Saibam europeus, árabes e canadenses
E outros povos do além-mar
Que o arroz que te servem à mesa
Está nutrido com a desgraça dos guarani-kaiowá
Gados, porcos e cavalos da Índia, China, Coreia e Marrocos
A soja que colocam em teus límpidos cochos
Está mesclada de séculos de banimento e sangue
Do povo guarani-kaiowá e de outras nações irmãs
Ah!,urbanoide deste planeta idiotizado
Saberás tu quantos gurizinhos indiozinhos
Cometeram suicídio a cada acelerada de teu automóvel?
Tu sabes a diferença entre cana-de-açúcar e Terra sem Males?
Primeiro, vieram os espanhóis, os portugueses, os paulistas
Depois, a serra, o desmate, o café, o colonhão
Juntos vieram o gado, o trator, o migrante, a cidade
E as aldeias guarani secam no leito das estradas
De que valem as divisas recolhidas pelos navios-celeiros
E esse mar de grãos que navegam nas bolsas de valores
Se germinam as ervas daninhas a reproduzir sua amargura
Na Terra intoxicada, sem Vida e sem Liberdade
Tuas lágrimas, guarani, denunciam desespero, fraqueza e força
De uma nação sem fuzis, resistente e sem derrota
Arcos ao ombro e uma flecha no coração cravada
Pela agrosselvageria, agrobarbárie, agrobestialidade
Mirem para essas mulheres que não são de Atenas
Seus maridos, filhos violentados pela lesa-humanidade
Tudo isso e nada vai impedir os guarani-kaiowá
De voltar à sua Terra, à sua Vida, à sua Liberdade
Suas crianças sonham com banho no rio, canoa, lambari
Sapo-cururu, jaguatirica, capivara, quati, arara, sabiá
Araticum, angico, jatobá, guavira, capitão-do-mato
A mandioca que brota na terra, o sol que aquece as manhãs
Ora — dirão —, são bugres, preguiçosos e improdutivos
A cada insulto, os guarani-kaiowá renascem e vão à luta
Dançam, cantam e lamentam o genocídio exterminador
E reconquistarão sua Terra, sua Vida, sua Liberdade
http://uniaocampocidadeefloresta.wordpress.com/2012/05/24/terra-vida-e-liberdade/