mas lá fora se sentia “o general”, berrava e mugia, humilhava e agredia mulher, filhos e vizinhos civis. (mais…)

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Vai difamar alguém nas redes sociais? Leia isto antes, por Leonardo Sakamoto

No Blog do Sakamoto

Passado o pleito, as timelines continuam coalhadas de maluquices, baboseiras, teorias conspiratórias, cascatas, invencionices e demais mimimis de causar vergonha alheia ao mais incapaz dos comediantes. Temendo pela sanidade mental coletiva diante da miríade de mentecaptos, sejam os mercenários pagos por partidos ou empresas, seja os otários que fazem isso por conta própria e gratuita, resolvi atualizar e trazer novamente os “Dez Mandamentos para Divulgar Notícias no Facebook e Twitter”.

Qualquer ameba com problemas cognitivos sabe que redes sociais são fundamentais para mobilização social neste nosso admirável mundo novo. Mas, ao mesmo tempo, são terreno fértil para cultivar boatos. Muita coisa fake tem corrido a rede loucamente, criando medo. Reputações nascem e morrem e tem sempre um pilantra distorcendo na esquina digital mais próxima – seja visando a um objetivo pessoal ou de seu grupo ou inconscientemente misturando realidade e desejo.

O desmentido (por ser mais sem graça) não chega tão longe quando a denúncia. Então, comportem-se. Se não for pelo entendimento de que viver em sociedade requer alguns cuidados com o outro, que seja, pelo menos, pela culpa incutida por anos dentro de vocês – o famoso “Olha que Deus tá vendo”.

E antes que reclamem, o que alguns chamariam de “censura”, neste caso, eu batizo de “bom senso”. Coisa que está em falta no mercado, onde a dignidade alheia vale muito pouco… (mais…)

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“Las razas biológicas nunca existieron”

myth of race

 

“Las razas biológicas no existen y nunca existieron”, sostiene en su libro ‘El mito de raza’ el antropólogo estadounidense Robert Sussman, para el que la idea de la raza no se basa en una realidad científica.

RT/Servindi

Sussman explora en su libro cómo surgió la idea de la raza, venenosa y falsa según él, y cómo se convirtió en una construcción social de las justificaciones bíblicas y los estudios pseudocientíficos.

En su libro el antropólogo rastrea los orígenes de la ideología racista moderna hasta la Inquisición española, llegando a la conclusión de que las teorías de la degeneración racial del siglo XVI se convirtieron en una justificación crucial para el imperialismo occidental y la esclavitud. (mais…)

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Revista ‘CUT com Raça’ traz debate sobre preconceito contra população negra

Publicação é resultado da campanha permanente ‘Basta de racismo no trabalho e na vida’
Publicação é resultado da campanha permanente ‘Basta de racismo no trabalho e na vida’. Foto: Dino Santos

Publicação pretende ser um instrumento de informação, partindo do princípio de que o Brasil, segundo o presidente da central, Vagner Freitas, é um país ‘racista, preconceituoso, desumano e desigual’

Por Tiago Pereira, em Rede Brasil Atual

São Paulo – A Central Única dos Trabalhadores lançou a revista CUT com Raça na quarta-feira (12), em evento na capital paulista que reuniu representantes dos movimentos sindical e negro. A publicação é parte da campanha permanente ‘Basta de racismo no trabalho e na vida’, ação da Secretária Nacional de Combate ao Racismo da Central, e também faz parte do calendário da CUT para o Mês da Consciência Negra. A revista foi produzida em parceria com a Fundação Friedrich Ebert, entidade alemã que desenvolve programas de cooperação para a promoção do desenvolvimento e da democracia.

“Os conteúdos foram pensados para ser trabalhados do ponto de vista da ação cotidiana de combate ao racismo, como informação e formação”, disse Maria Julia Nogueira, secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT, ao reafirmar a necessidade de promover essa discussão no dia a dia da classe trabalhadora.

O evento, que foi mediado pelo secretário-geral nacional da CUT, Sérgio Nobre, foi aberto pelo presidente da Central, Vagner Freitas. O dirigente destacou que qualquer discussão referente ao tema deve partir da constatação de que “o Brasil é um país racista, preconceituoso, desumano, desigual, injusto com as minorias”. Para Vagner, a revista CUT com Raça é importante porque mostrará que o país “tem várias facetas e várias caras, e não só aquelas que nos apresentam”. (mais…)

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Loja da BMW acusada de racismo é condenada no Rio de Janeiro

Indignados, Ronald e Priscilla processaram a BMW Autokraft que foi condenada. Foto: Divulgação
Indignados, Ronald e Priscilla processaram a BMW Autokraft que foi condenada. Foto: Divulgação

G1/Correio do Estado

Quase dois anos depois, chegou ao fim o processo contra a concessionária da BMW Autokraft, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, que foi condenada por danos morais após um casal denunciar que o filho adotivo foi vítima de racismo dentro do estabelecimento. A história foi revelada pelo G1 em janeiro de 2013.

No dia 12 de janeiro de 2013, Ronald Munk e Priscilla Celeste – pais de cinco filhos – foram à loja acompanhados do caçula, de 7 anos, que é negro e adotado, em busca de um automóvel novo para família. Enquanto conversavam com o gerente de vendas sobre os carros, eles  foram surpreendidos com uma atitude preconceituosa de um funcionário quando a criança se aproximou dos três.

De acordo com Priscilla, o gerente, sem se dar conta de que o menino era filho do casal, disse para a criança: “Você não pode ficar aqui dentro. Aqui não é lugar para você. Saia da loja. Eles pedem dinheiro e incomodam os clientes”. Imediatamente, Ronald e Priscilla foram embora da loja levando o menino.

O caso teve repercussão na imprensa internacional. Na época, o BMW Group enviou uma nota ao G1 em que pedia desculpas ao casal. A concessionária, na ocasião, também enviou um email também se desculpando pelo ocorrido nas dependências da loja, mas tratou o caso como um “mal-entendido”. O termo levou o casal a criar uma página no Facebook:“Preconceito racial não é mal-entendido”, que, atualmente, tem mais de 113 mil seguidores. (mais…)

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Histórias de Admirar: Os Kinikinau, por Giovani José da Silva* 

Desenho Kinikinau, de autoria de João Moreira Anastácio
Desenho Kinikinau, de autoria de João Moreira Anastácio

Em O Pantaneiro

Era julho de 1997 e eu estava indo pela primeira vez visitar a Reserva Indígena Kadiwéu, a pedido da então prefeita de Porto Murtinho, Myrian dos Santos, acompanhado pela Secretária de Saúde, Estela Márcia Rondina Escandola (na época tinha no sobrenome “Reis”, se bem me lembro) e por um rapaz cujo nome militar era De Pinho. Juntos, os três em uma velha Toyota, cruzamos as estradas de terra que interligavam fazendas e aldeias daquele extenso município, enfrentando muita chuva e certo desconforto.

A primeira aldeia a ser visitada foi a São João, distante uns oitenta quilômetros da cidade Bonito e habitada por índios de distintas etnias. Enquanto Estela Márcia tratava dos assuntos da Saúde, eu deveria realizar reuniões com cada comunidade (na época eram cinco aldeias no interior da Reserva: Barro Preto, Bodoquena, Campina, São João e Tomázia) sobre a Educação Escolar que desejavam para as crianças e os jovens indígenas.

Lembro-me que na primeira reunião, em que eu estava diante de cerca de duzentas pessoas, iniciei minha fala referindo-me à importância de se ter uma educação específica e que no caso daquela aldeia deveria ser uma escola voltada para os interesses dos Kadiwéu. Foi quando vi um ar de reprovação nos rostos daqueles homens e mulheres indígenas e percebi que estava diante de uma maioria que não se reconhecia Kadiwéu, embora vivessem dentro da Reserva Kadiwéu. Retomei minha fala, depois de certa hesitação, e perguntei, então, se por acaso eles seriam Terena ou de outra etnia. Um silêncio tomou conta da plateia e, timidamente, um senhor levantou a mão pedindo a palavra. Com a voz embargada, este senhor ficou de pé e disse que todos ali tinham medo de dizer quem eram realmente, pois tinham passado por muitas provações na vida, tinham sofrido perseguições e perdido suas aldeias, ao longo de uma história de dor e extermínio. (mais…)

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Rosaldo de Albuquerque Souza: Por imposição do nosso ‘órgão tutor’, não tínhamos o direito de nos autodeclarar Kinikinau

Rosaldo Kinikinau em foto de Emilia Silberstein, do final de 2012, quando terminava o mestrado na UnB com trabalho sobre a reconstrução identitária de seu Povo
Rosaldo Kinikinau em foto de Emilia Silberstein, do final de 2012, quando terminava o mestrado na UnB com trabalho sobre a reconstrução identitária de seu Povo

Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

Antes que algum juiz descubra isso na hora de anunciar alguma decisão definitiva, vamos concordar: o Povo Kinikinau – ou Koinukunoen – com certeza não estava no seu território tradicional em 1988, quando a chamada Constituição Cidadã foi promulgada. Aliás, ainda pior: oficialmente ele estava simplesmente extinto, na ocasião! Graças à ação de diferentes instâncias governamentais, os Kinikinau não foram apenas expulsos de sua terras. Foram destituídos de sua própria identidade, com tudo o que isso significa, e obrigados a se transformarem em Terena pelo órgão que deveria protegê-los: a Funai.

Mas eles não aceitaram essa morte por decreto. Mantiveram viva a força da resistência e, entre os dias 6 e 9 de novembro, realizaram sua 1ª Assembleia. No final dela, instituíram o Ipuxowoku Hou Koinkunoe (Conselho do Povo Kinikinau) e lançaram a sua Carta, como primeiro passo para a reconquista de sua identidade e de seu território.

Professor de biologia concursado, Rosaldo de Albuquerque Souza nunca se perdeu de suas origens e é agora um dos 12 integrantes do Conselho Kinikinau. Na entrevista a seguir, feita por e-mail, ele fala sobre seu Povo e sua luta.

***

Combate – Fiquei comovida lendo sobre a 1ª Assembleia e, depois, a Carta do Povo Kinikinau. Sei que você está desde o início na luta pelo reconhecimento do seu Povo e pela demarcação de suas terras. Quando e como foi que ela se iniciou?

Rosaldo – Iniciou-se na década de 1990, com o interesse próprio dos anciãos da Aldeia São João, do chefe de posto da Funai, Olivar Brasil, e do antropólogo indigenista Giovani José da Silva. Saliento que nascemos sabendo que não éramos Terena, mas, por imposição do nosso ‘órgão tutor’ [a Funai], não tínhamos o direito de nos auto declarar Kinikinau. Por isso ficamos tanto tempo na invisibilidade. O nosso grande líder in memoriam Leôncio Anastácio disse que muitas famílias esconderam-se nas aldeias que estavam se formando após a guerra do Paraguai e nas fazendas, para trabalhar a troco de comida. Assim, foram ‘desaparecendo’. (mais…)

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MS – Indígenas e fazendeiro entram em acordo sobre retomada de Pyelito Kue

Pyelito Kue. Foto: Amanda Cury
Pyelito Kue. Foto: Amanda Cury

 

Guarany-kaiwás concordam em ocupar área externa à sede da propriedade. Processo pela invasão indígena será suspenso até demarcação.

G1 MS

O Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) promoveu acordo entre guarany-kaiwás da comunidade Pyelito Kue e proprietários da fazenda Cambará, atualmente ocupada pelo grupo. Conforme o órgão, os indígenas ficarão na área, mas concordaram em deixar a sede administrativa da propriedade. A reunião foi na quinta-feira (13), mas o resultado só foi divulgado nesta sexta-feira (14).

Ainda segundo a Justiça Federal, o pacto também prevê a suspensão do processo devido à disputa das terras até que se faça o processo de demarcação. O encontro teve a participação de representantes da comunidade indígena, do proprietário da fazenda, da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Ministério Público Federal (MPF). Ele foi realizado entre as 10h (de Brasília) de quinta-feira (13) e 0h33 desta sexta-feira (14) em Naviraí, distante 350 quilômetros de Campo Grande.

Foi fixado prazo de 20 dias para que os guarany-kaiwás deixem a sede. As partes envolvidas concordaram com a instalação de duas cercas, que será feita pelo proprietário rural, separando os territórios, havendo um espaço de cinco metros em elas. A área localiza-se entre a margem da Rodovia MS-38, o Rio Ipané e o Rio Yjogui. (mais…)

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Cultura e Negritude: Interculturalidade e formação – 21 e 22/11. em Santo Amaro

cultura e negritude

O evento realizado em sua segunda edição, se inscreve no contexto das ações institucionais realizadas pela UFRB, a partir da Portaria 181/07,com vistas à promoção da igualdade racial e inclusão social no Recôncavo. Associa neste evento as ações em prol da Estatuinte na UFRB. Está integrado às ações do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros – NEAB-Recôncavo na linha Raça e Educação, além de integrar as ações de formação dos estudantes do Programa de Educação Tutorial – Acesso, permanência e pós-permanência na UFRB, e UFRB e Recôncavo em Conexão e Área de Conhecimento Políticas de Formação, Interdisciplinaridade e Interculturalidade do BICULT/CECULT.

Objetivos:

  • Ampliar o debate sobre universidade, interculturalidade e formação.
  • Promover ambientes de promoção de promoção da igualdade racial e inclusão social no Recôncavo.
  • Promover a integração das comunidades locais e acadêmicas me torno do debate de equidade.
  • Integrar pesquisadores, estudantes, agentes culturais, representantes de movimentos sociais e demais interessados nas questões relativas à equidade racial.

Mais informações AQUI.

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Intoxicação por agrotóxicos ainda faz vítimas no campo

"O médico me disse que ou eu parava com a atividade ou morria de intoxicação", lembra o ex-produtor rural Expedito de Souza
“O médico me disse que ou eu parava com a atividade ou morria de intoxicação”, lembra o ex-produtor rural Expedito de Souza

Solução para o problema pode ser a criação de políticas públicas para retirar de circulação produtos mais perigosos

Folha Rural

Expedito Pereira de Souza é ex-produtor rural. Durante anos se dedicou à produção de tomate, pepino e uva no distrito de Guaravera, zona sul de Londrina. Mas há 18 anos foi forçado a deixar a propriedade aos cuidados de familiares para tratar da saúde. Souza foi uma das vítimas de intoxicação por agroquímicos, produtos que eram aplicados para livrar a lavoura de pragas e doenças.

O último levantamento realizado em 2011 pelo Sistema Nacional de Informações Toxico Farmacológicas (Sinitox), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), aponta que 5.075 pessoas foram intoxicadas com defensivos agrícolas naquele ano, representando 4,79% do total de casos de intoxicação registrados no Brasil. O número é ligeiramente menor se comparado ao levantamento de 2001, quando o volume de casos por intoxicação com agrotóxicos no País chegou a 5.384. Ainda que menor, preocupa as autoridades de saúde.

O número de intoxicações por agroquímicos nas lavouras brasileiras pode ser bem maior, já que os dados da Fiocruz só computam casos de pessoas que recebem atendimento médico imediato, ou seja, quando a intoxicação é aguda. Casos crônicos não são computados. “É difícil conseguir ver os efeitos crônicos de exposição ao agrotóxico durante 20, 30 anos”, revela Luiz Claudio Meirelles, pesquisador da área de saúde pública do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Fiocruz. Segundo ele, as pessoas não têm consciência de que uma doença pode aparecer ocasionada pela exposição a esses produtos. Estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que de cada 100 casos de intoxicação por agroquímicos ocorridos nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, apenas em torno de 5% são notificados. (mais…)

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