Relatório da Polícia Federal e do Ministério Público Federal em Campos dos Goytacazes (RJ), sobre o vazamento de 2,4 mil barris de óleo no Campo de Frade, em novembro, e o afloramento divulgado semana passada, acusa a Chevron de ter utilizado uma pressão na perfuração do poço superior à tolerada de forma premeditada. O excesso de pressão é apontado como uma das causas do vazamento, que estaria “fora de controle”. O MPF não descarta pedir à Justiça a prisão preventiva dos executivos da Chevron. O governo federal avalia prolongar a interrupção da exploração de petróleo no campo.
A reportagem é de Felipe Werneck e Sabrina Valle e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 20-03-2012.
“Eles assumiram um risco premeditado”, afirmou ontem o procurador da República Eduardo Santos, do MPF, que acusou a Chevron de “ter botado uma pressão maior que a suportada e ter cavado além do que foi autorizado”. “O vazamento não é mais no poço, é na rocha reservadora, e não tem como ser controlado. Não se sabe a capacidade. É uma cratera no solo marinho”, acrescentou o procurador, que pretende formalizar denúncia amanhã, com base na lei de crimes ambientais (9.605).
“O crime está em andamento, por isso eu não descarto (pedir) a prisão”, afirmou o procurador. Santos foi o autor do pedido de medida cautelar que resultou na proibição, determinada pela Justiça na noite de sexta-feira, de que 17 funcionários da Chevron e da Transocean, que operava a plataforma na Bacia de Campos, se ausentem do País até o julgamento da ação penal. O presidente da Chevron, George Raymond Buck III, está na lista.
Injeção
O delegado da Polícia Federal Fábio Scliar, responsável pelo inquérito, também afirmou, baseado no depoimento de geólogos, que houve excesso na pressão usada na injeção de fluido de perfuração. “O poço explodiu e depois foi necessário usar mais pressão para abandoná-lo.” Segundo ele, uma área de cerca de sete quilômetros quadrados do Campo de Frade pode estar sob risco de novos vazamentos. “A situação é grave e está fora de controle. Como é inédita, a indústria não está preparada para responder.” O novo afloramento ocorreu a três quilômetros do poço que vazou em novembro, e a Chevron admitiu um afundamento na área em que se formou uma fissura de 800 metros.
“A empresa vai respeitar a lei brasileira e defender seus empregados com todos os recursos que a lei oferece”, disse ontem o diretor de Assuntos Corporativos da Chevron, Rafael Jaen. Segundo ele, a petroleira ainda não foi notificada sobre a decisão que impede funcionários de deixar o País. Em relação ao afloramento de óleo, Jaen afirmou que a situação está sob controle. “São gotas que saem do subsolo. Todos os dias fazemos sobrevoos, e a mancha está diminuindo; fragmentada, concentra dois litros de óleo”, afirmou.
Segundo ele, a petroleira interrompeu suas operações no Campo de Frade e a intenção é retomar as atividades após a conclusão de um estudo geológico “técnico e profundo”, realizado em conjunto com a Petrobrás. “Por enquanto, são especulações, hipóteses e teorias.”
A Transocean informou apenas que “vem cooperando com as autoridades, mas continuará defendendo veementemente os seus colaboradores”.
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