“O índio e o monstro”, por Telma Monteiro

Índio isolado da TI Tanaru em fuga

O céu estava escuro, um nublado plúmbeo. Muito calor e umidade e ar abafado traziam um silêncio agonizante na floresta. Um silvo ou assovio ecoou para alertar os animais e espantar a indolência no ar. Humano?

O ser coberto por um negrume que parecia pó de carvão imobilizou-se, mimetizado entre ramos e galhos. Eram sombras suaves brincando na pele brilhante respingada de gotículas. As passadas eram cuidadosas, mas pareciam retumbantes naquele silêncio quebrado pelo som dos gravetos que gemiam ao seu peso. O índio solitário tentava entender os movimentos e sons que vinham do meio da mata qual um animal desconhecido.

O galho estalou no alto da árvore.  Um vulto brilhou contra a luz pálida daquele dia cinza, mostrando dentes reluzentes e forma desconhecida e assustadora. O índio arqueou o pescoço e viu o monstro. E o barulho era indecifrável. Um ranger de ferros e correntes vinha de um grande objeto metálico. Apenas um espectro, sem carne e carcomido pela ferrugem. O som era um rugido estranho e rescindia a óleo de palma.

A criatura de metal era irreal para aquele ser assustado e já trêmulo. Em posição de defesa, com a longa flecha diante do rosto apontava o inimigo indecifrado. O metal descascado em algumas partes refletia um brilho esmaecido pela luz filtrada por nuvens carregadas.  Mais um passo e a curiosidade suplantou o medo. Um naco da floresta, onde antes havia grandes árvores, tinha desaparecido. Dali ele podia vislumbrar o rio. O seu rio corria furioso para se desvencilhar dos troncos que boiavam criando formas abstratas num caos vociferante.  A água estava tinta de terra vermelha. O medo novamente o dominou e ele acreditou, por um momento, que o rio agonizava, ferido. (mais…)

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“Corumbiara” – filme completo

Em 1985, o indigenista Marcelo Santos, denuncia um massacre de índios na Gleba Corumbiara (RO), e Vincent Carelli filma o que resta das evidências. Bárbaro demais, o caso passa por fantasia, e cai no esquecimento. Marcelo e sua equipe levam anos para encontrar os sobreviventes. Duas décadas depois, “Corumbiara” revela essa busca e a versão dos índios…

Por Aberto Canal – http://www.livestream.com/aberto. Gênero: Documentário etnográfico; Diretor: Vincent Carelli; Ano de Lançamento: 2009; País de Origem: Brasil; Idioma do Áudio: Português, Kanoê, Akunt`su. (mais…)

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“Unidades de conservação são uma ameaça contínua”: reportagem especial por Elaíze Farias (8)

Para índios, Flona Amazonas foi criada para 'excluir a ocupação tradicional yanomami sobre a terra indígena' (Foto: Odair Leal)

A criação da Flona Amazonas e da Serra do Aracá traz incertezas ao futuro dos yanomami

Aldeia Watoriki (AM) , 02 de Novembro de 2012

Dos 9,6 milhões de hectares do território yanomami no Brasil, 3,8 milhões de hectares estão localizados no estado do Amazonas. Ocorre que 85% da área yanomami do Amazonas estão sobrepostas por unidades de conservação.

O Parque Nacional Pico da Neblina, criado em 1979, ocupa 12% da área total da terra indígena yanomami. As duas unidades que têm causado mais dor de cabeça aos indígenas, porém, são a Floresta Nacional Amazonas (federal), que ocupa 17% de sua área, e a Serra do Aracá (estadual), que ocupa 16%.

Um estudo do Instituto Sociambiental (ISA) sobre a Flona Amazonas afirma “que a permanência de flonas em sobreposição a terras indígenas, além de violar direitos indígenas constitucionais, está na contramão da própria legislação que criou as florestas nacionais”. (mais…)

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“Projeto de Lei deve ouvir povos indígenas sobre mineração, diz antropólogo”: reportagem especial por Elaíze Farias (7)

Luis Donisete Benzi Grupioni

Rede que congrega organizações indígenas e indigenistas da Amazônia divulga manifesto pedindo consultas mais adequadas

Aldeia Watoriki, Barcelos (AM) , 02 de Novembro de 2012

Organizações indígenas e indigenistas que compõem a Rede de Cooperação Alternativa (RCA) divulgaram um manifesto contra a aprovação do relatório da Comissão Especial de Mineração em Terras Indígenas. O manifesto foi elaborado em uma reunião em Boa Vista (RR), logo após a realização da Assembleia Geral da Hutukara Associação Yanomami, no mês passado.

A nota diz que a Comissão não realizou consultas aos povos indígenas por meio de suas organizações representativas e mediante  procedimentos  adequados, conforme  determina a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Também não respeitou o disposto na Constituição Federal, nos artigos 176 e 231, especificamente no que se refere à manifestação do interesse nacional e à oitiva aos  povos indígenas na exploração mineral em Terra Indígena.

As organizações pedem que o Congresso Nacional desenvolva mecanismos adequados para o cumprimento da obrigação de consultar os povos indígenas sobre medidas legislativas que os afetem diretamente e avance na aprovação do Projeto de Lei do Estatuto dos Povos Indígenas (PL 2057/91), que regulamenta o tema, em tramitação há mais de 20 anos.

Leia a seguir entrevista com Luis Donisete Benzi Grupioni, coordenador executivo do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé) e secretário da Rede de Cooperação Alternativa (RCA), que congrega 10 organizações indígenas e indígenas na Amazônia brasileira. (mais…)

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“‘Brasil não pode abrir dessa riqueza’, diz relator de Projeto de Mineração”: reportagem especial por Elaíze Farias (6)

Congresso vai decidir por exploração de minérario, segundo deputado Édio Lopes
Aldeia Watoriki, Barcelos (AM) , 02 de Novembro de 2012

Os índios podem ser consultados, mas quem vai decidir é o Congresso Nacional. O aviso é do deputado Édio Lopes (PMDB-RR), sinalizando ainda que o item 3 das 19 condicionantes estabelecidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), quando este decidiu pela homologação da Raposa Serra do Sol (RR), será considerado nas discussões.

“Se pegarmos essa condicionante vamos ver que não depende de consulta da comunidade indígena. Sou a favor que cumpramos essa decisão. As terras não são dos índios, são da União. O Brasil não pode abrir mão dessa imensa riqueza”, disse o deputado ao jornal A CRÍTICA.

O item citado por Lopes diz que “o usufruto dos índios não abrange a pesquisa e lavra das riquezas minerais, que dependerá sempre de autorização do Congresso Nacional assegurando-lhes a participação nos resultados da lavra, na forma da Lei”. As condicionantes, contudo, são questionados por organizações indígenas e indigenistas e sequer são explicadas objetivamente ministros do STF. (mais…)

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“‘A Dilma não é amiga do índio, ela é inimiga’, diz líder yanomami”: reportagem especial por Elaíze Farias (5)

Davi Kopenawa: "Ela (Dilma) não conhece nossa floresta, a nossa terra, a realidade do povo yanomami. Só conhece o papel, a lei. Mas ela não está enxergando" (Foto: Odair Leal)

Aldeia Watoriki, Barcelos (AM) , 02 de Novembro de 2012

Quando os yanomami estavam quase perdendo a guerra para os garimpeiros e políticos que lhe apoiavam, no final da década de 80, Davi Kopenawa, 58, foi às Nações Unidas. As tentativas de homologação já se arrastavam há vários anos, sem uma definição do governo brasileiro. Com apoio de lideranças indígenas que despontavam no cenário político do país – como Ailton Krenak e Álvaro Tukano – Davi foi a Nova York, nos Estados Unidos, e deu o seguinte recado: “Aqui é ONU. ONU manda tudo. ONU não é só para olhar Paris, Japão, Londres. Mas para também olhar para a cidade e comunidade pequena. E também para olhar o povo yanomami. A ONU deve conversar com o governo brasileiro para que ele resolva a nossa demarcação e deixar o yanomami ficar tranquilo”. (mais…)

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Vítimas da ditadura recebem homenagens em cemitério paulista

Fernanda Cruz* – Agência Brasil

São Paulo – Mortos e desaparecidos durante o período da ditadura militar na capital paulista foram homenageados hoje (2), Dia de Finados. Um ato ecumênico foi celebrado no Cemitério de Vila Formosa, na zona leste, onde as vítimas da repressão teriam sido deixadas de forma clandestina em valas comuns.

Parentes e amigos deram depoimentos e depositaram flores sobre um dos locais onde os corpos podem ter sido enterrados. “Estou muito emocionada porque aqui embaixo dos nossos pés estão muitos companheiros, entre eles o meu irmão”, disse Denise Crispim, irmã de Joelson Crispim, um dos mortos da ditadura.

Outro parente que deu seu depoimento foi Gregório Gomes da Silva, filho de Virgílio Gomes da Silva. “Hoje, Dia de Finados, estamos os vivos aqui rendendo homenagens aos nossos mortos, desaparecidos. Muitos provavelmente estão nesse mesmo solo que estamos pisando, um pouco esquecidos”, disse.

O ato recebeu apoio da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, que investiga os crimes cometidos por agentes de estado durante a ditadura militar. Além do Cemitério de Vila Formosa, outros dois  cemitérios da capital paulista, em Perus (zona oeste) e em Parelheiros (zona sul), podem ter recebido corpos de vítimas da ditadura. (mais…)

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