Por Redação EcoD
O tom do livro Conservação da Natureza – e eu com isso? (Fundação Brasil Cidadão), organizado pelo presidente da Rema (Rede Marinho-costeira e Hídrica do Brasil), José Truda Palazzo Jr., é de forte crítica.
Na obra, apoiada pela Fundação Avina, a eficiência da gestão das Unidades de Conservação brasileiras é questionada, a valorização da visão econômica da natureza é repreendida e a transposição do Rio São Francisco é anunciada como uma “perpetuação da indústria da seca na região”.
“Não são necessidades legítimas de desenvolvimento que pressionam pela destruição de nossos ecossistemas remanescentes e sua biodiversidade, mas sim políticas públicas pensadas para beneficiar determinados setores muito específicos da economia – sobressaindo aí as empreiteiras, os latifúndios, a mineração (incluindo o ufanismo histérico do petróleo) e a pesca industrial”, afirma Truda Jr., logo no início da apresentação.
Apesar do aumento exponencial das Unidades de Conservação (UCs), a engenheira agrônoma Maria Tereza Pádua ressalta que a constante falta de recursos financeiros e humanos demonstram a fragilidade do sistema como um todo.
“De todas as categorias a mais inútil para a preservação da biodiversidade é a conhecida como Área de Proteção Ambiental (APA). É só se visitar a maioria das APAs que o país possui, onde prevalece a devastação e a alteração clara dos ecossistemas naturais. No passado, até um bairro na cidade do Rio de Janeiro foi considerado APA. Assim, quando se anuncia que o país possui tantos milhões de hectares em unidades de conservação, aí incluindo as APAs, é enganar a opinião pública”, critica.
Valoração
No quinto artigo, RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) – O que você ganha com isso, João Bosco Carbogim reflete sobre a necessidade de valorar economicamente a natureza, esperando sempre ganhar algo. “Parece que a cabeça das pessoas está programada para buscar vantagens econômicas em qualquer atitude que se tenha perante a natureza, por mais altruísta que possa ser”, critica ele, explicando que “na realidade, a decisão de conservar a natureza foge a esse parâmetro por se tratar de uma questão de valores e tem a ver com a percepção que se tem da vida e do que estamos fazendo no planeta Terra”.
A grande polêmica da transposição do Rio São Francisco parece ter sido acalmada nos últimos tempos. Mas para a população local as feridas abertas continuam vivas. Segundo o coordenador do Núcleo de Estudos e Articulação do Semiárido (Nessa), João Sussuana, a construção das represas das usinas geradoras diluiu a atividade pesqueira da região.
De acordo com ele, “as espécies de piracema estão desaparecendo do rio devido à impossibilidade que têm os peixes de fazerem o seu trajeto natural de subida das corredeiras para a realização das desovas”.
“A população carente nordestina, principalmente aquela residente de forma difusa na região Semiárida, não terá acesso a uma gota sequer da água do Velho Chico. Para nós, é a perpetuação da indústria da seca”, lamenta.
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http://www.ecodesenvolvimento.org/posts/2012/outubro/transposicao-do-rio-sao-francisco-e-perpetuacao-da
Enviada por Ruben Siqueira para Combate ao Racismo Ambiental.