Ana Carolina Pinto, Extra
Na última quarta-feira, um passeio pelo Plaza Shopping, em Niterói, terminou de maneira frustrada para a vendedora Thayná Trindade, de 25 anos. A jovem conta que passava em frente à loja Ponto Frio, no 1º piso do centro comercial, quando um dos funcionários começou a fazer comentários preconceituosos sobre seu cabelo.
De acordo com Thayná, o homem, que se identificou apenas como Tito, apontou para ela e disse “tinha que ser! patrocínio da Assolan!”, referindo-se ao seu cabelo estilo black power. Ele teria ainda feito um gesto, passando o dedo sobre as costas das mãos, em menção a cor de pele de Thayná.
Depois dos comentários, a jovem conta que outros funcionários riram da situação. Ela procurou a gerência da loja, mas sem sucesso. Uma testemunha foi com ela até a Delegacia de Atendimento à Mulher de Niterói, onde o caso foi registrado como “injúria por preconceito”. O caso também foi encaminhado para Coordenadoria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da cidade.
Questionada sobre o que teria levado o homem a fazer os comentários preconceituosos, Thayná não tem dúvidas.
– Racismo, o que mais seria? Eu saio por aí rindo de alguém que use um cabelo longo, liso, até as costas? Não né? Faltam ainda debates sérios sobre racismo aqui no Brasil. O povo está acostumado a fechar os olhos para tudo, essa história de um ‘povo miscigenado e feliz’ é mentira! Racismo velado, é isso que acontece aqui. Basta comparar as políticas públicas que acontecem nos Estados Unidos e o que é feito aqui – denuncia a jovem.
Mãe de uma bebê com poucos meses de idade, Thayná acredita que as denúncias são importantes para promover a conscientização da população sobre o problema e conta que vai educar a filha para ter orgulho de sua identidade.
– Quero que minha filha veja que ela é linda do jeito que é, que ser preto não é algo banal ou inferior. O mundo é feito de diferenças, ninguém é melhor do que ninguém. Chega de abaixar a cabeça, deixar ser só um ‘foi mal’, ‘foi só uma brincadeira’. Estamos cansados. A população precisa entender que racismo é crime sim! E a única ‘arma’ que nós temos, mesmo sendo falha na maioria dos casos, é fazer barulho para que voltem os olhos para nós! – afirmou.
De acordo com a jovem, representantes da loja Ponto Frio entraram em contato com ela e marcaram uma reunião na próxima semana para ouvi-la sobre o caso. Em nota, o grupo informou que também abriu um processo de investigação interno e que medidas adequadas serão tomadas em relação ao caso. O funcionário já foi identificado pela companhia. A empresa afirmou ainda que respeita os valores humanos e a diversidade e não admite qualquer discriminação racial.
O crime de injúria racial, que consiste em ofender a honra de alguém com a utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem, está prescrito no artigo 140, § 3º do Código Penal Brasileiro. A pena vai de um a três anos de reclusão e multa.
Em 2013, foram abertos 425 processos de investigação de racismo pela Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). O número apresenta um aumento, ainda que pequeno, em relação a 2012, quando foram investigados 413 casos. Os números representam apenas os casos que chegam ao Seppir.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Mirt’s Sants.