Carta de Dom Tomás a Dom Damasceno sobre comenda oferecida pela Nestle

“Tomo a liberdade de escrever-lhe esta carta aberta e fraterna  sobre  uma comenda que a Nestlé iria lhe entregar no dia 25 deste. Já fizeram o mesmo, anos atrás, com o então presidente da cnbb Cardeal Dom Geraldo.Majella. A motivação desta comenda é a Estância Hidromineral de São Lourenço.

Aconteceu, porém, que a Nestlé tornando-se proprietária da famosa mina São Lourenço destruiu-a para sempre ao forçar extrair um maior jorro de água desta fonte milenar, de frágil e complexa produção e de fluxo limitado. Nestlé cometeu, então, o maior crime ambiental contra nosso patrimônio hídrico.

Por conseguinte, fica claro que esta comenda não é nenhuma promoção das personalidades selecionadas, mas a tentativa de encobrir este estrago no nosso patrimônio hídrico. O gesto da Nestlé tenta também minimizar o fato da CNBB ter sido signatária da declaração ecumênica sobre a água.

Há mais: No 1º Fórum Social Mundial em Porto Alegre o grande geógrafo belga Ricardo Petrella denunciou o fato grave da Nestlé e a Coca-Cola estarem comprando todas as nascentes de água no Brasil com o objetivo da mercantilização hegemônica deste produto.

Finalmente, convém registrar que a Nestlé foi condenada por um Tribunal internacional de opinião, em outubro de 2005, realizado na própria Suiça, por graves crimes ambientais e trabalhistas cometidos por esta empresa na Colômbia.

É por isso, meu venerável Irmão, que venho, com todo respeito e confiança, sugerir-lhe que decline esta comenda. É uma questão de Justiça. É também uma forma de preservar a imagem de nossa querida CNBB. Vejo que está em cima da hora. Mas confesso que recebi esta comunicação há pouco tempo.

Saúdo-o com fraterna amizade nesta  caminhada para a Páscoa do Senhor.

Dom Tomás Balduino, bispo emérito de Goiás”

Enviada por Moisés Augusto Gonçalves para  a lista do Cedefes.

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