Rio + 20: que desenvolvimento sustentável é esse?

Editorial

Daqui a menos de três semanas, o Brasil sediará a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 20. Ativistas e intelectuais preocupados com os dilemas socioambientais contemporâneos tem afirmado que a reunião de líderes mundiais é, na verdade, uma tentativa de salvar o modelo de desenvolvimento hegemônico, fadado a aprofundar as crises ambientais ao redor do planeta. Neste sentido, a soma do adjetivo “verde” a já conhecida economia de mercado, é mais uma artimanha retórica para mascarar os terríveis impactos que a idéia de crescimento ilimitado tem causado para a vida das populações pobres.

A pergunta lançada há muito tempo pelos movimentos sociais globais persiste às vésperas do evento: “de que modelo de desenvolvimento sustentável a reunião dos líderes mundiais vai tratar?” O questionamento, de alguma forma, sintetiza muito do que deve ser debatido no evento paralelo a conferência oficial, a Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental.

Neste último encontro, representantes da sociedade civil global devem apontar, justamente, a insustentabilidade de se ter a economia (de mercado, capitalista) e seus agentes como dimensão central da pauta do encontro oficial. Um dos termos mais recorrentes no léxico que marca a agenda dos líderes mundiais na Rio + 20 é “economia verde”. A ideia de economia acompanhada pelo adjetivo “verde” esconde formas alternativas de economia possíveis, reiterando postulado segundo o qual a economia mercantil seria o único caminho para o chamado desenvolvimento sustentável.

A “economia verde” surge, na verdade, como uma panacéia de todos os problemas ambientais, econômicos e sociais aprofundados pela crise do capitalismo na atualidade. Como afirma o coordenador do Observatório de Favelas, Jorge Barbosa, “A crítica dos representantes da Cúpula dos Povos reafirma a descrença nas reais intenções dos Estados e das empresas em enfrentar questões como as desigualdades socioeconômicas que se expressam nas condições de apropriação e uso dos recursos culturais e ambientais do território, produzidas pelo modo de produção capitalista”.

A crítica apresentada pela Cúpula, nos lembra ainda de que precisamos consolidar uma cultura onde a pluralidade de opiniões e mesmo as discordâncias sejam vistas como características positivas. Pois é assim que se constituem canais para que populações e grupos diferentes vocalizem seus projetos, alternativas e soluções para o planeta.

É com este espírito que o Observatório de Favelas e instituições parceiras preparam, como atividade da Cúpula dos Povos, uma intervenção em dois conjuntos de favelas no entorno da Av. Brasil: Alemão e Maré. O evento, que concentra duas ações interligadas nos dias 16 e 19 de junho tem o intuito de debater a favela e a cidade como direitos, além de apresentar um conjunto de soluções realmente sustentáveis, criadas a partir destes espaços, visando mostrar contrapontos práticos para o modelo de desenvolvimento em pauta na Rio + 20.

http://www.observatoriodefavelas.org.br/observatoriodefavelas/noticias/mostraNoticia.php?id_content=1204

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