Há exatamente 76 anos atrás, em 27 de abril de 1937, morreu Antonio Gramsci, comunista italiano.
Cronologia da vida de Antonio Gramsci (da edição brasileira dos Cadernos – 1999)
Estuda bastante, freqüentando no ano letivo 1912-1913 vários cursos nas Faculdades de Letras e de Direito. Contudo, por causa das precárias condições de saúde, não consegue prestar nenhum exame.
Lê assiduamente La Voce e L´Unità, jornais dirigidos respectivamente por Giuseppe Prezzolini e Gaetano Salvemini, importantes intelectuais italianos da época. Com alguns amigos, projeta fundar uma revista socialista. Gramsci se põe ao lado dos grupos mais radicais de operários e estudantes (socialistas, libertários, etc.), que formam em Turim a fração da esquerda revolucionária.
Outubro. Intervém no debate sobre a posição do PSI diante da guerra, com o artigo “Neutralidade ativa e operante” (Il Grido del Popolo, 31 de outubro), polemizando com o amigo Angelo Tasca, que era favorável à “neutralidade absoluta”. Um dos seus professores informa à fundação que lhe concede a bolsa que “o jovem sofre periodicamente de crises nervosas que o impedem de cumprir plenamente suas tarefas acadêmicas”.
1915
No inverno de 1914-15, segue um curso de filosofia teórica ministrado por Annibale Pastore, do qual recebe também aulas particulares. Em abril, presta exames de literatura italiana; depois disso, abandona a Universidade, embora — pelo menos até 1918 — pareça continuar afirmando sua intenção de graduar-se em glotologia.
No outono, volta a colaborar em Il Grido del Popolo, semanário socialista, com uma série de notas e artigos de tema social e literário. Em dezembro, passa a fazer parte da redação turinense do Avanti!, o cotidiano do PSI.
1916
Fevereiro. Quando ainda era (como dirá depois nos Cadernos) “sobretudo tendencialmente crociano”, organiza e redige o número único de La Città Futura, uma publicação da Federação Juvenil Socialista do Piemonte, na qual publica os artigos “Três princípios, três ordens”, “Indiferentes”, “A disciplina” e “Margens”, bem como escritos de Benedetto Croce e Salvemini.
Em alguns artigos e notas publicados em Il Grido del Popolo, em abril e julho, exalta a figura de Lenin e chama a atenção para o caráter socialista da Revolução Russa.
Setembro. Depois da rebelião operária de 23-26 de agosto e da prisão de quase todos os dirigentes socialistas de Turim, Gramsci se torna secretário da Comissão Executiva Provisória da seção turinense do PSI e assume, de fato, a direção de Il Grido del Popolo, ao qual dedica, até outubro de 1918, “boa parte de seu tempo e da sua freqüentemente tumultuada atividade”.
18-19 de novembro. Participa em Florença da reunião clandestina da “fração intransigente revolucionária” do PSI, constituída no mês de agosto. Estão presentes a essa reunião, entre outros, Giacinto Menotti Serrati (principal líder da corrente maximalista, majoritária, do PSI) e Amadeo Bordiga (líder da fração maximalista abstencionista, e que seria depois um dos fundadores do Partido Comunista da Itália, PCI). Gramsci concorda com Bordiga sobre a necessidade de uma intervenção ativa do proletariado na crise provocada pela guerra.
Dezembro. Propõe a criação em Turim de uma associação proletária de cultura e afirma a necessidade de complementar a ação política e econômica dos socialistas com um organismo de atividade cultural. Com alguns jovens, funda um “Clube de vida moral”, sobre o qual consulta o pedagogo idealista Giuseppe Lombardo Radice.
12 de janeiro. Acusado de “voluntarismo”, polemiza com Claudio Treves, um expoente da corrente reformista do PSI, no artigo “A crítica crítica”, publicado em Il Grido del Popolo.
Abril-junho. O nome de Gramsci figura com freqüência nos relatórios da polícia, juntamente com o dos dirigentes socialistas ligados à “fração intransigente revolucionária”. Para comemorar o centenário de Marx, publica em Il Grido del Popolo (de 4 de maio) o artigo “O nosso Marx”.
Em abril, Gramsci, Tasca, Togliatti e Umberto Terracini decidem criar a revista L’Ordine Nuovo [A Nova Ordem], com o subtítulo “Resenha semanal de cultura socialista”. Gramsci é o secretário de redação. Em 1º de maio, sai o primeiro número da revista, que, ao lado do título, traz a seguinte palavra de ordem: “Instruí-vos, porque precisamos da vossa inteligência. Agitai-vos, porque precisamos do vosso entusiasmo. Organizai-vos, porque carecemos de toda a vossa força”. Embora seja difundida quase somente em Turim e no Piemonte, a revista passa, em um ano, de 3.000 leitores e 300 assinantes para, respectivamente, 5.000 e 1.100. Em maio, Gramsci é eleito para a Comissão Executiva turinense do PSI.
Junho. Com o artigo “Democracia operária” (L´Ordine Nuovo, 21 de junho), Gramsci coloca o problema das comissões internas de fábrica como “centros de vida proletária” e futuros “órgãos de poder proletário”. Além disso, traduz e publica na revista textos de Lenin, Zinoviev, Béla Kun, Barbusse, Romain Rolland, Gorki, etc.
Julho. Gramsci é preso por alguns dias, durante a greve política de solidariedade às repúblicas comunistas da Rússia e da Hungria. Em 26 de julho, L´Ordine Nuovo publica o “Programa da fração comunista”, o primeiro documento oficial da fração comunista abstencionista do PSI, dirigida por Bordiga. O texto já havia sido publicado em Il Soviet, o jornal do grupo bordiguiano.
Na discussão que antecede o congresso do PSI em Bolonha (5-8 de outubro), o grupo de L´Ordine Nuovo declara-se a favor da tese “maximalista eleitoralista” de Serrati, que obtém a maioria dos votos. O Congresso de Bolonha delibera pela adesão à Internacional Comunista (IC).
Janeiro-fevereiro. Gramsci publica em L´ordine nuovo o “Programa de ação da seção socialista de Turim”, para cuja Comissão Executiva é reeleito, junto com Togliatti. Participa das atividades da “escola de cultura” promovida pela revista a partir de novembro de 1919, dando algumas lições sobre a Revolução Russa. Cria em Turim, com outros companheiros, o círculo socialista sardo.
28 de março. Tomando como pretexto a chamada “greve dos ponteiros” (através da qual os trabalhadores protestavam contra a decretação do horário de verão), os industriais turinenses decidem pelo locaute dos estabelecimento metalúrgicos e põem como condição para a retomada do trabalho que as comissões internas renunciem ao método das eleições através dos comissários de seção.
13 de abril. É proclamada a greve geral, à qual aderem mais de 200 mil trabalhadores de Turim, mas o movimento não se amplia em escala nacional.
24 de abril. A greve se esgota, com uma vitória substancial dos patrões. A regulamentação da disciplina interna da fábrica volta a ser assumida pela direção das empresas. A greve de abril, apoiada por Gramsci e pelo grupo de L´Ordine Nuovo, é desaprovada pela CGL e pela direção nacional do PSI.
8 de maio. L´Ordine Nuovo publica a moção “Para uma renovação do Partido Socialista”, elaborada por Gramsci e apresentada no Conselho Nacional do PSI pelos representantes da seção socialista de Turim.
Junho-julho. Aprofunda-se o conflito entre Gramsci e Tasca sobre o problema da função e da autonomia dos conselhos de fábrica. Gramsci e L´Ordine Nuovo apóiam a iniciativa para a constituição em Turim dos “grupos comunistas de fábrica”, base do futuro Partido Comunista (cf. Gramsci, “Os grupos comunistas”, L´Ordine Nuovo, 17 de julho).
O II Congresso da Internacional Comunista (IC), realizado entre 19 de julho e 7 de agosto em Moscou, fixa as condições para a aceitação dos partidos nacionais (os chamados “21 pontos”). Esse congresso convida o PSI a expulsar os reformistas e se pronuncia a favor da “utilização das instituições burguesas de governo tendo em vista a sua destruição”. Bordiga expõe a posição do grupo de L´Ordine Nuovo, não representado no Congresso. Lenin, apesar da discordância da delegação italiana, define a moção de Gramsci, “Para uma renovação do Partido Socialista”, como “plenamente correspondente aos princípios da Internacional Comunista”.
Agosto. Gramsci se afasta de Togliatti e Terracini e não aceita ingressar na fração comunista eleitoralista da seção socialista de Turim, agrupando em torno de si um pequeno grupo de “Educação comunista”, que se aproxima dos abstencionistas bordiguianos.
Setembro. Participa do movimento de ocupação das fábricas. Numa série de artigos publicados na edição turinense do Avanti!, adverte os operários contra a ilusão de que a ocupação pura e simples das fábricas resolva por si só o problema do poder; sublinha a necessidade de criar uma defesa militar operária.
Outubro. Empenha-se na fusão dos diversos grupos (abstencionista, comunista eleitoralista e de “Educação comunista”) da seção socialista de Turim. Participa em Milão da reunião dos diversos grupos comunistas que aceitam os “21 pontos” da IC.
28-29 de novembro. Participa do congresso de Ímola, onde é constituída oficialmente a fração comunista do PSI (conhecida como “fração de Ímola”).
1º de janeiro. Sai em Turim o primeiro número de L´Ordine Nuovo diário (na primeira página, o dito de Lassalle: “Dizer a verdade é revolucionário”). Na redação, entre outros, estavam Togliatti e Alfonso Leonetti. Entre os colaboradores, encarregado da crítica teatral, destaca-se o nome de Piero Gobetti, o jovem revolucionário liberal de quem Gramsci era amigo.
15-21 de janeiro. Participa em Livorno no XVII Congresso do PSI. A tese do grupo de Ímola (“comunista pura”), defendida por Terracini, Bordiga e os delegados da IC, obtém 58.783 votos. A tese de Florença (“comunista unitária”), representada por Serrati, obtém a maioria dos votos: 98.028 votos; a de Reggio Emilia (reformista), 14.695 votos. Em 21 de janeiro, os delegados da fração comunista decidem constituir o “Partido Comunista da Itália. Seção italiana da Internacional Comunista”. Gramsci faz parte do Comitê Central do novo Partido.
Na polêmica jornalística do período, Gramsci ataca tanto os “mandarins” do sindicato e os reformistas quanto o centrismo maximalista do PSI. Numa série de artigos, começa a analisar o conteúdo de classe do movimento fascista.
Nas eleições de 15 de maio, é pela primeira vez candidato a deputado pelo PCI, na província de Turim, mas não é eleito.
Outubro. No XVIII Congresso do PSI, a corrente maximalista de Serrati reafirma sua adesão à Internacional Comunista.
20-24 de março. Participa em Roma do II Congresso do PCI, que aprova por grande maioria (31.089 votos contra 4.151) as chamadas “teses de Roma”, que polemizam implicitamente contra a tática da “frente única” proposta por Lenin e pela IC. Gramsci crê que a tática da “frente única” pode ser aplicada no terreno sindical, mas não naquele das alianças políticas. No Congresso, surge uma minoria alinhada com as posições da IC (da qual participa, entre outros, Angelo Tasca), que depois seria conhecida como “fração de direita”. Gramsci é indicado para representar o Partido em Moscou, junto ao Comitê Executivo da IC.
Junho. Chega em Moscou e logo participa da Segunda Conferência do Executivo Ampliado da IC. Passa a fazer parte do Executivo da IC. Depois da Conferência, é internado durante alguns meses numa clínica para doenças nervosas perto de Moscou. Lá conhece Julia Schucht, que se tornaria sua mulher.
Setembro. Convidado por Trotski, escreve uma nota sobre o futurismo italiano, que será publicada por este último como apêndice a seu livro Literatura e revolução (1923).
1-4 de outubro. O XIX Congresso do PSI resolve expulsar a corrente reformista e reafirma sua adesão à IC.
28 de outubro. Com a “marcha sobre Roma”, que pressiona a monarquia, os fascistas chegam ao governo, com a nomeação de Mussolini para a chefia do gabinete. Começa para o PCI um período de ilegalidade de fato. No Partido, como Trotski recordará em 1932, ninguém admitia a possibilidade de uma ditadura fascista, “salvo Gramsci”.
Fevereiro. Enquanto Gramsci estava em Moscou, a polícia prende na Itália vários membros do Comitê Executivo do PCI (entre os quais Bordiga) e muitos dirigentes regionais. Uma ordem de prisão é emitida também contra Gramsci. Isso condiciona uma mudança na composição do Comitê Executivo do Partido, do qual passa a fazer parte, entre outros, Togliatti.
Abril-maio. Da prisão, Bordiga manda um comunicado à direção do Partido, criticando a ação da IC em favor da unidade com o PSI. O apelo, inicialmente aceito (ainda que com alguma perplexidade) por Togliatti, Terracini, Scoccimarro e outros, tem a oposição de Gramsci, que se recusa a assiná-lo. Terracini se transfere para Moscou e a direção do PCI na Itália é assumida por Togliatti.
12-23 de junho. Junto com Terracini, Tasca e Scoccimarro, Gramsci participa dos trabalhos da Terceira Conferência do Executivo Ampliado da IC e pronuncia um discurso sobre a “questão italiana”. Terracini assume em Moscou o lugar de Gramsci, que é designado para Viena.
Agosto. Bordiga se demite do Comitê Central do PCI.
12 de setembro. Numa carta ao Comitê Executivo do Partido, Gramsci comunica a decisão do Executivo da IC de publicar um novo jornal operário com a colaboração do grupo dos “terceiristas” (assim conhecidos por defenderem, no interior do PSI, a adesão à Terceira Internacional ou Internacional Comunista). Propõe que o jornal tenha como título L´Unità. Nessa carta, pela primeira vez, Gramsci enuncia o tema da aliança entre os estratos mais pobres da classe operária do Norte e as massas camponesas do Sul.
Setembro-outubro. Em Milão, a polícia prende os membros do novo Comitê Executivo do PCI. Denunciados por conspiração contra o Estado, são liberados depois de três meses de prisão. O processo contra Bordiga, Ruggiero Grieco e outros dirigentes comunistas se conclui com uma absolvição geral.
Novembro. É tomada a decisão de transferir Gramsci para Viena, com a tarefa de manter a ligação com o PCI e com outros partidos comunistas europeus.
Janeiro. Projeta fundar uma revista trimestral de estudos marxistas e de cultura política, com o título Critica Proletaria. Projeta também uma nova série de L´Ordine Nuovo. Pede a colaboração de Piero Sraffa e de Zino Zini, ao qual propõe também a tradução de uma antologia de Marx e Engels sobre o materialismo histórico.
9 de fevereiro. Numa carta a Togliatti e Terracini, expõe pela primeira vez, de modo amplo, sua concepção do Partido no quadro nacional e internacional e anuncia o propósito de trabalhar pela criação de um novo grupo dirigente comunista, alinhado com as posições da IC. Reconfirma sua recusa de assinar o apelo de Bordiga.
12 de fevereiro. Sai em Milão o primeiro número de L´Unità. Quotidiano degli operai e dei contadini, o qual, a partir de 12 de agosto, com o ingresso dos “terceiristas” no PCI, passa a ter como subtítulo Organo del PCd´I e a ser dirigido por Alfonso Leonetti. A tiragem oscila de um máximo de 60-70 mil exemplares, no período da crise Matteotti, a um mínimo de 20-30 mil exemplares. No número de 22 de fevereiro, aparece o artigo “O problema de Milão”, no qual Gramsci coloca o “problema nacional” da conquista do proletariado socialdemocrata milanês.
1 de março. Preparado em grande parte por Gramsci, sai em Roma o primeiro número do quinzenário L´Ordine Nuovo. Rassegna di politica e di cultura operaia, III série. No cabeçalho, lê-se: “L´Ordine Nuovo se propõe suscitar nas massas dos operários e camponeses uma vanguarda revolucionária, capaz de criar o Estado dos conselhos de operários e camponeses e de fundar as condições para o advento e a estabilidade da sociedade comunista”. O editorial de Gramsci, intitulado “Líder”, é dedicado a Lenin, recém-falecido. No segundo número, de 15 de março, publica o artigo “Contra o pessimismo”. Em La Correspondance Internationale de 12 de março, aparece um seu artigo sobre “Le Vatican”.
6 de abril. É eleito deputado pelo distrito do Vêneto, obtendo 1.856 votos dos 32.383 dados ao PCI.
12 de maio. Regressa à Itália depois de dois anos de ausência. Na segunda metade de maio, participa da I Conferência Nacional do PCI, que se reúne clandestinamente perto de Como. O informe político é apresentado por Togliatti. Gramsci critica a linha política de Bordiga, mas a grande maioria dos quadros partidários continua ligada às posições da esquerda bordiguiana. Gramsci entra no Comitê Executivo do Partido.
Junho. Transfere-se para Roma, onde mora na Via Vesalio, na casa da família Passarge, que o considera “um professor muito sério”. Togliatti substitui Gramsci como delegado ao V Congresso da IC.
10 junho. Giacomo Matteotti, deputado socialista, é assassinado depois de pronunciar na Câmara um duro discurso contra o governo fascista. Esse crime, evidentemente cometido pelos fascistas, abre na Itália uma intensa crise política. Gramsci, na condição de deputado, participa das reuniões das oposições parlamentares (“Comitê dos 16”): propõe um apelo às massas e à greve geral política. Nas semanas seguintes, trava uma batalha contra a passividade e o legalismo do “Aventino” (nome com o qual se torna conhecido o grupo dos parlamentares de oposição que abandonam o Parlamento dominado pelos fascistas e se reúnem à parte) e em favor da unidade de todas as forças operárias.
Em Moscou, o V Congresso da IC (17 de junho-8 de julho) lança a campanha pela “bolchevização” dos vários partidos comunistas e confirma a tática da “frente única” e a palavra de ordem do “governo operário e camponês”. Togliatti e Bordiga são eleitos para o Executivo da IC.
Julho. Na primeira quinzena de julho, Gramsci intervém no Comitê Central sobre a política do PCI e das oposições antifascistas diante da crise do fascismo.
Agosto. A fração dos “terceiristas”, liderada por Serrati, dissolve-se e ingressa no PCI. Gramsci torna-se secretário-geral do Partido. Em 13-14 de agosto, apresenta um informe ao Comitê Central sobre “As tarefas do Partido Comunista diante da crise da sociedade capitalista italiana”, publicado depois em L´Ordine Nuovo, com o título “A crise italiana” (1o de setembro). Participa de reuniões do Partido em Turim e em Milão. Em Moscou, Julia dá à luz o primeiro filho de Gramsci, Delio.
Setembro. Encaminha a transformação da estrutura organizativa do Partido com base em “células”. Participa do congresso regional de Nápoles, onde apresenta o informe do Comitê Central em polêmica com Bordiga.
Outubro. Participa de diversos congressos regionais que devem se pronunciar sobre a nova orientação do Partido. Em 19-22 de outubro, em Roma, apresenta numa reunião do Comitê Central um informe sobre a situação política italiana, tendo em vista a retomada do trabalho parlamentar.
20 de outubro. O grupo parlamentar comunista propõe às oposições “aventinianas” a constituição do Parlamento das Oposições (Antiparlamento). A proposta é recusada. Em final de outubro, Gramsci vai à Sardenha. Entra em contato com o Partido Sardo de Ação. Passa alguns dias com sua família em Ghilarza.
12 de novembro. Quando da reabertura da Câmara, o deputado comunista Luigi Repossi apresenta-se sozinho no plenário e lê uma declaração antifascista. Na sessão de 26 de novembro, todo o grupo parlamentar comunista volta ao plenário, abandonando o chamado “Aventino”.
Janeiro. Nos primeiros dias de janeiro, participa da reunião clandestina do Comitê Executivo realizada em Capanna Mara.
Fevereiro. Colabora na criação de uma escola de partido por correspondência, encarregando-se da redação das apostilas. Em Roma, conhece Tatiana (“Tania”) Schucht, irmã de Julia.
Março-abril. Vai a Moscou para participar dos trabalhos da V Sessão do Executivo Ampliado da IC (21 de março-6 de abril), onde intervém sobre o trabalho de agitação e propaganda.
16 de maio. Pronuncia na Câmara dos Deputados o seu único discurso parlamentar, dirigido contra o projeto de lei sobre as associações secretas, apresentado por Mussolini e Alfredo Rocco. Na segunda quinzena de maio, num informe ao Comitê Central, coloca o problema da “bolchevização” do Partido e abre o debate preparatório ao III Congresso Nacional.
Junho. Numa carta datada de 1o de junho, Bordiga e alguns membros da direção anunciam a constituição de um “comitê de entendimentos” entre os integrantes da esquerda do Partido. Gramsci, em 7 de junho, inicia a polêmica contra a proposta de Bordiga.
1o de julho. Gramsci apresenta um informe ao Comitê Central para examinar a iniciativa da corrente bordiguiana. Considerando-a uma atividade fracionista, a IC determina a dissolução do “comitê de entendimentos”. Nos meses de julho e de agosto, Gramsci participa por toda a Itália de numerosas reuniões para discutir a situação interna do Partido.
Em agosto, em Nápoles, encontra-se com Bordiga e tem com ele uma longa discussão, na presença de dirigentes comunistas locais. É decidida numa reunião, com a participação de Jules Humbert-Droz (delegado da IC) e de representantes do grupo bordiguiano, a dissolução do “comitê de entendimentos”.
Agosto-setembro. Elabora, em colaboração com Togliatti, as teses a serem apresentadas ao III Congresso do PCI, depois conhecidas como “Teses de Lyon”.
Outono. Julia chega a Roma, com Delio, para encontrar-se com Gramsci; mora em Via Trapani, junto com as irmãs Tatiana e Genia.
Janeiro. Participa, na cidade francesa de Lyon (escolhida como local do encontro para evitar a ação repressiva do governo fascista), do III Congresso Nacional do PCI (23-26 de janeiro), no qual apresenta o informe sobre a situação política geral, que seria conhecido como “Teses de Lyon”. O resultado do Congresso constitui uma esmagadora afirmação do novo grupo dirigente comunista liderado por Gramsci: a nova direção obtém 90,8% dos votos, enquanto a esquerda bordiguiana obtém apenas 9,2% (18,9% estiveram ausentes ou não foram consultados). Passam a fazer parte do novo Comitê Executivo, entre outros, Gramsci, Togliatti, Scoccimarro e Camilla Ravera.
Fevereiro-maio. Prepara um relatório sobre o Congresso de Lyon, “Cinco anos de vida do Partido”, que será publicado em L´Unità de 24 de fevereiro. Publica no mesmo jornal, em 14 de maio, o necrológio de Serrati, o velho dirigente maximalista que havia ingressado no PCI junto com os “terceiristas”. Nas semanas seguintes, L´Unità propõe uma subscrição em favor dos mineiros ingleses, empenhados numa grande greve.
Agosto. Nos dias 2-3, apresenta à direção do Partido um informe sobre a crise econômica e sobre a posição a adotar diante das massas operárias e das camadas médias. Desfruta de alguns dias de férias com o filho Delio em Trafòi (Bolzano). Julia, grávida, volta a Moscou, onde pouco depois nasce Giuliano, o segundo filho de Gramsci, que ele jamais conheceu.
14 de setembro. A Conferência Agrária do Partido, realizada clandestinamente em Bari, aprova as “teses sobre o trabalhocamponês”, diretamente inspiradas em Gramsci. Na segunda metade de setembro, a direção aprova uma resolução sobre “A situação política e as tarefas do PCI”, redigida por Scoccimarro em colaboração com Gramsci.
Outubro. Em 14 de outubro, em nome do Birô Político do PCI, envia uma carta ao Comitê Central do PC russo, tratando das lutas de fração no seio do partido bolchevique, que opunham Stalin e Bukharin, por um lado, a Trotski e Zinoviev, por outro. Nessa carta, entre outras coisas, Gramsci chama a atenção sobre o perigo de que tais lutas terminem por anular “a função dirigente que o Partido Comunista da URSS conquistara sob o impulso de Lenin”. A carta foi retida por Togliatti e comunicada apenas a Bukharin. Diante das críticas que Togliatti lhe dirige, Gramsci reafirma seus argumentos numa segunda carta, acusando o amigo de “burocratismo”. No mesmo mês, redige o ensaio, que restou inacabado, “Alguns temas da questão meridional”. Diante da política repressiva do Estado contra as oposições, a direção do PCI se preocupa com a segurança pessoal de Gramsci e organiza um plano que prevê sua transferência clandestina para a Suíça. Gramsci, ao que parece, não concordou com o plano.
Novembro. Entre os dias 1 e 3 de novembro, realiza-se uma reunião clandestina do Comitê Central em Valpocevera, perto de Gênova. Participou dessa reunião J. Humbert-Droz, encarregado pela IC de dar esclarecimentos sobre a luta em curso no partido bolchevique entre a maioria (Stalin, Bukharin) e a oposição (Trotski, Zinoviev, Kamenev). Gramsci, ao dirigir-se para a reunião, é abordado pela polícia e obrigado a voltar para Roma.
8 de novembro. Em conseqüência das “medidas excepcionais” adotadas pelo regime fascista depois de um obscuro atentado contra Mussolini ocorrido em Bolonha, Gramsci — apesar de desfrutar de imunidades parlamentares — é preso junto com outros deputados comunistas e recolhido ao cárcere de Regina Coeli, em isolamento absoluto e rigoroso. Na sessão do dia seguinte, a Câmara dominada pelos fascistas cassa os mandatos não só dos deputados da oposição “aventiniana”, mas também dos parlamentares comunistas, embora esses houvessem regressado à Câmara.
18 de novembro. Com base na Lei de Segurança Pública, Gramsci é condenado ao confinamento por cinco anos, sob controlepolicial. A decisão lhe é comunicada no dia 19. Num primeiro momento, parece que seu destino seja a Somália, então colônia da Itália. Alguns dias depois, porém, é informado de que será confinado numa ilha italiana.
25 de novembro. Deixa a prisão de Regina Coeli, em regime de “transferência ordinária”, junto com outros deputados comunistas. Passa duas noites numa prisão em Nápoles. Em Palermo, onde permanece por oito dias, fica sabendo do seu exato destino: a pequena ilha de Ústica, situada no Mar Tirreno, ao norte da Sicília.
14 de janeiro. O Tribunal Militar de Milão, por ordem do promotor Enrico Macis, emite um mandado de prisão contra Gramsci. Poucos dias depois, em 1o de fevereiro, começa a funcionar o Tribunal Especial para a Defesa do Estado.
20 de janeiro. Gramsci deixa Ústica, tendo como destino o cárcere de Milão. A viagem, novamente em “transferência ordinária”, dura dezenove dias, com estadas nas prisões e nos quartéis de Palermo, Nápoles, Cajanello, Isernia, Sulmona, Castellamare Adriático, Ancona, Bolonha.
7 de fevereiro. Chega a Milão, sendo encarcerado na Prisão de San Vittore. Ocupa uma cela paga, mas é submetido a regime de isolamento nos primeiros tempos. Em 9 de fevereiro, é interrogado pelo promotor Macis. É autorizado a ler alguns jornais e faz uma dupla assinatura na biblioteca da prisão, com direito a oito livros por semana. Recebe também livros e revistas de fora. Pode escrever duas cartas por semana.
Março. Comunica por carta a Tatiana o seu plano de estudos. Pensa em quatro temas: uma pesquisa sobre a história dos intelectuais italianos, um estudo de lingüística comparada, um estudo sobre o teatro de Pirandello e um ensaio sobre os romances de folhetim. “Estou atormentado […] por esta idéia: de que é preciso fazer algo für ewig [para sempre]…”. Pede — mas num primeiro momento não obtém — autorização para ter na cela o necessário para escrever. Decide retomar o estudo de línguas. Em 20 de março, é novamente interrogado pelo promotor Macis.
Abril. É transferido para uma nova cela. Sofre de insônia e não dorme mais do que três horas por noite. Durante o “passeio”, encontra Ezio Riboldi, deputado comunista, ex-“terceirista”.
Maio. Para assistir Gramsci de perto, a cunhada Tatiana se transfere de Roma para Milão.
2 de junho. Gramsci é novamente interrogado pelo promotor Macis.
Agosto-setembro. É visitado em agosto pelo irmão Mario. Algum tempo depois, recebe a visita de Sraffa. Em setembro, renuncia momentaneamente à leitura de jornais e passa as tardes conversando na cela com um jovem prisioneiro de Monza. De setembro de 1927 a janeiro de 1928, tem freqüentes encontros com Tatiana.
Outubro. Encomenda livros e revistas de tema sardo. Pede à mãe e a Tatiana que lhe enviem o Breviario di neolinguistica de Bertoni e Bartoli. Toma conhecimento da doença nervosa da mulher Julia.
13 de fevereiro. Manda uma carta ao promotor Macis, denunciando as intrigas de um tal Melani, agente provocador da polícia.
Março. Recebe no cárcere uma carta enviada de Moscou, com data de 10 de fevereiro, assinada por “Ruggero” (Ruggero Grieco, dirigente do PCI no exílio), com manifestações de solidariedade e informações políticas. Seu interrogador, o promotor Macis, insinua-lhe malevolamente que “ele tem amigos que querem prejudicá-lo”. Gramsci, que já num primeiro momento considera a carta “estranha”, aumenta as suas desconfianças à medida que se passam os anos de prisão. Em 5 de dezembro de 1932, numa carta a Tatiana, chega mesmo a dizer: “Lendo-me algumas passagens da carta, o promotor observou que ela podia ser […] catastrófica para mim […]. Tratou-se de um ato celerado, ou de uma leviandade irresponsável ? É difícil dizer; podem ter sido as duas coisas ao mesmo tempo. Pode ser que quem escreveu fosse só irresponsavelmente estúpido e que um outro, menos estúpido, o tenha induzido a escrever”. Com base na dura polêmica epistolar que Gramsci travara em 1926 com Togliatti, acerca das lutas de fração no PC russo, alguns autores supõem que, quando fala de um provável “ato celerado” de alguém “menos estúpido”, ele poderia estar se referindo a Togliatti.
19 de março. É comunicada a Gramsci a decisão de submetê-lo a processo, decisão tomada pela promotoria do Tribunal Especial. Indica para sua defesa o advogado Giovanni Ariis, de Milão.
3 de abril. Envia um memorial ao presidente do Tribunal Especial. No fim do mês, toma conhecimento da data do processo: 28 de maio. Prevê uma condenação de 14 a 17 anos de prisão. Tem um encontro com o advogado Ariis.
11 de maio. Parte para Roma em regime de “transferência extraordinária” (mas num vagão-cela), junto com outros companheiros. No dia seguinte, é preso em Regina Coeli, numa cela partilhada com Terracini e Scoccimarro.
28 de maio. Começa no Tribunal Especial o chamado “processão” contra Gramsci e o grupo dirigente do PCI (Terracini, Roveda, Scoccimarro, etc.). Em relação a Gramsci, o promotor Michele Isgrò afirma: “Devemos impedir esse cérebro de funcionar durante vinte anos”.
4 de junho. Gramsci é condenado a 20 anos, 4 meses e 5 dias de reclusão.
22 de junho. Destinado num primeiro momento à penitenciária de Portolongone, Gramsci é submetido a uma visita médica especial: sofre de uricemia crônica e, por isso, é tomada a decisão de enviá-lo para a Casa Penal Especial de Turi, na província de Bari.
8 de julho. Deixa Roma em regime de “transferência ordinária”. A viagem dura doze dias, com longas paradas em Caserta, Benevento, Foggia.
19 de julho. Chega a Turi, onde recebe o número de matrícula 7047. É colocado numa cela com outros cinco presos políticos. Pode escrever aos familiares a cada quinze dias. O irmão Carlo encaminha uma petição para que lhe seja concedida uma cela individual e a permissão de escrever.
Agosto. Gramsci obtém uma cela individual. Fica ao lado do posto de guarda e, por isso, é continuamente vigiado pelos carcereiros. Nos primeiros tempos de sua permanência em Turi, como recordam os companheiros, recebe freqüentes visitas do pároco local.
Janeiro. Obtém permissão para escrever na cela. Projeta fazer leituras sistemáticas e aprofundar certos temas, encomendando livros. Começa a fazer traduções.
Fevereiro. Começa a redigir notas, apontamentos, etc., no primeiro dos Cadernos do cárcere, em cuja primeira linha está escrita, pelo próprio Gramsci, a data de 8 de fevereiro de 1929. Até o momento de sua transferência para a prisão de Civitavecchia, em novembro de 1933, ele já terá completado ou iniciado a redação de 21 cadernos.
Março. Especifica a Tatiana o seu plano de estudos: a história italiana do século XIX e, em particular, a formação e o desenvolvimento dos grupos intelectuais; a teoria e a história da historiografia; o americanismo e o fordismo.
Abril. Recebe uma visita de Tatiana.
Julho. Pede notícias a Tatiana sobre os resultados da petição encaminhada por Terracini à Suprema Corte, depois da sentença do Tribunal Especial. Pede também as atas parlamentares com o texto taquigráfico das discussões sobre a Concordata, ou seja, o acordo entre o governo fascista e a Igreja Católica, que levaria, entre outras coisas, à criação do Estado do Vaticano e à regulamentação do ensino religioso nas escolas públicas italianas.
Agosto. Projeta um estudo sobre o Canto X do “Inferno” de Dante, que depois ocupará uma parte do Caderno 4.
Novembro. Recebe uma visita do irmão Carlo. Traduz do alemão e se propõe estudar o russo a fundo.
Fevereiro. Gramsci pede a Carlo que lhe consiga uma cópia da sentença de 4 de junho de 1928 do Tribunal Especial, que chegará às suas mãos em abril.
Junho. Recebe na prisão a visita de Tatiana e do irmão Gennaro, enviado por Togliatti para pô-lo a par dos conflitos internos do grupo dirigente do PCI, que culminaram na expulsão de Leonetti, Tresso e Ravazzoli.
Julho. Gramsci se beneficia do indulto de 1 ano, 4 meses e 5 dias. Fica sabendo que a mulher Julia foi internada numa casa de saúde. Tem um novo encontro com o irmão Gennaro.
Agosto. Encarrega Carlo de fazer uma petição para que seja autorizado a ler, entre outros, os livros escritos por Trotski depois desua expulsão da União Soviética. A carta é retida pelo diretor da prisão.
Setembro. Envia outra petição solicitando autorização para ler alguns dos livros já indicados ao irmão. A petição é deferida. Entre o final de setembro e o início de outubro, recebe nova visita de Carlo.
Novembro. Sofre de insônia, devida em parte às condições de vida na prisão (rumores noturnos, etc.).
Abril-maio. Em abril, numa localidade alemã entre Colônia e Düsseldorf, tem lugar o IV Congresso do PCI. Em conversas com os companheiros sobre a possibilidade de uma revolução comunista na Itália, Gramsci reafirma a necessidade de uma fase democrática, “capaz de operar em profundidade nas estruturas do Estado monárquico e de abalar até os fundamentos as velhas instituições” (segundo o testemunho de E. Riboldi).
Junho. Recebe algumas obras de Marx, na tradução francesa publicada pelas edições Costes, de Paris, bem como o suplemento do Economist sobre o primeiro plano qüinqüenal soviético.
Agosto. Gramsci sofre uma primeira grave crise. “À uma da manhã de 3 de agosto […], dei inesperadamente uma golfada de sangue”. É visitado pelo irmão Carlo. Também o amigo Sraffa vai a Turi, mas não consegue autorização para visitar Gramsci.
Setembro. Transmite a Tatiana, para que o faça chegar a seu antigo professor Umberto Cosmo, com quem já tentara se comunicar em fevereiro, o esquema para o ensaio sobre o Canto X do “Inferno”.
No curso do ano, é projetada uma troca de prisioneiros políticos entre a União Soviética e a Itália, na qual Gramsci seria envolvido. O projeto tem sua aprovação, mas não chega a se concretizar.
Agosto. Tatiana sugere a Gramsci a visita de um médico de confiança. Em carta a Tatiana (29 de agosto), escreve: “Cheguei a tal ponto que minhas forças de resistência estão para entrar em completo colapso, não sei com que conseqüências”.
15 de setembro. Tatiana apresenta ao Chefe de Governo, sem que Gramsci o saiba, uma petição para que o preso receba no cárcere a visita de um médico de confiança. Em outubro, é visitado pelo médico da prisão.
Novembro. Depois das medidas de anistia decorrentes da comemoração dos primeiros dez anos de regime fascista, a condenação de Gramsci é reduzida para 12 anos e 4 meses. Com base nessa nova condição jurídica, Piero Sraffa se empenha nos meses seguintes para que seja concedida a Gramsci liberdade condicional. As autoridades insistem para que Gramsci apresente um pedido de graça. Em Turi, por ordem do Ministério, os presos políticos são submetidos ao regime de isolamento. Com a cumplicidade de alguns carcereiros, Gramsci evita a proibição e retoma contato com os companheiros (entre os quais, o socialista Sandro Pertini, que viria a ser, nos anos 80, presidente da República italiana).
Janeiro. Tatiana se muda para Turi, onde permanece, salvo breves viagens a Roma, até o verão. Encontra-se freqüentemente com Gramsci.
Fevereiro. O Ministério acolhe a petição de Tatiana e autoriza que Gramsci seja visitado na prisão por um médico de confiança.
7 de março. Tem uma segunda grave crise. (“Na terça-feira passada, de manhã cedo, quando me levantava da cama, caí no chão e não mais consegui me erguer sozinho”.) Durante duas semanas, dia e noite, em turnos de 12 horas, é assistido por um companheiro de Bolonha, Gustavo Trombetti, e por um operário de Grosseto. Tatiana visita Gramsci, que a informa de seu projeto de transferência para a enfermaria de uma outra prisão. G. Trombetti passa a viver na cela de Gramsci, como seu assistente (“plantonista”), até novembro. É retirada de Gramsci, por um certo tempo, a autorização de ter consigo o necessário para escrever.
20 de março. Recebe na prisão a visita do professor Umberto Arcangeli. Arcangeli sugere a necessidade de um pedido de graça, mas — diante da oposição de Gramsci e por solicitação de Tatiana e de Sraffa — a menção a isso é retirada do relatório do médico. Neste, Arcangeli declara: “Gramsci não poderá sobreviver por muito tempo nas atuais condições; considero ser necessária sua transferência para um hospital civil ou para uma clínica, a não ser que seja possível conceder-lhe a liberdade condicional”.
18 de abril. Recebe a visita do professor Filippo Saporito, inspetor médico.
Maio-junho. A declaração do professor Arcangeli é publicada em L´Humanité (maio) e no Socorso Rosso (junho). Em Paris, é criado um comitê para a libertação de Gramsci e das vítimas do fascismo, do qual fazem parte, entre outros, os famosos escritores Romain Rolland e Henri Barbusse. Azione Antifascista dedica grande parte do número de junho à figura de Gramsci. Os cadernos de Giustizia e libertà, órgão dos liberal-socialistas, publicam um ensaio assinado por “Fabrizio” (U. Colosso) sobre “Gramsci e L´Ordine Nuovo” (agosto).
Agosto. Carlo e Tatiana encontram-se várias vezes com Gramsci em Turi. Carlo se ocupa das petições para obter sua transferência de Turi.
Outubro. É finalmente aceita a petição para a transferência de Gramsci. A chefatura de polícia escolhe a clínica do Dr. Giuseppe Cusumano, em Formia. O Tribunal Especial recusa a petição relativa à aplicação do decreto de indulto de novembro de 1932.
19 de novembro. Gramsci deixa a penitenciária de Turi e é transitoriamente transferido para a enfermaria da prisão de Civitavecchia, onde tem um um encontro com Tatiana.
Setembro. É retomada vigorosamente no exterior a campanha pela libertação de Gramsci: Romain Rolland publica um opúsculo sobre ele.
Abril. Pede para ser transferido para a clínica Poggio sereno, de Fiesole.
Junho. Sofre uma nova crise. Renova o pedido para ser transferido da clínica Cusumano.