Por Iris Pacheco, da Página do MST
Durante os dias 15 a 17 de setembro, ocorreu na Universidade de Brasília (UnB), no Campus de Planaltina, o Seminário Conexões IV – Feminismo, Campesinato e Luta de Classes.
Organizado pelo grupo de pesquisa Modos de Produção e Antagonismos Sociais (MPAS) junto com movimentos sociais, como o MST, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) e a UnB, o seminário teve sua programação permeada pelo debate sobre feminismo no âmbito da luta de classes e da questão agrária, tanto no Brasil, quanto na América Latina.
Segunda Paola Pereira, integrante do MPAS, o tema é uma demanda histórica dos movimentos sociais que compõem o grupo de pesquisa, e a partir disso se tomou a definição de fazer o espaço voltado para o debate em questão.
“É necessário essas três concepções inter-relacionandas. A gente consegue dialogar e valorizar a diversidade de público e debate que o feminismo é capaz de trazer e saímos fortalecidas, sabendo o tamanho da tarefa e de que concepção de feminismo camponês a gente está falando”, comentou.
A programação diversificada do seminário garantiu espaços de três ações pedagógicas, que foram desde as conferências e exposições temáticas sobre a concepção marxista do feminismo debatido pelas camponesas, até a narrativa de depoimentos individuais das companheiras, que expuseram sua trajetória e referência de luta, do auto reconhecimento e valorização do ser mulher dentro desse processo.
Para Adriana Mezadri, da coordenação nacional do MMC, o seminário cumpriu o papel de divulgação desse debate e fortalece a construção unitária das mulheres camponesas no processo da luta de classes.
“É importante a divulgação desse debate sobre o feminismo camponês e classe popular que a gente vem construindo no decorrer da nossa história, na perspectiva de avanço da luta das mulheres e da classe trabalhadora. Mostrar que o conhecimento popular que a gente vem construindo tem valor científico, nos ajuda avançar na construção, tanto da unidade das mulheres, da luta feminista, quanto na unidade de classe para transformação da sociedade mais justa e igualitária, e fazer essa ruptura com o modelo capitalista e patriarcal que a gente vive”, ressaltou.
Troca de experiências
A participação da mulher no processo de lutas dos movimentos camponeses deve ser colocada nas questões organizativas concretas do dia a dia. Pois é nesse cotidiano que se fundamenta e aprofunda o debate teórico sobre feminismo popular.
De acordo Matilde Pinto, da coordenação estadual do MST no estado de Rondônia, espaços como o seminário possibilita as trocas de experiências que fortalecem esse debate teórico, que vai desde as formas de organização, às formas de produção, de denúncias, e que também contribui reforçar a convicção de luta às mulheres que já estão inseridas nesse contexto.
“O aprofundamento da teoria que embasa a prática feminista é uma necessidade da nossa luta, porque existem diferentes tipos e formas de ver o feminismo. Mas, independente desse debate, existe uma necessidade de reafirmar a autonomia da mulher, como sujeito histórico que pode e deve participar, tanto das lutas especificas, quanto das lutas gerais da classe”, destacou Matilde.
Outro elemento que o seminário trouxe à universidade é o caráter de luta que os movimentos dão ao levar suas bandeiras e experiências para esses espaços historicamente negados ao povo.
Nesse sentido, Paola acredita que “a América Latina tem uma construção muito forte da relação campesina indígena, e no Brasil nós precisamos se desafiar a pensar essa realidade, de forma que se garanta essa articulação entre pescadoras, indígenas, quilombolas e camponesas para construirmos a luta das mulheres a partir do feminismo de classe. Acredito que esse é o principal acúmulo e desafio para o período”.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.