Rigoberta Menchú não descarta nova candidatura à Presidência da Guatemala

rigobertamenchu_divulgaçãoAdital – Primeira mulher indígena a receber o Prêmio Nobel da Paz, em 1992, a guatemalteca Rigoberta Menchú Tum, não confirma e nem nega que possa a vir a se candidatar novamente à Presidência da República de seu país. Em entrevista ao jornal argentino Página 12, tendo em vista sua participação no Fórum Internacional pelos Direitos das Mulheres, realizado na última semana em Buenos Aires, quando questionada sobre uma possível candidatura, ela apenas destacou a importância de suas duas tentativas, em 2007 e 2011, para abrir o espaço das mulheres da política.

“O que eu sempre fiz na vida foi abrir uma brecha e estou completamente satisfeita em ter aberto uma porta para as mulheres na Guatemala, não importa sua etnia e sua educação elevada. Quando eu me lancei à candidatura presidencial, em 2007, nenhuma mulher estava disposta, nem sequer havia candidatas à prefeita, o máximo que a mulher chegava era a ser candidata à deputada, mas normalmente eram colocadas nas listas mais atrasadas. Então, saímos com muita humildade, numa campanha desigual, com um partido recém-nascido, sem estruturas, nem recursos”, observou a ativista pelos direitos humanos. Nas duas tentativas, ela recebeu pouco mais 3% dos votos.

Rigoberta fundou juntamente com seu marido, o partido Winaq, pelo qual disputou a segunda eleição. Em 2007, foi candidata por uma frente ampla chamada Encontro por Guatemala. Segundo ela, o Winaq rompe com a dicotomia esquerda/ direita e se lança em direções diversas, apontando para a equidade étnica, de gênero, geracional e para uma organização própria. “Fazemos uma campanha não comprada, nem vendida, que as pessoas confiem”.

Em pouco mais de dois anos de fundação, o Winaq já tem representação no Congresso. Atualmente, Rigoberta ocupa a função de relações internacionais do partido, que trabalha sobre temas como a transparência, o combate à impunidade e, sobretudo, a questão fiscal: “a impunidade na corrupção no manejo dos recursos públicos; e a vigilância e a assessoria dos povos indígenas para que também não caiam na corrupção, porque muitas de nossas instâncias maias, por serem intocáveis, permitem agir assim… Às vezes, há certa cumplicidade, então, decidimos romper com esses círculos”.

A indígena de ascendência maia, cujo pai, Vicente Menchú Pérez, foi um militante camponês, e a mãe, Juana Tum Kótoja, uma conhecida parteira na comunidade El Quiché, em Uspatán, afirma que gostaria de ainda escrever livros que deem conta de relatar suas memórias, os fundamentos éticos da luta indígena e também os ensinamentos ancestrais do seu povo. Em meados da década de 1980, Elisabeth Burgos escreveu, a partir de entrevistas com Rigoberta, o livro autobiográfico “Me llamo Rigoberta Menchú y así me nació la conciencia”. A popularidade do livro teria lhe rendido o Nobel e alguns questionamentos sobre a veracidade dos relatos. A situação econômica e a militância social de sua família teriam sido alteradas para dar uma imagem de pobreza que não condizia com a verdade.

Verdade é que Rigoberta perdeu o pai e mãe assassinados durante a guerra civil da Guatemala, que duraram 36 anos, de 1960 a 1996, e dois de seus irmãos continuam desaparecidos. Nos anos 1980, teve que se exilar no México, de onde conduziu sua luta pelos direitos humanos. Ela acredita que a maior legado deixado por ela e outros ativistas foi o fim do conflito armado interno. No entanto, ainda é preciso recuperar a dignidade das pessoas, das vítimas de abuso de violências. “Então, a dignificação de todos nós, pela verdade das vítimas e de todos os guatemaltecos, é uma etapa muito difícil. Inclusive, hoje, a impunidade continua. Não acredito que esta situação dure poucas décadas, porque os filhos dos perpetuadores do genocídio nunca irão reconhecê-lo”.

Rigoberta espera que os guatemaltecos assumam sua responsabilidade individual na hora de votar.

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