SP – “Cidadão é violentamente agredido pela Guarda Municipal de São Sebastião”… Mas ele é negro e caiçara, uai!!

Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

“Repudio ação truculenta da Guarda Municipal de São Sebastião-SP. Na sexta-feira, dia 12 de abril, por volta das 18h, na praça de SK8 da Rua da Praia, Centro, próximo a minha residência, fui abordado por três guardas municipais. Os GM me abordaram querendo me revistar. 

Ao questionar o procedimento, logo vieram com gás de pimenta e torcendo meu braço, me jogaram no chão, me algemaram e, após me algemarem, covardemente fui estrangulado pelos GM.

Isso é uma vergonha! Pagar imposto para ser tratado como bandido! 

Vou procurar meus direitos, sim, e cobrar por uma guarda municipal de qualidade, sem profissionais despreparados! Espero providências das autoridades competentes!”

O fato acima, denunciado por Sonia Mariza Martuscelli em São Sebastião da Depressão, aconteceu ontem com Guilherme Seixas. Não o conheço, mas ele assim se apresenta, ao assinar a denúncia: “caiçara, negro, educador, psicólogo e professor,  dessa forma agredido pela Guarda Municipal de São Sebastião, São Paulo”.

É verdade que já houve tempo, neste País, quando ser educador era coisa suspeita e passível de revista e de prisão (ou até de outras coisas mais). Professor e psicólogo já eram vistos como teoricamente inofensivos; infelizmente, nem sempre ser professor pressupõe um compromisso com o ato de educar. Agora, ser caiçara e negro… Aí as coisas se complicam, mesmo nos dias de hoje. E se complicam de tal forma, que são até naturais para a maioria das pessoas.

Não conheço São Sebastião, mas afinal por que um negro estaria andando de noitinha na Praça da Rua da Praia? Pelo sim, pelo não, melhor prevenir do que remediar…

Esse raciocínio, que ouso presumir tenha sido feito pelos garbosos membros da Guarda Municipal, na verdade se aplicaria a muita gente que não é guarda, não mora em São Sebastião e sequer é paulista. Afinal, “melhor prevenir do que remediar” é o mesmo raciocínio que faz muitas pessoas atravessarem a rua ou fecharem os vidros dos carros (se já não estão fechados, aliás, mesmo que seja inverno e não esteja chovendo) quando determinados tipos suspeitos se aproximam. E acho que não preciso descrever como são esses suspeitos. Nem dizer que serem velhos, jovens ou crianças não faz a mínima diferença.

Postei a denúncia de Guilherme hoje cedo, num momento em que o máximo que podia fazer era jogá-la no blog para tirá-la da invisibilidade. Mas sabia que voltaria a ela por dois motivos: primeiro, porque para mim o assunto não estava encerrado, na medida em que não podia se resumir a algumas linhas de desabafo; segundo, porque ao copiar o texto dele, vi que seu “retrato” no facebook era um dos quadros que mais me tocam e que, incrivelmente, esta semana quase coloquei numa página do blog, bem grande, acompanhado apenas de uma frase que cheguei a comentar com uma amiga: “Quero acordar deste pesadelo”!

O quadro é o que está acima, ao lado da denúncia de Guilherme: “O grito”, de Edvard Munch, uma das mais fortes representações de desespero que conheço. Não sei se Guilherme o adotou ontem, depois de ter passado por essa história absurda, ou se já o usava referindo-se talvez ao mundo que vem nos rodeando. Seja lá como for, acho que a figura do grito silencioso tem tudo a ver não só com a violência da Guarda Municipal de São Sebastião, como com a decisão da meritíssima juíza de Mato Grosso do Sul quanto às terras do fazendeiro assassino confesso; com as mortes de indígenas, sem teto, pescadores e camponeses, Brasil afora; com as expulsões brutais das comunidades urbanas; com a Força Nacional mandada para tirar os Munduruku do caminho do “progresso”…

Não estou, em absoluto, diluindo tua justa revolta misturando-a com outros casos, Guilherme. Estou, sim, buscando socializar a indignação que sinto em relação a ela com outras e outras e mais outras, que acontecem a  todo o momento e que me fazem, às vezes, simplesmente ter vontade de dar por encerrado o trabalho deste blog!

A você,  Guilherme Seixas, caiçara, negro, educador, psicólogo e professor,  agredido ontem pela Guarda Municipal de São Sebastião, São Paulo, a minha solidariedade de brasileira. E o meu mais profundo sentimento de impotência!

Comments (9)

  1. COMBATERACISMOAMBIENTAL – 26 de outubro de 2014 às 09:00
    Não entendi: o fato de que “ele iria fumar maconha” daria à Polícia o direito de agredi-lo???

    Não endenti: onde que alguém tem direito de fumar maconha???? não endento, mais caso acha que tem direito, fuma na sua casa, ou tem vergonha, sofre preconceito da própria família de ser maconheiro, dependente químico, fuma no seu serviço, também sofre preconceito de ser maconheiro lá, ou nem emprego tem, não entendo, onde fumar maconha então, na via publica, na praia, no parque, lá não existe preconceito ou você passa no anonimato como maconheiro, depois em casa como bom filho, se liga, você não tem direito de fumar maconha, muito menos ao lado da minha família, ao lado da família de todos, as crianças tem que ser protegidas, fuma maconha na sua casa, quanto a ser abordado, não deve apanhar, mais sim ser conduzido a delegacia para que seja providenciado cuidado médico como medida altenativas , clinica psiquiatrica, pscologo, pois o maconheiro necessita de cuidados, o maconheiro afronta as familias devido nível de retardamento, caso ache normal, fume na sua casa com seus amigos, irmãos e pais. Na rua, infelizmente, você sabe que não tem direito de fumar, DIREITO, então quem bate também não tem direito, mais a delegacia, o policial, o guarda, tém muito mais o que fazer, então procure seus direitos dizendo que você não tem direito de fumar maconha mais quer seus direitos, nossa, tem que fumar maconha, ser maconheiro para se achar no direito, dificil hein, de entender, acho que deve conduzir um bosta desse realmente para delegacia com uma pituca para que ele procure tratamento, caso ele corra, derrube, caso reaja, use força, caso ele te acompanhe a Delegacia, fique com pena, pois garantia, de direito a mãe tem, toda mãe TEM DIREITO de desejar o bem do filho, ver os filhos longe das DROGAS, MACONHAS, e preferencialmente bem cuidado e em tratamento médico, nenhuma mãe quer seu filho ao lado de maconheiro na praça, não quer seu filho drogado, então, eu, irei conduzir você a delegacia por bem ou por mal, para você doente se tratar.

  2. Ninguém quer uma polícia e uma guarda violenta, ninguém quer saber de seus direitos e deveres, lembro como hoje, um cidadão (paga imposto) questionando seu dever, passeando com um cachorro pitbull sem focinheira e quia curta pela avenida da praia, um rapaz de boa aparência de pele morena, ao ser abordado por solicitação de outros cidadãos (pagam imposto) por este agente publico (que paga imposto), o cidadão questionou por que não poderia passear com seu pitbull pela avenida da praia, foi orientado que apesar de seu cachorro ser manso, constrangiam as demais pessoas os quais ficavam com medo de usar o mesmo passeio devido alguns históricos violentos da raça, bem como existe lei proibindo de conduzir tais animais sem utilizar quia curta, enforcadeira e focinheira, bem, o cidadão (que paga imposto) retrucou que não iria deixar de passear com seu cão e que apenas estava sendo abordado devido tratar de pessoa morena, resumindo, orientado novamente e informado que iria ter que ser conduzido a delegacia, onde o cidadão informou que não iria, somente questionando e desacatando o funcionário, e agora, o que fazer.
    altenativas:
    1. virar as costas e que se dane os solicitantes (que pagam imposto), entrar em atrito por causa de um cachorro não vale a pena;
    2. tentar conduzir o cidadão (que paga imposto) a delegacia a força, independente que outras pessoas (que pagam imposto) irão criticar a truculencia para imobilizar e uso de força para condução;
    3. matar o cachorro;
    4. fazer a segurança do animal e informar a todos cidadãos que o cachorro não é agressivo;
    Mais imaginamso, se usar força para conduzir, todos irão dizer que somos truculentos, se usar força para o cidadão se identificar, dirão que cometemos abuso de autoridade, se virarmos as costas, dirão que somos bananas e caso o cachorro entre em um nível de estresse devido algum acontecimento e morda alguém (isso nunca aconteceu????) então seremos responsáveis por nada ter feito, resumindo, o cidadão sempre acha que tem razão, quanto a fumar maconha, fdp de maconheiro, fuma na sala de sua casa ao lado de sua mãe, pois minha mãe que está na praça e meu filho que está na praia não necessita ver você se drogando e achar que é normal você alucinado dando risada que nem um retardado, muito ser vítima de quem não consegue sustentar o vício devido a oportunidade de uso para após o vício, ainda mais que muitos maconheiros são desocupados, caso você seja um maconheiro ocupado, garanto que você não consegue se responsabilizar por aqueles que são viciados e matam um estudante por causa de uma merda de celular, empurram uma idosa por causa de um colar ou bolsa, rouba um estabelecimento por causa de 50 reais, tudo para usar a maconha oferecida por um playboy, um trabalhador, um educador, um agente publico, o qual consegue ter seu convivio social não modificado mesmo se drogando, maconheiro, fuma maconha na sua casa, em via publica, quem sabe um dia, até o incomodo do cigarro não mais exista.

  3. Não entendi: o fato de que “ele iria fumar maconha” daria à Polícia o direito de agredi-lo???

  4. ESSE CARA PROCUROU A POLICIA,LEVOU A TESTEMUNHA E A PRÓPRIA CONFIRMOU QUE ELE IRIA FUMAR MACONHA………………..

  5. Comentários precisam ter nome, sobrenome e e-mail do remetente. Mas precisam igualmente ser escritos em linguagem respeitosa e bem educada.

  6. Aconteceu comigo.
    Apenas questionei à abordagem. o motivo,já que eram 16:30 de dia …apontaram a arma na minha cabeça, mas mesmo assim questionei e isto os incomodaram. a questão é que eles querem demonstrar serviço com desvios de funções, e toda sociedade tem visto…judiam dos andarilhos e não nos fornece assistencia qualificada, esse guarda municipais ”os que me agrediram” se sentiram no direito de abordar as pessoas as interrogando, batem nas pessoas e se sentem, os superiores, e muitas vezes os são de deixam passar, as pessoas se calam , mas dessa vez, a superioridade deve vir do diaologo na boa função de um fucionario publico…não esquecerei!

  7. Acredito que os Guardas, suspeitaram de algo, alguma atitude que o rapaz poderia ter feito que levasse a ser abordado. Não vejo problema em ser abordado, na verdade é uma precaução, nao custa nada perder uns 3 minutos mostrando o RG e deixando o agente de segurança revistar, “Quem nao deve nao teme”, Certamente se uma pessoa tivesse roubado um pertence seu e passasse pelos agentes sem ser percebido, você ficaria frustado por nâo terem feito nada. Se um ladrão tivesse assaltado você, batido ou até mesmo atirado em você vc nao estaria revoltado.
    Se eles agiram de forma violenta ou você teve que ser contido, por nao querer ser abordado? tem muitas cameras na cidade, creio que alguma deve servir para provar o q você ou eles dizem.

  8. Toda miha solidariedade a Guilherme. ACHO QUE ELE DEVERIA PROCURAR O MINISTÉRIO PÚBLICO E ABRIR UM PROCESSO CONTRA A PREFEITURA DE SÃO SEBASTIÃO, REPONSÁVEL PELA CONTRATAÇÃO DE POLICIAIS VIOLENTOS.

  9. Homenagem à GCM da prefeitura de São Sebastião-SP

    por Guilherme Seixas

    Primeiro eles mataram, mas não era parente da vítima e nem a conhecia.
    “Deveria estar fazendo coisas erradas”
    Depois humilharam os andarilhos, mas não me incomodei com a humilhação.
    “é cômodo ser andarilho”
    Oprimiram os skatistas na área de lazer.
    “skatistas não são dignos de respeito, são só um bando de skatistas”
    Por fim, abordaram um negro, barbudo, na área de lazer, portando uma camisa velha, bermuda e de chinelo de dedo,
    que muito questionador: foi agredido, algemado e torturado, acusado de uso de entorpecentes e roubo de bike… sem provas
    E indignado, o último sujeito, um professor psicólogo faz esses versos contraditórios para pensar e compartilhar:
    A que ponto chegamos e aonde queremos chegar?!!
    “todos os sujeito citados acima são seres humanos e merecem respeito, direito de ir e vir, lazer e de indagar!”

    Séc. XXI com procedimentos medievais! BASTA DE OPRESSÃO!!

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