DOI-Codi do Rio fez 48 vítimas

Quinze presos morreram e 33 desapareceram após passar pelo centro de repressão, diz Comissão Nacional da Verdade

Estado de Minas

Rio de Janeiro – A Comissão Nacional da Verdade descobriu que 33 presos que passaram pelo antigo DOI-Codi, o centro de repressão do Exército, no Rio, estão desaparecidos e 15 morreram durante a ditadura militar (1964-1985). A informação foi divulgada ontem pelo presidente da comissão, Pedro Dallari, depois de visitar o local. Entre  as vítimas, está o ex-deputado Rubens Paiva, morto em janeiro de 1971. Outros desapareceram após deixar o local e ser encaminhados para outros centros de tortura, como a Casa da Morte, em Petrópolis, ou até para o Hospital Central do Exército. No antigo prédio do DOI-Codi funciona hoje o Quartel de Polícia do Exército.

“A visita foi muito boa para detalharmos o local, o que permitirá à comissão cumprir a função de relatar os fatos. Houve, claramente, um desvio de finalidade dos órgãos militares”, afirmou Dallari

Representantes das comissões nacional e estadual da Verdade, além de peritos e de ex-presos do local visitaram o quartel por pouco mais de duas horas. Nos relatos, a constatação de que pequenas mudanças foram feitas nas áreas de tortura.

No prédio onde havia dois pavilhões para interrogatórios e prisão de homens e mulheres, os integrantes das comissões encontraram salas destinadas à burocracia da unidade militar. “Essa visita representa, antes de tudo, a recuperação da memória dessas pessoas, deste local. Vai ser possível contar em croquis e montar o quebra-cabeça que mostrará a mudança arquitetônica interna, além das técnicas de tortura trazidas por ingleses para cá”, contou João Ricardo Dornelles, da Comissão Estadual da Verdade.

No olhar de seis ex-presos, ao deixar o local, a emoção de visitar onde foram torturados. “O prédio está a mesma coisa. Voltei ao local onde fui parar no pau de arara, fui torturado e em que Rubens Paiva morreu. Saio com a sensação de cumprir uma missão histórica”, afirmou o jornalista Álvaro Caldas, que ficou três meses preso no DOI-Codi, no Rio.

Tortura

O Hospital Central do Exército foi palco de torturas durante a ditadura militar. Na segunda-feira, Pedro Nin Ferreira e Felipe Carvalho Nin Ferreira, irmão e sobrinho de Raul Amaro Nin Ferreira, morto em agosto de 1971, afirmaram em depoimento no Arquivo Nacional, sede da CNV no Rio de Janeiro, que ele foi torturado no hospital.

Pedro Nin disse que estava prestes a completar 17 anos quando seu irmão foi preso. “Quando soubemos que o Raul tinha ido para o hospital, pensávamos que ele tinha apanhado, mas que iriam cuidar dele, jamais o contrário”, afirmou.

A família de Raul Amaro e a CNV requisitaram ao médico legista Nelson Massini, professor titular de medicina legal da Faculdade de Direito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), um laudo médico sobre o caso. O documento aponta que, em virtude das características das lesões encontradas no corpo de Raul, ele não só morreu no Hospital Central do Exército, como as dependências do hospital foram usadas para tortura.

Documentos encontrados pela família e pelo pesquisador Marcelo Zelic indicam que a tortura pode ter sido cometida por agentes do Dops. A requisição para comparecimento de dois policiais ao hospital na véspera da morte foi localizada pela família e o pesquisador.

Para Paulo Sérgio Pinheiro, integrante da CNV, que conduziu o depoimento, os testemunhos e a pesquisa da família Ferreira ajudam a demonstrar que mortes como a de Raul “não foram excessos, mas parte de uma política de Estado”, disse.

Além deles, prestou depoimento o médico Luiz Tenório. Ele afirmou que foi torturado por uma equipe do DOI-Codi do Rio de Janeiro que contou com a assistência do médico militar Ricardo Agnese Fayad, general reformado do Exército. A função de Fayad no DOI-Codi, segundo o depoente e outros presos políticos, era verificar se a tortura poderia prosseguir ou se deveria ser interrompida para evitar a morte do interrogado.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.