Por Raphael Tsavkko Garcia
O Genocídio Guarani-Kaiowá patrocinado pelos aliados ruralistas do governo federal, assassinato de um índio Mundukuru pelas mãos da Polícia Federal – em meio à violência contra esta etnia por suas terras -, violência contra indígenas em reservas por todo o país e, em muitos casos, pelas mãos da polícia federal ou de ruralistas, tentativa de desalojar Ianomamis de suas terras para agradar mineradoras que sustentam o governo federal – ouviremos mais desta história nos próximos anos, infelizmente…. Em comum, e com certa obviedade, o governo federal direta ou indiretamente e os interesses por detrás da manutenção do poder.
Não estamos falando aqui de um deserto verde de cana, soja ou de qualquer outra espécie que ruralistas planejam plantar nas terras que ocupam ou querem ocupar dos índios, esta é a segunda fase. Falamos de um deserto vermelho, do sangue dos povos indígenas que não param de ser massacrados. São mais de 500 anos e contando. E não apenas de indígenas, que fique claro. São apenas, talvez, o povo ha mais tempo nesta situação, mas não únicos.
Não são cidadãos, não são brasileiros, são animais que ocupam terras que deveriam ser usadas para o “progresso”, para a monocultura, para o enriquecimento dos aliados preferenciais e financiadores do governo federal. É o desenvolvimento necessário, a qualquer custo, o progresso de uns e poucos.
Os Guarani-Kaiowá lançaram seu último e desesperado apelo em uma carta na qual anunciam sua disposição a morrer na defesa de suas terras e que, sem elas, morreriam de qualquer forma, no que foi erroneamente interpretado como um suicídio coletivo Para os indígenas, a terra significa vida e por ela vale à pena lutar até as últimas consequências e não tê-la é sentença de morte. Mesma defesa ferrenha de suas terras fazem as demais tribos hoje ameaçadas, seja por usinas como Belo Monte ou Telles Pires, seja pelo avanço do deserto verde orquestrado por Kátia Abreu, CNA e congêneres.
Hoje, o governo federal é ocupado pelo PT – e o termo “ocupado” deve ser interpretado em sua plenitude -, o partido que historicamente lutou – ou discursou – CONTRA os grupos que sempre massacraram indigenas, quilombolas e qualquer outro grupo vulnerável que se colocava contra os interesses do capital. Mas esse tempo passou, o PT chegou ao poder e hoje é o grande vulnerador dos direitos humanos no país. Oposição não existe mais, pois não dá para considerar PSDB, DEM e PPS como oposição e o PSOL, infelizmente, além de pequeno, tem problemas internos demais para servir como contraponto de peso ao PT.
Restou aos movimentos se re-organizar do zero. Se re-inventar. Frente à franca cooptação de sindicatos e movimentos sociais – que, por exemplo, ficaram em silêncio ou fizeram porca oposição à privatização da previdência dos funcionários públicos, dos aeroportos e estradas, à Belo Monte, aos retrocessos nas políticas LGBT, etc -, restou aos movimentos, repito, buscar formas de se reerguer e novamente tornarem-se alternativas e polos de luta.
Nisto, encontraram barreiras imensas, tanto na capacidade de penetração junto às massas, quanto problemas com financiamento, organização e estrutura. Mas aos poucos movimentos tem surgido, se reorganizado e participado ativamente das lutas populares nas cidades e no campo.
Remoções forçadas no Rio e em outras cidades não são diferentes das remoções violentas de tribos indigenas de suas terras. Ambos os grupos lutam por direitos históricos, por terras, por moradia, por dignidade. Ressalvadas as diferenças óbvias, a luta é a mesma.
O que estes grupos buscam combater vai além do ostracismo, mas passa pelo mero direito de existir, de serem tratados como seres humanos com direitos e não apenas com deveres: dentre eles, o de serem invisíveis frente ao poderoso capital. Como questionou o valente grupo das Mães de Maio: “Até quando vai durar o silêncio cúmplice sobre a matança de jovens pobres, pretos e periféricos em SP?”? Altere a frase incluindo “povos indígenas” e nada muda.
Tratam-se de investidas do capital, aliado do governo federal do PT, contra populações vulneráveis. Negros, pobres, indígenas, quilombolas, LGBTS cuja ação do governo pode ser resumida pela célebra frase de Dilma Rousseff “Não farei propaganda de opção sexual’, ou seja, não moverei uma palha para agir contra a violência e as violações que sofrem as minorias.
Admito que parece confuso, complicado compreender o entrelaçamento de tantos grupos diversos e violências em apenas um texto e sob uma mesma ideia, mas afirmo que faz sim total sentido. A violência contra grupos – com apoio ou ação direta estatal – que se opõem aos interesses de grupos poderosos que financiam e dão sustentação a um partido que abandonou ha muito sua ideologia e trocou apenas pelo poder.
Quantos negros da periferia são mortos por ano em São Paulo e pelo país? Mera estatística que não garante primeira página. Quantos Guarani-Kaiowá são mortos ou se matam em franco desespero pela sua situação todos os anos no Mato Grosso do Sul? Novamente, estatística de nota de rodapé. Quantos gays, travestis são ameaçados e mortos no país? Novamente, estatísticas. Mas nenhuma dessas importa enquanto as exportações de minério, soja, cana e outros produtos sem nenhum valor agregado relevante continuarem a financiar campanhas políticas e partidos.
Enquanto isso o chão fica vermelho do sangue dos que ousaram e ousam resistir.
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