Letícia Campos e Maria José Viana / ENA, no IRPAA
O uso de agrotóxicos traz inúmeros malefícios para consumidores, trabalhadores das lavouras e moradores nos entornos da área de produção. Contudo, mesmo frente a essa conjuntura, o agronegócio e sua bancada ruralista continuam em expansão.
Pesquisas apontam que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos no planeta. Pensando nisso, o III ENA – Encontro Nacional da Agroecologia traz diversas atividades que versam sobre o assunto e, como norte, busca respostas quanto ao “por quê a sociedade deve apoiar a agroecologia”.
É nesse contexto que a Rede Brasileira de Justiça Ambiental lança neste sábado (17), às 19h30, durante as atividades do III ENA, na Universidade Federal do Vale do São Francisco, em Juazeiro-BA, o dossiê “Perímetros Irrigados: 40 anos de violação de direitos no semiárido”. O documento denuncia as mazelas do agronegócio e a ofensa a direitos fundamentais do cidadão cometidos por alguns perímetros irrigados nos estados de Ceará e Rio Grande do Norte.
Desenvolvido por pesquisadores da área de geografia, história, direito, meio ambiente e saúde de cinco universidades, o estudo nasceu a partir de uma demanda apresentada pelo movimento 21, que reúne coletivos de lutas sociais, como MST, CPT e Cáritas. “A articulação com estes grupos organizados foi essencial para a levantar os estudos de caso, que apontaram a terra/território, água, saúde, meio ambiente, trabalho digno, participação política e a questão cultural, como sendo os principais direitos desrespeitados”, afirmou Raquel Rigoto, uma das autoras do dossiê e representante da Rede Brasileira de Justiça Ambiental e da Abrasco – Associação Brasileira de Saúde Coletiva.
Professora de medicina da Universidade Federal do Ceará, Rigoto conta que um dos objetivos da obra é levantar dados e insumos para subsidiar os movimentos sociais na batalha por uma lei mais justa. A política nacional de irrigação, ratificada pela presidenta Dilma Rousseff, é direcionada para o grande empresário, beneficiando apenas um setor da sociedade: o agronegócio.
Outro impacto dessa ação são os problemas ocasionados pelo uso abusivo do agrotóxico. A publicação denuncia, por exemplo, que a taxa de mortalidade por câncer nessa região é 38% maior do que nos municípios em que só há agricultura familiar. No Nordeste, são 38 perímetros irrigados e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC2) propõe uma expansão nessa área em 393 mil hectares, para o qual o governo destina 7 bilhões de reais.
Sobre o ENA
O III Encontro Nacional de Agroecologia (III ENA), que tem como lema “Cuidar da Terra, Alimentar a Saúde, Cultivar o Futuro”, reúne entre os dias 16 e 19 de maio, em Juazeiro, cerca de 2 mil pessoas de todo o país, dentre elas 70% agricultoras e agricultores, e diversos segmentos da sociedade, participarão de seminários, debates e atividades culturais. Encontros como este são espaço de organização e pressão política fundamentais para a expressão democrática de uma significativa parcela da sociedade brasileira.
O evento organizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), com a participação de diversas entidades que compõe esta rede, além de movimentos sociais do campo, da saúde, da economia solidária e do feminismo, é o resultado de um processo de mapeamento e visita a experiências concretas por meio de Caravanas Agroecológicas e Culturais, que começaram em 2013.
Serviço
O que: III Encontro Nacional da Agroecologia (III ENA)
Quando: De 16 a 19 de maio
Onde: Universidade Federal do Vale do São Francisco, Juazeiro, Bahia