Católicos e evangélicos são maioria em quilombo de Salto de Pirapora, SP

Maria dança e entoa cânticos religiosos africanos: tolerância entre crenças. (Foto: Mayco Geretti/G1)

No Cafundó, religiões africanas perderam espaço ao longo das décadas. Umbanda e candomblé tem nos mais velhos principais adeptos

Mayco Geretti

Ao todo são 109 pessoas, integrantes de 24 famílias, que vivem na comunidade quilombola do Cafundó, em Salto de Pirapora, no interior de São Paulo. Apesar de cultivarem a memória de seu povo, os bisnetos e netos de escravos que vivem ali cada vez mais se distanciam de seus antepassados. As religiões africanas, que no século 19 eram hegemônicas no Cafundó, hoje são seguidas apenas por algumas pessoas mais velhas que ainda não integram a massa de católicos e evangélicos.

Jovenil Rosa e os irmãos Marcos e Adalto são lideranças da comunidade e explicam que, mesmo nas famílias onde a umbanda, o candomblé e suas variantes estão presentes, não há presença de uma religião africana pura, evidenciando o sincretismo religioso presente entre os habitantes do local. “Os cânticos religiosos estão presentes, mas nas casas há estátuas de santos do catolicismo. As pessoas foram sendo influenciadas ao longo das gerações”, explica Jovenil.

A festa mais popular do Cafundó, que ocorre a cada mês de maio, é religiosa. Trata-se de uma homenagem com dança e música feita ao longo de vários dias à Santa Cruz, Nossa Senhora e São Benedito. Durante os festejos, cânticos evangélicos, católicos e africanos entoados em um dialeto variante do Banto fundem-se quando cai a noite.

Tolerância
Em visita ao Cafundó, a cozinheira Maria do Carmo Cruz Santos Comende, 54 anos, que é moradora da comunidade quilombola de Caçandoquinha, no litoral norte de São Paulo, acredita que a mistura de religiões é um fenômeno sem volta entre os descendentes de escravos. “O que percebemos é que existe uma tolerância muito grande. Não há conflitos ou uma pessoa tentando persuadir a outra a vir para esta religião, ou voltar para aquela religião. No final das contas, as diferentes religiões são caminhos diferentes para se chegar ao mesmo lugar.”

Maria do Carmo afirma que, além da influência externa ter persuadido a fé dos quilombolas, o próprio descontentamento dos descendentes de escravos com o que lhes vinha sendo oferecido gerou uma debandada para outras religiões. “Ao longo das décadas, muitos acabaram criando um misticismo exagerado em torno das religiões africanas. Isso era promovido por charlatões, que invariavelmente procuravam obter poder e usar a fé alheia para tirar dinheiro dos quilombolas. Isso acabou repelindo muitos, principalmente os mais jovens.”

http://g1.globo.com/sao-paulo/sorocaba-jundiai/noticia/2012/02/catolicos-e-evangelicos-sao-maioria-em-quilombo-de-salto-de-pirapora-sp.html

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