Belo Monte: números omitem problemas diários

“Fiquei igual a cachorro na rua”, disse trabalhador da usina hidrelétrica

Joelmir Tavares

Altamira (PA). Números são repetidos à exaustão para ressaltar a grandiosidade da usina hidrelétrica de Belo Monte, obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que começou a ser construída em junho do ano passado no rio Xingu, na região da cidade de Altamira, no Pará, e será a terceira maior do mundo.

Números dão conta de mensurar o dinheiro necessário para o empreendimento – R$ 25,8 bilhões -, aquilo que a engenharia é capaz de fazer – como abrir 260 km de estradas em plena floresta amazônica – e o que as turbinas irão produzir – 11,2 mil MW -, mas não conseguem dimensionar sentimento humano. “Eles (empresa) contratam e demitem como se a gente fosse objeto”, resumiu um operário.

“Fiquei três semanas igual a cachorro na rua”, disse Moisés de Oliveira, 32, que, mesmo aprovado no exame médico, teve que implorar ao Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM) por teto e alimentação.

“Ouvi falar que aqui estava bom, mas cheguei e encontrei essa bagunça”, disse o ajudante de corpo franzino, que nasceu em Angra dos Reis (RJ) e tentou emprego na usina de Jirau, em Rondônia, antes de rumar para Altamira, em março.

Colocado em um dos alojamentos – as chamadas “carpas”, tendas montadas nos canteiros de obras, em clareiras na floresta amazônica -, Moisés de Oliveira ficou doente por causa da baixa temperatura do ar-condicionado. “Eles baixam o ar para 16º e dão só um lençol para servir de cobertor”. Com pneumonia, ele conseguiu ser transferido para um hotel na cidade.

Quando falta luz ou os geradores são desligados para manutenção, contou o encanador maranhense Ernaldo Almeida, 34, “deve dar uns 40º de temperatura” nos abrigos. O barulho é outro inimigo do descanso. “De um lado é oficina, do outro um gerador, uma área de lazer. Duvido que alguém durma naquele inferno”, descreveu. Os alojamentos definitivos, feitos de PVC, estão em construção.

Enviada por Helena Uriano.

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