Mayron Régis
As comunidades agroextrativistas do Baixo Parnaiba maranhense dão uma devida importância à palavra e ao discurso. O que elas podem dar a não ser isso? Com certeza, essa importância vem das inúmeras pregações da parte de um padre ou de um pastor a quem elas acolhiam e acomodavam em seus lares. Para essas comunidades apenas a atenção ao recado sobrou como resposta a esses tempos. Nesses casos as sensações que as comunidades passam esfriariam o ânimo de qualquer um. Não há pedantismo, não há evasivas, não há tecnicismo e não há prolixidade como se vê e como se ouve nos discursos de um politico ou de uma empresa. Os discursos políticos exaltam as pessoas para que elas saiam de sua “letargia”, contudo a “letargia” condiciona as pessoas pelos projetos nunca executados ou parcialmente executados e cujas explicações patinam.
Exaltar-se sempre remete a uma situação de exasperação. Interessa a setores políticos e a setores empresariais a exaltação porque com ela se manobra o exasperado. Manobra-se com todos os fins e por todos os meios como se vê constantemente, mas o que se pretende com a manobra é fazer que o outro saia do seu caminho para criar confusão em qualquer lugar menos ali onde interesses políticos e econômicos não rimam com participação político-social. A exaltação atinge a quem os interesses pintam como adversários. É de amplo conhecimento isso tudo porque as elites recorreram e recorrem a essa prática por décadas e por séculos.
A comunidade de Mangueira, município de Chapadinha, Baixo Parnaiba maranhense, confrontou-se em 2009 com a comunidade da Vila Borges por uma área de Chapada. Uma versão afirmava que aquela parte da Chapada se endurecia em muito mais que os 700 hectares nos quais a Vila Borges estabelecera sua posse em comunhão com os 2200 hectares desapropriados pelo Incra. Essa Chapada foi palco de conflitos sérios entre a Vila Borges e a família Lyra a qual detinha aquela e outras áreas de Chapada no município de Chapadinha. O vereador França Nilo, membro da família Lyra, atiçava a disputa para que os moradores da Mangueira se retirassem de seus mais de três mil hectares de Chapada.
O objetivo da manobra ia numa só direção: eliminar possíveis obstáculos futuros para uma possível transação da propriedade da família Lyra ou com um plantador de soja ou com a Suzano Papel e Celulose. Descobriu-se essa pretensão quando o patriarca da família Lyra convidou o senhor Buiu, presidente da Associação da Mangueira, para cortar umas madeiras no Brejo Grande visto que programavam vender aquela parte da Chapada para a Suzano. O Buiu não se exaltou. Fez que concordou e por detrás entrou com pedido de vistoria no Incra em conjunto com o STTR de Chapadinha.
Quando os funcionários da Suzano apareceram para demarcar a área que a empresa iria comprar, Buiu pediu que se recolhessem porque havia um pedido de vistoria protocolado no Incra. Como dizem, a porca torceu o rabo. Desde então, a família Lyra ameaça Buiu, sua família e os demais associados.
http://territorioslivresdobaixoparnaiba.blogspot.com/2012/03/comunidade-da-mangueira-municipio-de.html