RO – Oficina de Cartografia Social é realizada com os atingidos de Vila Jirau

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Em Nova Cartografia Social da Amazônia

Nos dias 27, 28 e 29 de julho, a equipe do Núcleo Rondônia do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia realizou com os moradores de Vila Jirau uma oficina de mapeamento social. A oficina contou com participantes da comunidade e com os pesquisadores Paula Stolerman, Daniela Moreira e João Marcos Dutra da UNIR. O Grupo é Coordenado pelo Professor Luis Fernando Novoa Garzon (UNIR) e recebeu o apoio do Professor Jordeanes Araújo (UFAM) do núcleo Humaitá do projeto.

Os moradores se apresentaram e também apresentaram a comunidade, contando como e quando chegaram, como vivem agora e como viviam antes. Vila Jirau é uma das muitas comunidades atingidas pelas usinas hidrelétricas no Complexo Madeira, Santo Antonio e Jirau. No quilometro 127 da BR 364, a comunidade está abandonada pelo poder público, enquanto o consórcio Energia Sustentável do Brasil se nega a reconhecê-la como atingida.

De poucas famílias, distribuídas por cerca de 30 residências, hoje, com o fluxo migratório gerado pelas obras das usinas, a população passou para mais de duas mil pessoas. Entre operários terceirizados, moradores antigos e ribeirinhos deslocados de outras comunidades no início das obras. Esse aumento repentino trouxe péssimas conseqüências pra localidade que já sofria com a ausência da garantia de direitos básicos, como saúde e educação.

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Amarildo se manifestou sobre o principal ponto levantado na pauta de reivindicações da comunidade, o direito a informação. Querem saber como ficará a comunidade com o início do funcionamento da Usina de Jirau. O principal motivo é que hoje já há elevação do lençol freático, e afloramento de águas por perfurações no solo:

“Eu espero que a gente não seja pego de surpresa. Há vários comentários por aí de terceiros que falam que realmente aqui onde a gente mora vai ser alagado, e eu gostaria que alguém das autoridades competentes, viesse até a gente aqui conosco e nos desse uma resposta concreta né. Pra que a gente tirasse essas dúvidas da gente, pra que depois que o empreendimento tiver construído, tiver gerando já energia, que nem o projeto já, já tem alguns comentários, que no final do ano de 2013, já vai ta gerando já energia. Daqui a pouco constrói, vai embora, e a gente fica sem uma resposta concreta, quanto a mim eu falo e pela comunidade que mora aqui”.

A discussão motivou os moradores a buscar detalhar bem o mapa construído no dia 28. Como havia moradores de todos setores da comunidade, disserem ter registrado todas as casas de Vila Jirau. A preocupação de sair é a mesma para os nascidos na comunidade, para os expropriados que chegaram e os que não se acostumaram com o reassentamento feito pela Energia Sustentável do Brasil, Nova Mutum Paraná. Os últimos se sentem ameaçados por um terceiro deslocamento, em função da mesma obra.

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“Na verdade eu não pretendo sair daqui, nasci aqui, gosto daqui, sou natural daqui, não tenho vergonha de dizer, sou do tempo da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, já extrai solva, seringa, caucho com meu pai, já pesquei muito na Cachoeira do Jirau né. E eu gostaria de continuar por aqui essa é a minha ideia e a mina preocupação é com a cota do reservatório da UHE Jirau.” Desabafa Amarildo.

No mapa também estavam indicadas áreas de extrativismo que foram destruídas, ou ficaram dentro de uma área restrita. Açaizais e castanhais foram suprimidos devido ao reservatório da hidrelétrica, cachoeiras e praias foram tomadas pelas águas, entre outros espaços de vivência dos moradores.

Na manhã do último dia, noções básicas de GPS foram dadas pelo Professor Jordeanes aos participantes, para poderem georreferenciar os locais descritos nos mapas que elaboraram. Após as orientações os moradores se dividiram em quatro grupos que se deslocaram entre os setores em que dividiram o território representado no mapa.

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A expectativa dos moradores é que o trabalho lhes ajude a encontrar respostas, mas também esperam que não sejam vítimas de mais um remanejamento, pois, hoje, a comunidade já tem muito a ser reparado e construído pelos impactos da Usina Jirau.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Luis F. Novoa.

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