Foz do Iguaçu: Estudante da UNILA desaparecida desde 2 de março é encontrada assassinada

Martina Piazza Conde
Martina Piazza Conde

A Casa da América Latina ES lamenta e se indigna com a notícia da morte, com indícios de violência, da estudante uruguaia Martina Piazza, da UNILA, encontrada sem vida justamente nesse dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher.

“Quem cala, morre contigo. Quem grita vive contigo”. Basta de violência!
Martina presente! Sua luta continua!

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Ministério da Educação
Universidade Federal da Integração Latino-Americana
Instituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História

Foz do Iguaçu-PR, 08 de Março de 2014.

Nota de Pesar – Martina Piazza Conde

No dia da Mulher, 08 de março, o Instituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, está de luto e em luta. Viemos a público afirmar a sua imensa tristeza e dor pela morte da jovem estudante de Antropologia Martina Piazza Conde, membra de nossa comunidade universitária. Esse ano, a estudante planejava se formar antropóloga.

De nacionalidade uruguaia, Martina tinha 26 anos e era considerada uma estudante “estrela”, como ensina Victor Turner, uma daquelas pessoas que é central e agregadora de toda uma comunidade. Ela dançava no grupo de Maracatu e participava da Casa do Teatro, era militante feminista, defendia a legalização do aborto e foi organizadora da I Marcha das Vadias em Foz do Iguaçu.

A nossa dor tem nome e a lembrança real de uma pessoa por nós muito querida, mas infelizmente Martina também engrossa uma estatística alarmante. A morte violenta de mulheres é comum no Brasil, um país que parece não amar suas mulheres.

Como mostra a pesquisa publicada pelo IPEA em setembro de 2013:

  • “Estima-se que ocorreram, em média,5.664 mortes de mulheres por causas violentas a cada ano, 472 a cada mês, 15,52 a cada dia, ou uma a cada hora e meia”.
  • “Mulheres jovens foram as principais vítimas: 31% estavam na faixa etária de 20 a 29 anos e 23% de 30 a 39 anos. Mais da metade dos óbitos (54%) foram de mulheres de 20 a 39 anos. “
  • “No Brasil, 50% dos feminicídios envolveram o uso de armas de fogo e 34%, de instrumento perfurante, cortante ou contundente. Enforcamento ou sufocação foi registrado em 6% dos óbitos. Maus tratos – incluindo agressão por meio de força corporal, força física, violência sexual, negligência, abandono e outras síndromes de maus tratos (abuso sexual, crueldade mental e tortura) – foram registrados em 3% dos óbitos.”

As pesquisadoras do IPEA utilizaram como base de dados “a totalidade dos óbitos de mulheres por agressões como indicador aproximado do número de feminicídios. Essas informações estão disponíveis no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde”.

A antropóloga Dina Mazariegos, do povo Mayae guatemalteca, é especialista em estudos sobre mulheres e violência. Ao saber do assassinato de Martina, escreveu um texto do qual reproduzimos o trecho:

“Sin lugar a dudas el feminicidio tiene graves implicaciones socioculturales, económicas y políticas puesto que la gran cantidad de mujeres asesinadas no solo tiene una magnitud cuantitativa, sino más bien cualitativa, pues esas mujeres son madres, hijas, hermanas, profesionales, trabajadoras, campesinas, profesoras que venían haciendo aportes en el desarrollo de sus sociedades y que tenían planes y proyectos para su vida futura. Por otro lado, el impacto psicosocial del feminicidio afecta directamente a las familias y la sociedad en general, creando un escenario de terror y miedo, además reproduciendo los prejuicios sobre el comportamiento de las mujeres, ocultando la maraña social que hay detrás”.

Nesse quadro de extrema hostilidade contra mulheres e também contra a comunidade LGBT, hostilidade que transversaliza temas caros à antropologia como classe, gênero, deficiência, raça e etnia, o ILAACH/UNILA vem a público reafirmar seu compromisso na construção de estratégias de combate ao machismo, ao heterossexismo, o estímulo à denúncia por parte de quem sofre violências, apoio aos defensores dos direitos humanos, para, juntos, criarmos um mundo onde haja mais solidariedade e justiça.

À família e aos amigos de Martina Piazza Conde enviamos nossas sinceras condolências, compartilhando a dor da perda de mais uma promessa criativa da comunidade feminista e antropológica. Sua perda, para além da dor da família e amigos, é também uma perda social pois Martina era uma artista e uma pessoa cheia de energia que estudou em nossa universidade pública que tem como missão a integração latino-americana através do conhecimento. Trata-se portanto de uma perda que nos afeta a todos e todas enquanto comunidade latino-americana.

Prof. Barbara Maisonnave Arisi
Diretora do Instituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História – ILAACH
Doutora em Antropologia

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Universidade Federal da Integração Latino-Americana – UNILA
Instituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História – ILAACH
http://www.unila.edu.br/

[Enviada para Combate Racismo Ambiental por Mirt’s Sants].

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