*Artigo semanal de Frei Gilvander para Combate ao Racismo Ambiental
1. No dia do Natal de 2012, em Porto Alegre, RS, a temperatura chegou a 43º C. Dia seguinte, no Rio de Janeiro, RJ, 43º C. Em Arinos, noroeste de Minas Gerais, o sol está estorricando. Se deixar milho pipoca no sol, dentro de poucos minutos, a pipoca estará pronta. Se deixar ovos sob o sol, serão assados. “Os peixes estão sendo assados nos poucos rios que ainda existem”, diz em tom irônico um pescador. Os camponeses estão dizendo: “A situação está feia. Quase final de ano e quase nada de chuva. As águas estão acabando. Depois que acabaram com o cerrado e agora com a plantação de eucalipto, esse vampiro das águas, os córregos estão quase todos secos. Aqui na região havia lagoas por todos os lados. Agora está tudo seco.” O povo está ficando mais debaixo das poucas árvores que ainda existem. Ficar dentro de casa é o mesmo que estar em uma sauna. Há pessoas que estão dormindo dentro de automóveis com motor funcionando e ar condicionado. Quem pode, compra ventilador. Quem é mais jovem corre para os poucos rios da região e passa o dia dentro d’água. Outro dia, por exemplo, almoçamos dentro do Rio Claro – afluente do Rio Urucuia, que é um dos 36 afluentes do rio São Francisco -, com as panelas de alimento colocadas encima das pedras. Só a Sidersa – Siderúrgica Santo Antônio -, Companhia de um dono de Siderúrgica de Itaúna, MG, que tinha o ex-governador Newton Cardoso como sócio, já plantou mais de 30 mil hectares de eucalipto, inclusive ao lado das nascentes do Rio Claro, citado acima.
2. Os pescadores da beira do Rio São Francisco já estão prevendo que vão passar meses de escassez porque as chuvas foram pouquíssimas até o final de 2012 e, por isso, a barragem de Três Marias e as outras seis grandes barragens do Velho Chico estão com pouca água. Vai faltar água para gerar energia, mas antes os ribeirinhos sofrerão pela falta de peixe, pois “sem as cheias não acontecem desovas; e sem desova não se cria novos peixes”, diz Sr. Norberto, pescador há 70 anos no Velho Chico, na região de Três Marias. “Sr. Norberto, a Votorantim continua jogando metais pesados no Rio São Francisco aqui em Três Marias, poluindo o Rio?”, perguntei. “Com nossa luta, o Ministério Público exigiu que a Votorantim fizesse uma nova barragem para recepção de rejeitos minerários. O preocupante agora aqui é que estão planejando para construir nove barragens/hidrelétricas no Rio Abaeté. Isso não pode acontecer, pois se as águas forem represadas, não haverá mais piracema e os peixes serão dizimados, inclusive, aqui no Rio São Francisco”.
3. 334 pessoas em situação de rua assassinadas – crucificadas – no Brasil em 2012! Em 10 anos serão acima de 3.340, caso as forças vivas da sociedade não lutem para transfigurar essa realidade dramática. Maior algoz: o Estado, através de policiais e guardas municipais. A presidenta Dilma assistiu ao vídeo sobre a violência contra a população de rua(1). Não poderá alegar que não tem conhecimento dessa violência que clama aos céus: a violência contra as pessoas em situação de rua. Por que não mudar a política econômica e investir prioritariamente em reformas agrária e urbana, em educação e saúde públicas, em Minha Casa Minha Vida através de entidades e em Direitos Humanos? Será que teremos que arregimentar milhares de voluntários para vigiar as pessoas que estão em situação de rua enquanto elas tentam dormir sob as marquises, nas praças ou debaixo dos viadutos, para não serem despertados com jatos d’água ou com gás de pimenta? (mais…)
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