MA – Blogueiro Décio Sá é executado com seis tiros na Litorânea

Ontem, 23, Décio Sá havia postado nove notícias em seu blog, envolvendo principalmente crimes de pistoleiros, luta por terra e corrupção, de políticos e da Justiça. Link para o Blog do Décio AQUI. TP.  

O jornalista e blogueiro Décio Sá foi assassinado na noite desta segunda-feira no bar Estrela do Mar, na Avenida Litorânea, por volta de 23h30.

Segundo o delegado Gutemberg Rêgo, ele estava sentado quando um homem caminhando entrou no banheiro do estabelecimento para se certificar que era de fato o jornalista. Quando saiu, iniciou uma série de disparos contra a cabeça de Décio, que morreu na hora. Levou quatro tiros na cabeça e dois nas costas. Ele aguardava um amigo no restaurante.

Depois de atirar, o matador saiu caminhando e fugiu em uma moto, que o aguardava do outro lado da pista. Para praticar o crime, ele não usava capacete e pôde ser visto por testemunhas.

Curiosos, amigos, jornalistas e o secretário de segurança, Aluísio Mendes, foram ao local ao saber da morte de Décio. A polícia faz diligências no momento para prender os criminosos. Segundo Aluísio, trata-se de um crime encomendado.

Décio Sá era repórter do jornal O Estado do Maranhão. No seu blog pessoal, colecionava milhares de acessos e algumas polêmicas pelo estilo crítico dos seus textos e dos assuntos que explorava. Ele dedicava o trabalho a cobrir a política estadual. Durante a carreira ganhou a simpatia de muitos e a antipatia de outros tantos.

Décio Sá se formou na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Além de O Estado, jornal que trabalha como repórter de política há quase uma década, também foi repórter de O Imparcial.

Jornalistas e autoridades se indignam com morte

Jornalistas maranhenses estão indiganados com o crime contra o colega de profissão Décio Sá. Pelo Twitter, dezenas de postagens condenam o atentado e pedem respeito aos profissionais de imprensa do Maranhão.

“Estou vendo agora a notícia sobre o Décio Sá e ainda não estou acreditando”, disse o jornalista Clodoaldo Corrêa. “No Maranhão, se fala morre. Se cala, morre do mesmo jeito, num pântano de silêncios. Chocado com a execução do jornalista”, comentou o jornalista Alex Palhano.

E mais: “Esse é um crime contra os jornalistas e contra a liberdade de expressão. Não podemos aceitar”, criticou Wal Oliveira.

Outros profissionais, via Twitter, também postam mensagens indignadas. “É inaceitável, intolerável, que numa sociedade democrática haja espaço para crimes assim. No campo, na cidade, em qualquer lugar. Reação!”, disse o jurista Cláudio Pavão.

O deputado estadual Rubens Júnior também comentou o crime e pediu apuração contra os culpados. “Matar jornalista é um ato de bandidagem e um atentado contra a democracia. Apuração irrestrita já”.

Mário Macieira, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional no Maranhão, chamou a execução de “crime de pistolagem”. “Crime de pistolagem contra jornalista, na capital do estado em pleno sec XXI?!! Inaceitável! Incencebível! O Estado precisa responder”.

http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/urbano/2012/04/24/interna_urbano,114060/blogueiro-decio-sa-e-executado-na-litoranea.shtml

Comments (2)

  1. Eduardo, companheiro,
    Só agora vi teu comentário. Meu instinto de ex-jornalista me diz que estamos tratando de coisas diferenciadas. Embora a violência seja a mesma (e quiçá até os mandantes), tenho a impressão que os motivos talvez sejam bem distintos.
    Isso não pode nem deve fazer com que não denunciemos o crime – como este Blog fez por três vezes hoje – e não nos revoltemos contra ele, contra os jagunços que o praticam e contra aqueles que os pagam. Mais: contra a impunidade que talvez resulte de tudo isso.
    Digo “talvez” exatamente porque personagem e cenário são bem diferentes se pensamos nos nossos amigos quilombolas, indígenas, assentados, membros de comunidades tradicionais variadas, nos advogados populares (como você), nas turmas da CPT, do CIMI e tantos outros… Nesses casos, a impunidade será quase uma certeza. Se funcionários do governo federal são mortos e nada acontece, temos, sim, toda a razão para estarmos preocupados. Para termos medo, inclusive. Medo de fato. Não apenas a sensação.
    Nessas horas, quando a gente pensa nisso tudo, dá um sentimento de impotência que ameaça nos levar ao desespero, sim. Mas isso é o que a gente não pode aceitar. Essa é a esparrela na qual não podemos cair.
    Sei que daqui do meu micro no Rio de Janeiro, a milhares de quilômetros de distância de onde as pessoas estão arriscando de fato suas vidas para defender seu território e seu direito de nele viver, de certa forma é fácil escrever isso. Seria ainda mais fácil, amigo, se a violência não batesse dentro de mim de outra forma, mas que igualmente atinge e marca.
    Hoje liguei o micro, cedinho, e vi uma informação que me deixou feliz: chegamos, nesta última semana, a quase 15 mil acessos ao Blog. Quatorze mil novecentas e tantas pessoas o acessaram, e com certeza não leram somente uma notícia. É pouco? É, tanto em quantidade, como no que diz respeito à minha própria contribuição para a luta. Mas é parte do que posso fazer: denunciar, divulgar, criticar, indignar. E, para quem começou pequenininho, há pouco mais de dois anos, esse resultado do Blog é significativo.
    Você faz muito mais do que eu. Do que nós, pois não estou mais sozinha no Blog. Você está na luta de verdade, em carne e osso, ao lado de gente que merece e pode se sentir privilegiado por te ter como companheiro. Mas, cada um a seu modo e da forma que pode, sabemos que estamos lutando o bom combate. E sabemos que não estamos sozinhos nisso.
    E eles? Sabem o quê? Que têm o poder do dinheiro? Que compram matadores, policiais, jornalistas, advogados e até juízes?
    Viva a nossa luta, Eduardo, com todos os seus limites!
    Um abraço fraterno e emocionado para você.
    Tania.

  2. Olá Tânia,
    Estamos chocados com o crime. Não que outros crimes não nos choquem, e até mais, pois temos identidade ideológica e relações próximas e afetivas com vários lutadores que tombaram.
    O Décio era ligado ao esquema Sarney. Blogueiro que publicava boa parte (talvez a maior parte) das informações sob encomenda. Era inimigo ideológico das lutas populares. Aqui e acolá, por conta do grande número de leitores, fazia uma denúncia que nos interessava. Tentativa de mostrar imparcialidade. Mas nada que fosse contra seus pagadores e empregadores(era empregado do Grupo Sarney- Grupo Mirante). E eis o que causa espanto. Ele era do círculo do poder. Amigo de empresários e políticos poderosos. Próximo demais da Famiglia Mor. Se ele tombou barbaramente, o que não dizer dos que estão nos rincões mais distantes do campo, dos quilombos, dos acampamentos, assentamentos…Chega a ser desesperador. Acredito que hoje o Maranhão, se não for o mais, deve ser um dos mais violentos estados no que tange aos conflitos fundiários, políticos e quanto à insegurança geral. Preocupo-me com a vida de muitos companheiros, lutadores, lideranças camponesas, advogados populares, religiosos, jornalistas…sensação geral de medo.
    Um abraço fraterno e preocupado,
    Eduardo

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