Errata: Ao contrário do noticiado pela Agência Brasil, a ocupação de Belo Monte não acabou

Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

Publicamos a matéria abaixo deste vídeo às 18 horas, após ficarmos desde as 16:30 buscando, juntamente com outras pessoas igualmente preocupadas, confirmar a informação da Agência Brasil de que a ocupação de Belo Monte teria terminado, após decisão judicial. Demos a notícia com toda a cautela, já a partir do título e utilizando todos os condicionais possíveis, mas com uma preocupação legítima, já que tanto o blog quanto o twitter da Ocupação estavam silenciosos desde cerca das 14 horas. Lamentavelmente, não houve sequer um rápido desmentido que fosse em relação à notícia da Agência.

Finalmente (e felizmente), o twitter voltou a funcionar. As duas mensagens, postadas entre 18:45 e 18:50, dizem: “Saweh! Não é uma reintegração de posse que irá nos tirar daqui” e “Nós somos os indígenas ocupados em Belo Monte e ainda estamos aqui. Existe uma decisão da Justiça e nós decidimos ficar. A ocupação continua”. Com a primeira, foi lançado um vídeo, que reproduzimos abaixo. E, em seguida, nossa notícia das 18 horas, com a informação errada da Agência Brasil e algumas considerações outras:

Teoricamente, a ocupação de Belo Monte acabou. Não sabemos como, e isso preocupa…

Atenção: segundo informação ao pé de matéria da Agência Brasil, os Munduruku e seus companheiros teriam deixado o canteiro de obras de Belo Monte por volta das 16 horas. A retirada teria sido em obediência a decisão judicial tomada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

Até a hora de lançar o Boletim, estamos tentando conseguir informações, sem resultado. O Estadão, por exemplo, mantém exatamente a matéria do final da manhã, com a manchete “Índios prometem reagir contra reintegração de posse em Belo Monte”. A Agência Brasil, fora a notinha de atualização praticamente escondida ao pé da matéria “Belo Monte teve 92 dias de paralisações por causa de protestos, diz consórcio”, continua em silêncio. E a tensão só aumenta.

Aliás curiosa matéria, na qual Avelino Ganzer, Chefe do escritório local da Secretaria-Geral da Presidência da República em Altamira, afirmava que o governo tem manifestado “reiteradamente” interesse em dialogar com os índios. E acrescentava:

“Fui conversar com eles pessoalmente, mas até agora nenhuma proposta foi apresentada [pelos índios]. No dia 8 de maio, o governo federal entregou à liderança munduruku uma proposta assinada pelo ministro Gilberto Carvalho, se comprometendo em recebê-los em Brasília para discutir todos os problemas que os afetam. Além disso, nos disponibilizamos a enviar o secretário nacional de Articulação Social, Paulo Maldos, ligado diretamente à Presidência da República, a Jacareacanga ou Itaituba para discutir a Convenção 169 da OIT. Infelizmente, tem sido difícil convencê-los a estabelecer diálogo”. (…)

“Só que, no dia 26, chegou mais um ônibus vindo de Jacareacanga, com cerca de 40 índios. Então, na madrugada do dia 27, eles retomaram a invasão. Para nós, é claro que há um monte de cabeças não indígenas influenciando essas ações, construindo um processo de radicalização extrema, que nega qualquer processo de negociação equilibrado. Isso pode resultar em ações extremadas e perigosas”.

O negrito, é claro, é deste Blog. Para quem não sabe, Avelino Ganzer foi, no passado, liderança sindical extremamente engajada e um dos fundadores da CUT.

Onde está Chico Buarque para cantar “Quem te viu, quem te vê?”. Aliás, talvez este devesse ser o nosso atual Hino Nacional.

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