Tonico Benites*
Os povos guarani-kaiowá são resistentes pelo fato de ter vivido, até hoje, praticando os seus rituais religiosos, profanos e falando a sua língua materna. Sobretudo, o povo guarani-kaiowá continua educando as crianças conforme o seu modo de ser e viver autêntico e específico teko porã.
A base de organização social do povo guarani-kaiowá é centrada na família extensa. A família extensa é formada por pelo menos três gerações: avô, avó, filhos e filhas, genros e noras, netos e netas. Esta organização social é administrada e representada por um líder político e um xamã ou líder religioso que perdura até os dias atuais.
No passado, cada família extensa vivia de forma autônoma no seu território ancestral de controle exclusivo e residia numa única habitação grande construída nas cabeceiras das minas da água e próximo dos rios, distanciando-se dez (10) e vinte (20) quilômetros de outra grande família. Nesta habitação e no seu entorno os adultos educavam os jovens e as crianças, sendo as atividades cotidianas educativas divididas segundo o sexo e a idade. Recentemente, após o processo de aldeamento/confinamento da família extensa ocorreu o desaparecimento da casa grande que não significou uma mudança na centralidade desta organização da família extensa.
A família extensa é fundamentada na prática de reciprocidade e bela conversa. Aqui a reciprocidade significa, antes de tudo, a base de estabilidade e proteção no sentido emocional-afetivo, sobretudo fonte de alegria da criança. Como metodologia educativa, é transmitida a ideia de pertencimento à determinada família, fundamentada no princípio de dar e receber alguns bens materiais e imateriais. Esta prática educativa começa com as crianças e é reforçada no decorrer do processo de formação do jovem e do adulto. (mais…)