Carta de apoio aos Munduruku que ocupam Belo Monte

União em Belo Monte. Foto - Lunae Parracho (REUTERS)
União em Belo Monte. Foto – Lunae Parracho (REUTERS)

Blog Ocupação Belo Monte

Somos beiradeiros, antigos moradores das localidades de Montanha e Mangabal, no alto Tapajós. Nascemos aqui, nossos pais e avós também são nascidos aqui e aqui estão sepultados. Temos documentos provando que, desde 1871, no início dos tempos da borracha, nossos ascendentes já viviam nessas margens do rio Tapajós.

Nós vivemos o tempo dos antigos patrões, do carrancismo e do aviamento da borracha. Vencemos as dificuldades vindas com o fim “dos tempos da seringa”. Encontramos um jeito de viver quando acabou o comércio das “peles de gatos”. Sobrevivemos à chegada – e ao fim – dos garimpos, à malária, à contaminação do rio por mercúrio e a todas as outras dificuldades que apareceram.

Muitas das famílias de nosso grupo foram expulsas pelo próprio governo federal com muita violência, nos anos 70, com a criação do Parque Nacional da Amazônia, onde também era nosso território. Mas nós resistimos também a isso e nos juntamos rio acima, fora dos limites do Parque, e continuamos nossa vida.

Somos 101 famílias e, há muitos anos, lutamos pela criação de uma Resex para reconhecer nosso direito centenário à terra. A Resex não foi criada porque contrariava os interesses das hidrelétricas. E esse foi o primeiro impacto que já sofremos com o projeto das barragens.

Agora, depois de 40 anos, o governo federal nos ameaça com uma nova violência, que é a construção da barragem de Jatobá no centro de nosso território tradicionalmente ocupado. As empresas de pesquisa chegaram de uma hora pra outra, sem pedir licença e invadiram nossas terras e nos intimidaram e nos obrigam a assinar documentos que não sabemos o que significam.

Nunca tivemos muito contato com nossos vizinhos Munduruku, mas agora enfrentamos o mesmo inimigo e queremos nos unir à luta que eles já começaram. Achamos louvável o que eles estão fazendo, apoiamos as ações que eles estão tomando contra o modo como o governo federal está impondo as barragens no nosso rio. Nunca fomos consultados a respeito e exigimos que nos ouçam.

Damos todo apoio aos Munduruku que estão ocupando o canteiro de Belo Monte. Queremos que eles saibam que o que eles falam, também representa nossas exigências. Queremos que os Munduruku saibam que eles falam também por nossa comunidade.

Contem com a gente, queremos lutar unidos com vocês.

Rio Tapajós, 28 de maio de 2013.

Associação de Moradores das Comunidades de Montanha e Mangabal
Marialvo Paiva dos Anjos
Presidente

Comments (5)

  1. O Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal no Estado do Pará – SINTSEP-PA, apóia a luta dos Mundurukus contra a construção da barragem de Belo Monte. Desde o início participamos dessa importante luta. Belo Monte é um ataque ao meio ambiente, portanto que atinge a todos nós. Repudiamos a criminalização do governo em relação aos que lutam, em particular aos povos indígenas, bem como repudiamos e exigimos o fim da militarização na Amazônia para impor os grandes projetos que só beneficiam os lucros das grandes empreitieras. Todo apoio do SINTSEP-PA à resistência indígena!

  2. Acredita-se que a luta dos povos indígenas é uma forma justa de enfrentar as injustiças sociais. Afinal, a luta é um instrumento em defesa da vida. “A união faz a força”, é também a forma de fazer ouvir a nossa voz.

  3. Unidos pra Lutar é nossa palavra de ordem. Só assim nos ouvem, só assim nos vêem. Os Mundurukus falam por todos nós, que não queremos a destruição dos nossos rios e a destruição de nossas florestas. Não à Belo Monte! Não ás hidrelétricas no Tapajós!

  4. Este exemplo deveria ser seguido por todos os que lutam. É preciso unificar todas os combates em um grande movimento nacional e mesmo interacional.Divididos, alguns pensam que podem que podem chegar primeiro a alguma conquista, mas unidos, iremos mais longe.

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