A Disputa pela Chapada

Mayron Régis

Não há espaço para imaginação em um campo de eucalipto. Dificilmente, alguém confundiria os eucaliptos com gigantes como fez Dom Quixote ao ver moinhos de vento. Os eucaliptos expulsaram a imaginação, suas formas e suas cores para bem longe. Em vários casos, reduziram-na a meras placas de reservas legais. As pessoas se conformam com a perda da imaginação. Quer dizer, nem todas as pessoas. A imaginação segue aquele que se arroja.

O quintal do Deuzim, morador do povoado Coceira, município de Santa Quitéria, Baixo Parnaiba maranhense, recobre-se de inúmeras brotações de bacurizeiros. Elas formam um caminho da casa à sua roça. É um caminho imaginativo. Antes, os filhos do Deuzim arrancavam as brotações abrindo espaço para os plantios de mandioca e de feijão.

Só alguém com imaginação muito fértil para prever que aquele chão comportaria inúmeras brotações depois que outras tantas haviam sido arrancadas. Para sobreviver como espécie, um bacurizeiro, ao ser derrubado, providencia brotações num raio de extensão impressionante.

O Deuzim pretende passar os meses do inverno na Chapada. Há quem sonhe com isso. Há quem veja o sonho por sobre a vida. A Chapada dorme? A Chapada sonha? As comunidades da Coceira, do Baixão da Coceira, Lagoa das Caraíbas e São José escolheram a Chapada e não seus algozes como a Suzano Papel e Celulose ou o Gilmar Locatelli. A que reino pertencem os algozes? A que reino pertencem as suas mentiras deslavadas?

Áreas em Santa Quitéria, Anapurus, Brejo e Milagres correspondem a um reino em que a disputa dificilmente se encerra. A disputa ora se instala na Chapada, ora se instala nos tribunais. A Suzano Papel e Celulose e o Gilmar Locatelli assumem a primazia dos conflitos e como tal só descansam quando o último dos seus adversários se render.

A disputa que a Suzano trava com as comunidades do Polo Coceira atende por um nome e por uma letra: Gleba C. O estado do Maranhão arrecadou esse território de mais de 13 mil hectares no ano de 1983. O documento de arrecadação cita as comunidades de Barra da Onça, Sucupira, Veado Branco e Coceira.  Uma certidão negativa de 2009 certifica a inexistência de qualquer documento de propriedade na Gleba C.

Na verdade, existem quatro títulos concedidos pelo Iterma em 2009 na comunidade Coceira a pessoas desconhecidas para seus moradores. Os titulados venderam rapidamente para o Gilmar Locatelli. Tudo saiu de forma rápida, criticaram os representantes da SMDH e do Fórum Carajás, diferente do que, geralmente, acontece com as comunidades no Baixo Parnaiba que levam anos para obter qualquer beneficio da parte do Estado.

Esses títulos correspondem a mais de trezentos hectares que o Gilmar Locatelli averbou como reserva legal de alguma propriedade que desmatara totalmente. Com a área arrecadada, o Iterma se comprometeu em entregar os títulos de Coceira e de Baixão da Coceira até o final de 2012.

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