Flavia Bernardes
A Ouvidoria Agrária do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) irá oficiar a Universidade Federal do Espírito Santo, a Cesan e o Instituto Nacional de Pesquisa e Extensão Rural (Incaper) para que sejam feitos estudos para avaliar a qualidade da água e do solo no entorno dos eucaliptais da Aracruz Celulose (Fibria), no norte do Estado.
A decisão foi divulgada nesta quinta-feira (22), em reunião realizada no Incra-ES, em Vitória, com representantes da Associação de Pequenos Produtores Rurais Vizinhos dos Empreendimentos Agrícolas, Florestais e Industriais dos Municípios de São Mateus e Conceição da Barra (APPR), no norte do Estado; com o subsecretário estadual de Direitos Humanos, Perly Cipriano; representantes da Petrobras, Fibria e do Ministério Público Federal (MPF).
Marcada para discutir o despejo indiscriminado de agrotóxicos na terra e na água por parte das empresas instaladas no norte do Estado, a Aracruz Celulose (Fibria) ganhou destaque nas denúncias feitas por moradores da região. Segundo Manoel Pedro Serafim, que é quilombola e vive na comunidade do Poço do Cachimbo, próximo ao Rio Cricaré, desde que a empresa se instalou na região, além dos envenenamentos registrados na comunidade, a água e o solo estão contaminados.
“A aplicação de veneno de forma indiscriminada já matou criança envenenada e deixou minha irmã cega. Ela passava perto do eucaliptal e foi atingida pelo veneno. Aqui isso é comum. Tem muita gente com problema nas vistas, devido o veneno, mas infelizmente não é isso que sai nos laudos. Nos laudos, o que fica clara é a força da empresa, tanto no meio político como através de seus advogados”, contou o quilombola, que é presidente da APPR.
A informação da entidade é que a empresa produtora de celulose se destaca quando o assunto é agrotóxico, mas há também outros fatores que influenciam este quadro, como as produtoras de cana, a exemplo da Disa, que há anos é acusada de secar lagoas na região, deixando as famílias que vivem no entorno do empreendimento sem alternativas para abastecimento. “Muitas famílias estão abandonando suas roças para produzir carvão mineral porque não há mais água para irrigar os plantios”, contou Serafim.
Morador da região antes mesmo da implantação da Fibria, Serafim contou que, além dos impactos ambientais, muitas famílias são perseguidas por utilizarem os restos de madeira deixados após o corte dos eucaliptos para fazer carvão.
Ainda assim, segundo Serafim, a empresa representada por dois advogados afirmou mais uma vez que não faz uso de venenos em seus plantios de eucalipto.
A informação do Incra-ES é que a ouvidoria nacional se encarregará de acompanhar o caso. Além disso, a APPR, também deverá acompanhar os testes que serão realizados nas águas e no solo da região. Além de pequenos produtores rurais quilombolas de São Mateus e Conceição da Barra, a associação é ainda representada por pequenos produtores do sul da Bahia.
No dia 25 de abril, às 13h30, uma nova reunião será realizada para dar continuidade à demanda dos pequenos agricultores que vivem no entorno dos empreendimentos no norte do Estado e sul da Bahia.
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Enviada por Ricardo Verdum.