“Após parceria com o Google, índio conta plano de 50 anos”

Observação: publicamos a matéria porque acreditamos no direito à informação e ao conhecimento, mas mantemos nossa posição irredutível contra os malefícios que o REDD e o REDD+ significarão para os povos indígenas. TP.

Livia Junqueira

Ser eleito como um dos homens mais criativos do mundo por utilizar a tecnologia a favor de sua tribo não fez Almir Narayamoga Suruí tirar os pés do chão. Após ficar na 53ª posição dos líderes mais criativos em 2011, em um ranking feito pela revista americana Fast Company, Almir diz que os projetos – como mapear a terra indígena Sete de Setembro com auxílio do Google e vender créditos de carbono – são apenas parte de um plano de 50 anos.

“Estamos pensando em um futuro coletivo para meu povo, meu Estado, meu País e para o mundo”, disse ao Terra durante o Fórum de Sustentabilidade de Manaus.

Almir afirma que o plano é composto por diversas frentes, como educação, saúde, meio ambiente e sustentabilidade econômica para a tribo paiter. Segundo ele, o projeto começou, principalmente, pelos problemas trazidos com o desmatamento na região da tribo – que fica entre os Estados de Rondônia e Mato Grosso e conta com 1.350 integrantes em 248 mil hectares.

“Há cinco anos, costumavam sair cerca de 400 caminhões por dia levando madeira de nossos territórios”, disse Almir. “Hoje, se isso acontecer, é escondido.” Segundo ele, o desmatamento, além de afetar todo o meio ambiente prejudicando a alimentação dos indígenas, trouxe doenças e prostituição dentro da tribo.

Para evitar a destruição da floresta, os indígenas firmaram um novo plano de proteção com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e com a Polícia Federal para fazer a fiscalização das áreas. “E nós também vamos ajudar na fiscalização”, disse Almir.

Ele conta que o projeto de crédito de carbono está em processo de validação e que não há previsão de quando passará a valer. O projeto começou a ser elaborado em 2009. Segundo o líder da tribo, serão exigidos critérios para que as empresas possam comprar créditos de carbono. A ideia é não vender créditos para empresas que podem “prejudicar o meio ambiente em outro país”.

“Vamos monitorar a empresa, sua atitude e história, além da responsabilidade social e ambiental”, disse.

Os recursos arrecadados com a venda de crédito de carbono irão para o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) – uma entidade sem fins lucrativos que gere mecanismos financeiros, seleciona e gerencia projetos ambientais, além de fazer contratações para esses projetos, entre outras frentes.

De acordo com o relatório anual 2010 da Funbio, o chamado Fundo Suruí receberá “recursos da venda de créditos de carbono e de outras fontes. O fundo permitirá uma série de ações, incluindo a capacitação da comunidade para sua implementação e para a gestão financeira do projeto, além de promover outras atividades de geração de renda”.

De 2009 a 2011, o Fundo Suruí foi responsável por deixar de emitir 360 mil t de carbono, que estão disponíveis em créditos, que ainda serão validados.

O relatório diz ainda que o fundo terá conselhos representativos indígenas exercendo papel “decisório” e que os recursos obtidos com a venda de crédito de carbono serão gerenciados “em benefício de toda a comunidade”.

Para Almir, cuja tribo foi contatada pela primeira vez em 1969 pela Funai, os projetos são promissores para garantir que, dentro de dez anos, “meu povo tenha autonomia, consiga gerir nosso território e fortaleça nossa economia de maneira sustentável”.

Como funciona

Almir implantou com o Google um sistema de monitoramento móvel do território indígena. Foram mapeados em três dimensões na ferramenta Google Earth, por meio de smartphones, os locais de caça, pesca e culto, árvores e locais sagrados e toda a área verde da terra indígena, na tentativa de conter e denunciar o desmatamento ilegal. O objetivo é preservar a mata para poder entrar no mercado de crédito de carbono.

No mercado de carbono, cada t de CO2 que uma entidade deixa de emitir na atmosfera dá direito a um crédito em dólares, que pode ser negociado com outras empresas ou na bolsa de valores. Evitando o desmatamento e promovendo o reflorestamento contínuo, os paiter tentam garantir um estoque de carbono para venda, já que as árvores absorvem gases de efeito estufa e “economizam” em emissão de CO2.

http://www.jb.com.br/ciencia-e-tecnologia/noticias/2012/03/25/apos-parceria-com-o-google-indio-conta-plano-de-50-anos/

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