Porto do Açu, o lugar em que quase tudo é “quase”

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Por Marcos Pedlowski

Tem gente que acha que eu implico com o Porto do Açu, mas a verdade é que não me opus ao empreendimento, apenas à forma adotada por Eike Batista e pela CODIN para instalá-lo no V Distrito de São João da Barra. É que na forma adotada, centenas de famílias de trabalhadores rurais tiveram suas terras subtraídas e muitas ainda esperam o pagamento dos valores miseráveis que o (des) governo de Sérgio Cabral/Pezão decidiu que elas valiam.

Agora uma matéria do Jornal Folha da Manhã me fez aumentar a minha impressão pessoal de que nem os novos donos estadunidenses estão conseguindo dar forma a um empreendimento que Eike Batista lhes entregou totalmente torto. Começando pela manchete e indo pela matéria adentro, o que se vê são repetições de promessas antigas e indicações de novas direções para ver se o Porto do Açu não afunda.

À primeira vista, a mudança de vocação apontada na manchete não seria um problema, mas dado o tamanho inicial do projeto e tudo o que prometia em sua retroárea, o que se subentende é que o empreendimento realmente vai encolher brutalmente, já que a área de petróleo a que a matéria se refere provavelmente não se coloca no filé mignon do refino. Mas afora a informação de que os terminais continuam inconclusos e que a linha de transmissão de energia só deverá ficar pronta no final de 2016 indica que os custos da Prumo continuarão sendo muito altos para tocar o pouco que foi instalado. Este fato deve, ou pelo menos deveria, estar ligando os sinais de alerta na sede do Grupo EIG em Washington DC, visto que a Prumo acumulou só em 2013 prejuízos na ordem de US$ 60 milhões. 

Mas um dado precioso e que merece atenção é a informação inserida na matéria é que dos 7.000 hectares desapropriados pela CODIN para beneficiar o Grupo EBX, apenas 1.000 estariam tendo algum uso até o momento. O fato é que este dado não me parece real, e o mapa abaixo pode ajudar aos leitores a entenderem o porquê do meu ceticismo. (mais…)

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O aluno de romance Oswald de Andrade, por Mário da Silva Brito

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Da série especial “Oswald 60?, em Outras Palavras

Ao longo dos trechos do ensaio que o leitor poderá ler agora, o historiador Mário da Silva Brito analisa a trilogia que compõe o romance “Os Condenados”, de Oswald de Andrade.

Com tais fragmentos, retomamos a mesma estrutura que foi empregada anteriormente, por ocasião da publicação do estudo de Antonio Candido acerca da dialética vida e obra, presente de forma aguda no líder modernista.

Desse modo, procuramos extrair aqueles pontos que julgamos essenciais. Esse trabalho foi feito com cuidado a fim de que não comprometesse o entendimento dessa introdução meticulosa*.

Importante esclarecer: os romances que fazem parte da trilogia foram lançados em épocas diferentes, chegaram a receber nomes distintos do que vemos agora e, quando agrupados, foram chamadas originalmente de “Trilogia do Exílio”.

Os tempos passaram. Em 1941, com o autor ainda vivo, o livro recebe uma edição definitiva.

E é com esta que o historiador trabalha, embora faça às vezes, conforme veremos, referência ao nome que primeiro consagrou o tríptico.

Assim, o leitor poderá acompanhar a sua bela escrita, a propósito de “Os Condenados”, lembrando sempre que o romance é composto, ao todo, por três obras: “Alma”, “A estrela de Absinto” e “A Escada”. (Theotonio de Paiva, editor da série “Oswald60?) (mais…)

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David Harvey: leia Piketty, mas não se esqueça de Marx

marx piketty harveyReflexões sobre desigualdade do economista francês são brilhantes e oportuníssimas. Porém não conte com ele para compreender dinâmica central do sistema

Por David Harvey, com tradução de Inês Castilho, em Outras Palavras

Thomas Piketty escreveu um livro chamado  Capital que causou uma tremenda comoção. Ele defende a taxação progressiva e a tributação da riqueza global como único caminho para deter a tendência à criação de uma forma “patrimonial” de capitalismo, marcada pelo que chama de uma desigualdade “apavorante” de riqueza e renda. Também documenta com detalhes excruciantes, e difíceis de rebater, como a desigualdade social de ambos, riqueza e renda, evoluíram nos últimos dois séculos, com ênfase particular no papel da riqueza. Ele aniquila a visão, amplamente aceita, de que o capitalismo de livre mercado distribui riqueza e é o grande baluarte para a defesa das liberdades individuais. Piketty demonstra que o capitalismo de livre mercado, na ausência de uma grande intervenção redistributiva por parte do Estado, produz oligarquias antidemocráticas. Essa demonstração deu base à indignação liberal e levou o Wall Street Journal à apoplexia.

O livro tem sido frequentemente apresentado como substituto para o século 21 do trabalho do século 19 de Marx, que leva o mesmo título. Piketty nega que fosse essa sua intenção, na verdade – o que parece certo, uma vez que seu livro não é, de modo algum, sobre o capital. Ele não nos conta por que razão ocorreu a catástrofe de 2008, e por que está demorando tanto para tanta gente se levantar, sob o fardo do desemprego prolongado e da execução da hipoteca de milhões de casas. Ele não nos ajuda a entender por que o crescimento é tão medíocre hoje nos EUA, em oposição à China, e por que a Europa está travada sob uma política de austeridade e uma economia de estagnação.

O que Piketty mostra estatisticamente (e estamos em dívida com ele e seus colegas por isso) é que o capital tendeu, através da história, a produzir níveis cada vez maiores de desigualdade. Isso, para muitos de nós, é má notícia. Além disso, é exatamente a conclusão teórica de Marx, no primeiro volume de sua versão do Capital. Piketty fracassa em observar isso, o que não é surpresa, já que sempre clamou, diante das acusações da mídia de direita de que é um marxista disfarçado, que não leu O Capital de Marx.  (mais…)

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Mulheres do campo lutam para derrubar barreiras e preconceitos

Elisabeth Maria Cardoso, da ONG Articulação Nacional de Agroecologia. Foto: Valter Campanato / Agência Brasil
Elisabeth Maria Cardoso, da ONG Articulação Nacional de Agroecologia. Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

Por Mariana Branco – Repórter da Agência Brasil

As mulheres obtiveram direitos e avanços no busca por oportunidades iguais ao longo dos anos, mas há barreiras mais difíceis de derrubar no campo do que nas cidades. Em razão de a zona rural ser tradicionalista, suas moradoras lutam contra preconceitos manifestados de maneira mais explícita do que nos grandes centros. Conquistar espaços longe do lar, dos filhos e das tarefas domésticas nem sempre é tranquilo para elas. Apesar disso, camponesas tentam vencer a resistência ao seu envolvimento na esfera pública, engajando-se em cooperativas, redes de produção e movimentos sociais. Algumas até ocupam postos de liderança, na maioria das vezes monopolizados pelos homens.

Elisabeth Maria Cardoso, coordenadora do grupo de trabalho para mulheres da organização não governamental Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), ressalta que nas áreas rurais existe divisão do trabalho entre homens e mulheres semelhante à encontrada nos centros urbanos, mas o vínculo das mulheres com o local de residência é mais arraigado. “Por mais que haja uma divisão sexual das tarefas também nas cidades, se os dois trabalham fora há um momento em que ela tem o espaço dela. No campo, a agricultura, que é a atividade produtiva, se confunde com a doméstica. E a mulher não é reconhecida pelo trabalho produtivo, é como se não fizesse nada”, diz.

Segundo ela, a falta de reconhecimento vem do marido, dos filhos e até de técnicos que trabalham com comunidades rurais. Elisabeth cita o exemplo de um curso pós-colheita de café ministrado na Zona da Mata de Minas Gerais. “Era ministrado aos homens, mas quem faz a secagem do café é a mulher”, explica. De acordo com a coordenadora, o fato de as tarefas domésticas somadas ao trabalho na roça tomarem muito tempo dificulta a frequência de espaços públicos pelas mulheres do campo. “Muitas vezes, o espaço onde ela vai restringe-se à escola e à igreja”, diz. Segundo Elisabeth, ao se ausentar, a mulher deve conseguir adiantar as obrigações do lar ou ter alguém que a substitua. (mais…)

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El Subcomandante Marcos anuncia su desaparición

subcomandante marcos

“Pensamos que es necesario que uno de nosotros muera para que Galeano Viva. Así que hemos decidido que Marcos debe de morir hoy”, anunció el jefe militar y vocero zapatista.

Desinformémonos

A las 2:08 de la madrugada de hoy, el Subcomandante Marcos anunció que a partir de ese momento deja de existir. En conferencia de prensa ante los medios libres que asistieron al homenaje a Galeano, el zapatista asesinado en la comunidad zapatista de La Realidad, el jefe militar del Ejército Zapatista de Liberación Nacional (EZLN), indicó: “si me permiten definir a Marcos, el personaje, entonces les diría sin titubear, que fue una botarga”.

Luego de más de 20 años al frente de la organización político-militar que se levantó en armas el primero de enero de 1994, Marcos anunció su relevo. Indicó que después de los cursos de la Escuelita Zapatista del año pasado y principios de este, “nos dimos cuenta que ya había una generación que podía mirarnos de frente, que podía escucharnos y hablarnos sin esperar guía o liderazgo, ni pretender sumisión o seguimiento”. Entonces, dijo, “Marcos, el personaje, ya no era necesario. La nueva etapa en la lucha zapatista estaba lista”.

En la comunidad emblemática de La Realidad, la misma en la que el pasado 2 de mayo un grupo de paramilitares de la Central Independiente de Obreros Agrícolas y Campesinos Histórica (CIOAC-H), asesinó al base de apoyo zapatista Galeano, el subcomandante Marcos apareció de madrugada frente a los representantes de los medios libres de comunicación, acompañado de seis comandantes y comandantas del Comité Clandestino Revolucionario Indígena y del Subcomandante Insurgente Moisés, a quién en diciembre pasado anunció como su relevo al mando.

“Es nuestra convicción y nuestra práctica que para revelarse y luchar no son necesarios ni líderes ni caudillos, ni mesías ni salvadores; para luchar sólo se necesita un poco de vergüenza, un tanto de dignidad y mucha organización, lo demás o sirve al colectivo o no sirve”, dijo Marcos.

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Cinco ideias equivocadas sobre os índios, por José Ribamar Bessa Freire [Essencial!]

A ilustração não é da matéria. Mas tem a ver...
A ilustração – uma foto de um Fórum Social Mundial colhida da internet – não é da matéria. Mas tem a ver…

Como é impossível postar aqui o texto inteiro, porque ele só está disponível em pdf, brechtianamente socializo a maravilhosa conclusão, esperando que ela incentive à ida até o Taqui Pra Ti e à leitura do artigo inteiro. E agradeço a Stéphen Bry pelo envio. (Tania Pacheco) 

“Vou concluir lembrando um fato real que me foi contado pelo escritor português Antônio Alçada. Ele estava fazendo turismo na Grécia com um grupo de amigos portugueses, lá numa daquelas ilhas gregas. Estava em pé, parado, conversando com esses amigos, quando passou um grupo de turistas japoneses, carregados de máquinas fotográficas. Até aí nada demais, porque tem turista japonês em qualquer biboca do mundo. Enquanto os turistas japoneses prosseguiram seu caminho, um deles parou diante do grupo lusitano, ficou olhando e ouvindo os portugueses por alguns minutos, depois se aproximou e perguntou num perfeito português com sotaque paulista: “Desculpa. Eu sou brasileiro. Vocês são portugueses?” O Antônio Alçada respondeu: “Somos”. O “japonesinho” de São Paulo, então, deu um longo e estridente assobio para o grupo dele que havia se distanciado. Todo mundo virou a cabeça para trás e ele gritou: “Ei, pessoal! Venham aqui que eu encontrei um grupo dos nossos antepassados”. O escritor português contou que sentiu uma sensação estranha e pensou: “Eu? Antepassado desses japoneses? Como? Se os pais deles deviam estar numa ilha, lá no Japão, na geração anterior, e não têm nada que ver comigo”. (mais…)

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Fundação Casa segue lógica do sistema penitenciário paulista

O antropólogo Fábio Mallart passou mais de cinco anos estudando o cotidiano da Fundação Casa, das relações internas de poder à administração dessas unidades. Com base nisso, afirma em seu livro Cadeias Dominadas (que será lançado, nesta terça (27), em São Paulo – veja no final deste post) que o sistema socioeducativo de internação, progressivamente, está se alinhando à dinâmica de funcionamento dos presídios paulistas. “Não é exagero afirmar que a redução da maioridade penal, de certa forma, já há algum tempo foi colocada em prática pelo Estado de São Paulo”, explica Fábio em artigo escrito para este blog. Vale a leitura:

No Blog do Sakamoto

Muralhas com arame farpado, portões de aço, grades por todos os lados, menções ao Primeiro Comando da Capital (PCC) cravadas pelas paredes, postos de vigilância, negociações envolvendo internos e diretores, torturas, rebeliões, drogas e celulares.

O cenário descrito poderia ser de qualquer cadeia do sistema prisional adulto, mas se refere à dinâmica cotidiana de unidades de internação da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Fundação Casa), antiga Febem, de São Paulo.

Entre setembro de 2004 e novembro de 2009, passei boa parte de meus dias circulando por distintas unidades de internação de tal instituição. Durante esse período, ministrei atividades fotográficas aos adolescentes que, por terem cometido atos infracionais, cumpriam medida socioeducativa de internação nos complexos do Brás, Franco da Rocha, Vila Maria, Raposo Tavares e Tatuapé – este último desativado em 2007.

Durante as atividades ministradas, deparei-me com determinadas unidades de internação conhecidas entre adolescentes e funcionários como “cadeias dominadas”. Em tais espaços institucionais, pude etnografar um conjunto de normas de conduta que orienta a experiência cotidiana dos adolescentes. Regras que estipulam desde as vestimentas adequadas para um dia de visita, ou impedimentos relativos ao contato entre os adolescentes e os funcionários, até diferenciações entre os próprios jovens. Vale salientar que tais prescrições são semelhantes às que operam em instituições prisionais orientadas pelas políticas do Primeiro Comando da Capital, coletivo de criminosos que atua dentro e fora do sistema penitenciário paulista. (mais…)

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Relatório Preliminar da CNV aponta 17 centros clandestinos de tortura

CNV - Relatório

Assita aos vídeos da audiência da CNV sobre centros clandestinos de tortura e ao depoimento do delegado Dirceu Gravina

Comissão Nacional da Verdade

A Comissão Nacional da Verdade apresentou em São Paulo o quarto relatório parcial de pesquisa, que abordou a questão dos centros clandestinos de tortura. No relatório, a CNV e a equipe coordenada pela professora Heloísa Starling, do Projeto República, da UFMG, identificaram 17 centros clandestinos de tortura (centros operados fora de unidades militares ou da polícia).

Paralelamente à audiência, foi tomado o depoimento do delegado, até hoje na Polícia Civil de São Paulo. Ele foi acusado pelo MPF pela tortura, morte e desaparecimento de Aluizio Palhano e já foi reconhecido como autor de tortura por várias vítimas. Ele foi ouvido pelos membros da CNV José Carlos Dias e Rosa Cardoso.

No Doi-Codi, Gravina tinha o apelido de JC, uma alusão à Jesus Cristo, por usar cabelos compridos e um crucifixo.

[Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos]

 

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