Aquário, remoções e exclusão

Da série Histórias do Poço, o vídeo abaixo traz o depoimento de Dona Teresa Batista da Silva, moradora da Comunidade Poço da Draga.

Por Igor Moreira*, em O POVO

Neste ano, o Grito dos Excluídos de Fortaleza aconteceu na Praia de Iracema, ao lado da obra do Aquário. Por que o povo de Fortaleza grita contra o Aquário?

Primeiro, pelo direito a decidir sobre quais investimentos e projetos são prioridades para a Cidade. Chega de assistir aos recursos públicos aplicados de acordo com os interesses dos grupos econômicos que exploram a Cidade, principalmente os mercados imobiliário e turístico. Essa lógica do capital controla os governos e concentra investimentos públicos em determinadas áreas, enquanto o resto sofre com a falta de infraestrutura urbana e social. Enquanto falta saneamento básico, bairros sem água, postos de saúde sem funcionar, o governo decide gastar R$ 280 milhões numa obra em que os empresários do setor turístico obterão, sem ônus, um plus no produto que vendem: a “Fortaleza turística”.

Enquanto o governo impõe o projeto ao arrepio da lei e da vontade popular, a comunidade do Poço da Draga, ao lado da obra, sofre com a ameaça de remoção. Centenária, a comunidade nunca recebeu saneamento básico nem regularização fundiária. Por isso, teme, já que o Estado insiste em manter a comunidade em condição de precariedade para mais fácil removê-la. A remoção significa a destruição de um tecido social que ampara as pessoas. Ao destruir essas relações e suportes comunitários, a remoção vulnerabiliza a situação das famílias. A juventude fica mais exposta às violências que tendem a aumentar nos novos territórios. O drama das remoções e despejos se espalha por Fortaleza.

O Aquário é um projeto concentrador de riquezas e socialmente excludente. Por isso, não foi discutido com os moradores da área. Por outro lado, moradores do Poço da Draga e da Praia de Iracema vêm empreendendo uma série de iniciativas que integram diferentes setores sociais do bairro e da Cidade no espaço da Ponte Velha, valorizando-o. Enquanto o Aquário aumentará a segregação da comunidade e desse espaço histórico de Fortaleza, os moradores querem projetos e iniciativas que integrem esse território ao conjunto da Praia de Iracema.

O povo grita contra o Aquário porque quer uma cidade que seja planejada e desenvolvida a partir das reais prioridades, que devem ser definidas com verdadeira participação popular – na contramão, a Prefeitura não instaura o Conselho das Cidades e os Conselhos Gestores das Zeis (inclusive Poço da Draga, mas também Serviluz, Lagamar, Pici, Bom Jardim e outros). Uma cidade onde o fim da exclusão seja a meta a ser atingida, onde nossos jovens sejam plenos em sua criatividade e energia, e não presos, exterminados ou, junto com suas famílias, despejados de suas casas pelo poder da especulação imobiliária.

*Igor Moreira, Militante do Movimento dos Conselhos Populares (MCP).

Veja mais sobre a comunidade Poço da Draga AQUI.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Rodrigo de Medeiros Silva.

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