Quatro moradores de rua são mortos por mês em Belo Horizonte

Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua registrou 44 mortes nos últimos 11 meses

Franciele Xavier – Do Hoje em Dia

As cicatrizes na perna, a queimadura nas costas e o enxerto de pele no braço esquerdo vão além da dor para o morador de rua Adão Lopes, de 37 anos. Depois de ter sido vítima de uma tentativa de homicídio por incêndio em fevereiro enquanto dormia na Rua Ceará, no bairro Santa Efigênia, região Leste de Belo Horizonte, a preocupação dele não é só com a recuperação da saúde, mas também com a segurança.

“Estava descansando depois de jantar no Restaurante Popular quando uma turma de quatro outros moradores de rua me acordou e disseram para eu levantar para ser queimado. Achei que eles estavam brincando, mas na hora já senti o thinner gelado e depois veio a sensação de estar pegando fogo”, relata Lopes, que teve que ir sozinho ao Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, onde ficou internado por 25 dias.

A realidade de Lopes é comum em Belo Horizonte. A violência contra os moradores de rua já não se concentra apenas no centro da cidade. Foram 44 mortes nos últimos 11 meses, de acordo com dados do Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua (CNDDH). O último homicídio aconteceu na madrugada desta terça-feira (20), na Rua Apucarana, Bairro Ouro Preto, Região da Pampulha, onde Anderson Milla, de 45 anos, não conseguiu resistir ao traumatismo craniano depois da queda de seis metros de altura ao ser empurrado pelo morador de rua Geraldo Magela Martins, 28, após discussão.

Do dia 7 de abril de 2011 até a última sexta-feira, o CNDDH teve o conhecimento de 165 mortes de moradores de rua em todo o país, o que, na opinião da defensora pública especializada em direitos humanos do Estado de Minas Gerais, Flávia de Morais, revela que Belo Horizonte está acima da média nacional. “A atual situação dessa população na cidade é de extrema vulnerabilidade. Eles encontram muita dificuldade para ter acesso aos direitos fundamentais”, analisa.

Como o CNDDH não contabiliza o número de tentativas de homicídios e agressões físicas, que geralmente surgem de brigas entre os próprios moradores, a situação pode estar ainda pior, de acordo com Flávia. Entre os principais problemas que a defensora pública enxerga, está a violência institucional, que é o descaso do poder público e da sociedade.

A assessora da Secretaria de Políticas Sociais da prefeitura, Soraya Romina, argumenta que, por meio do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento da Política Municipal para População em Situação de Rua, estão sendo realizadas ações de prevenção e enfrentamento da violência, como visitas de técnicos aos moradores para estabelecer vínculos com os recursos que a prefeitura oferece, como abrigos, albergues, repúblicas e refeições gratuitas.

http://www.hojeemdia.com.br/minas/quatro-moradores-de-rua-s-o-mortos-por-mes-em-belo-horizonte-1.421973

Enviada por José Carlos.

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