Fernando Peixoto (1937 – 2012)

Formado por um dos italianos que buscaram o Brasil no pós-guerra, Ruggero Jacobi, Fernando Peixoto pertenceu à revolucionária geração do Teatro Oficina e do Teatro de Arena, em São Paulo. Militante emérito e inspirador, batalhador incansável da democracia e da inteligência, deixou grande legado, por onde tenha passado. A cultura e o palco brasileiros ficaram mais pobres com sua partida

Flávio Aguiar

Por estes azares de viagens e desencontros, só agora tomei conhecimento da morte de Fernando Peixoto, ocorrida em 15 de janeiro, aos 74 anos de idade. A cultura e o palco brasileiros ficaram mais pobres.

Assim como o de Olavo Bilac, seu nome completo era um alexandrino perfeito, em dois hemistíquios, nele digno de Racine, desde que se fizesse um staccato entre o primeiro e o segundo:

Fer/nan/do/A/ma/ral//dos/Gui/ma/rães/Pei/xo/to.
1…. 2…. 3…. 4…. 5…. 6…. 1…. 2…. 3…. 4…. 5…. 6

Fernando Peixoto jamais aparecia nas reuniões ou encontros que fosse: ele sempre entrava em cena. Formado por um dos italianos que buscaram o Brasil no pós-guerra, Ruggero Jacobi, Fernando pertenceu à revolucionária geração do Teatro Oficina e do Teatro de Arena, em São Paulo. Começou sua carreira, no entanto, em seu estado natal, em Porto Alegre. Vi-o no palco diversas vezes. Era sempre brilhante, desempenhasse o protagonista ou fizesse uma ponta.

O primeiro papel dele de que tenho plena memória é o de Andréa Sarti, o discípulo de Galileo Galilei, na peça homônima desta, de Bertolt Brecht, que assisti no Rio em 1969. Mas lembro-me vagamente dele na peça, que também assisti em 1969, mas em São Paulo, “Na selva das cidades”, do mesmo Brecht, no Teatro Oficina, na primeira vez que lá fui. Também fez “Os pequenos burgueses”, de Maximo Gorki, direção de Eugenio Kusnet, e desta, que assisti ainda em Porto Alegre, no Teatro Leopoldina, também tenho vaga lembrança, assim como de “Arena conta Zumbi”, que também assisti na capital gaúcha, lá pelos idos de 67 ou 68.

Assisti “O rei da vela” no Rio, em 1969, mas creio que o papel já era desempenhado por Renato Borghi, e não por ele, que o fizera na montagem de estreia. Posteriormente, vi peças que dirigiu, como “Um grito parado no ar” (1973), “Ponto de partida” (1976), “Tambores na noite” (1972), entre outras.

Ele, com Gianfrancesco Guarnieri, Renato Borghi e Othon Bastos, era parte de uma espécie de equipe dos “Três Mosqueteiros” (que na verdade, eram quatro) do teatro brasileiro daquela época. Fizeram, e ele fez história. Também o vi no cinema, em pontas, como em “Eles não usam Black-Tie”, “O beijo da Mulher-Aranha”, “O homem do Pau-Brasil”. Convivi com ele numa área não menos importante de sua carreira de homem das atividades culturais, mas mais discreta: o jornalismo. Estivemos juntos nas históricas primeiras jornadas do jornal Movimento, de fins de 1974 aos começos de 1977, quando um daqueles rachas históricos nos colocou em lados opostos: ele ficou entre os “ficantes” e eu saí com os “saintes”. Mas isso não abalou a amizade que sempre nutrimos um pelo outro, nem a admiração que sempre senti por ele.

Batalhador incansável da democracia e da inteligência, Fernando Peixoto deixou grande legado, por onde tenha passado.

Militante emérito e inspirador.

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19551

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