Ontem à noite (sábado, 28), após arrombar o cadeado da porta central e invadir o salão principal da Câmara Municipal do Rio de Janeiro onde os professores grevistas encontravam-se acampados, a força policial deu início ao ritual de agressões aos manifestantes. Marca registrada de uma polícia que não sabe lidar com mobilizações de rua nem com grupos sociais que reivindicam direitos e ensinam o significado histórico da desobediência civil – condição da construção da cidadania e da recusa à barbárie.
A certa altura um dos policiais se vê face a face com a sua professora. Os dois, atônitos, por um instante se olham e se reconheceram.
– Fulano, sou eu a sua professora! Sou eu! Olhe para mim!
– Professora!
Por um momento ele não sabe o que fazer e o que dizer. Seguir em frente?! Recuar?! Informá-la que “apenas” cumpre ordens?!. Entretanto o empurra-empurra os arrasta e os separa.
A partir daquele instante se desfaz a relação professor-aluno cuidadosamente construída na sala de aula e fora dela. Rompe-se e se esgarça essa intrincada, rica, difícil, bela e cansativa vivência cotidiana voltada para a troca de conhecimentos e de aprendizados que possibilita o cultivar dos afetos. Enfraquece os laços de amizade, “condição para a recusa de servir” como nos ensina Marilena Chauí ao refletir sobre o “Discurso da Servidão Voluntária” de La Boethie. E todos (as) nós também perdemos com isso. (mais…)