Carta de apoio dos alunos do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFSCar aos povos indígenas do sul da Bahia

incendio tupinambás

Os alunos do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFSCar manifestam seu apoio aos povos indígenas do Sul e extremo Sul da Bahia, que estão sendo violentamente ameaçados, como nos mostra o grave episódio envolvendo professores do Instituto Federal da Bahia no último dia 05 de setembro[1].

Consideramos imprescindível a atuação do governo federal no sentido de conter as manifestações por parte de fazendeiros e moradores, contrárias aos povos indígenas da região, e pedimos a garantia da publicação da Portaria Declaratória das terras Tupinambá que já passaram por processo de identificação e delimitação.

A situação de violência contra povos indígenas não é recente e é responsável por dezenas de mortos, todos os anos, em todo o território nacional. A Constituição Federal garante aos povos indígenas o direito ao território, direito esse que vem passando por contestações recentes, como por exemplo o PEC 215, que implicam questões muito sérias a estes povos.

Sabe-se que a produção e reprodução dos modos de vida, da cultura, e a garantia de qualidade de vida e saúde dos povos indígenas estão intrinsecamente relacionadas à terra e ao território, que guardam não só as condições e insumos necessários para suas vidas, mas também suas memórias.

São Carlos, 18 de setembro de 2013

Relato do professor Edson Kayapó:

“Um crime absurdo!

Mais um carro (oficial) incendiado e professores e motorista da Licenciatura Intercultural Indígena do IFBA ameaçados.
Foi hoje [5/9], por volta das 11h, um grupo de quatro capangas interceptaram o carro do IFBA, em São José da Vitória, nas proximidades de Buerarema. Eu estava com os professores João Veridiano (Antropólogo), a professora Julia Rosa (História Indígena) e o motorista. Tínhamos concluído atividades da LINTER em Olivença e estávamos a caminho de Pau Brasil, onde teríamos atividades na aldeia Caramuru (Pataxó Hã Hã Hae). Os capangas pararam o carro e disseram: ‘tem um índio no carro’ e, em seguidas, fomos violentamente expulsos do carro e o veículo foi levado por eles.

Fui orientados pelos colegas de trabalho a voltar de táxi para Itabuna, uma vez que os capangas demonstravam ódio contra índios. Foi o que eu fiz, no entanto, o taxi foi interceptado em Buerarema e lá fui espancado e ameaçado de morte por pessoas desconhecidas.

O carro do IFBA foi incendiado e jogado no meio da BR, na cidade de São José da Vitória. Os colegas de trabalho bem, estão na delegacia da cidade e eu, nem sei onde estou… Escondido? De que mesmo? Não cometi nenhum crime.

A violência contra nossos povos não recua e toma proporções alarmantes.

As autoridades pouco esforços mobilizam contra esse estado de coisas”.

(Publicado em http://www.indiosonline.net/ser-indio-no-sul-da-bahia-virou-crime-e-a-sentenca-e-a-morte/, no dia 06 de setembro de 2013)

Sobre atos de racismo contra os Tupinambá

Sobre a demarcação da Terra Indígena Tupinambá

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[1] O relato do professor Edson Kayapó segue ao fim da carta, bem como links para maiores informações sobre a violência contra os povos indígenas na região e processo de demarcação da terra indígena.

Enviada por Van Caldeira para a lista Cedefes.

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