Ameaça do fazendeiro ao Vereador Vanderlei Dias, de Pedro Leopoldo: “Eu vou matar um bocado de vocês que pisar [sic] lá dentro”. “Eu tenho 4 homicídios nas costas, vai ser o 5°, o 6°, o 7°….”. “Eu vou fazer uma tragédia, não demora, não tá longe”.
Vereador é ameaçado de morte após denunciar exploração no Quilombo do Pimentel
por Pedro Leão
O quilombo do Pimentel resiste como pode há mais de cento e vinte anos na cidade de Pedro Leopoldo. No início da República Velha estima-se que a população chegasse a cerca de três mil negros. Assim como várias comunidades quilombolas no Brasil, o quilombo Pimentel sofre com a precária estrutura e preconceito de uma sociedade que insiste em não pagar suas dívidas. É de pequenas lavouras que vem o principal sustento das 13 famílias que ali resistem. A cultura quilombola é ainda o principal elemento de identidade das 50 pessoas que vivem no Quilombo Pimentel.
Nos últimos meses os quilombolas enfrentam a invasão de suas terras por fazendeiros vizinhos. A precária condição da comunidade deixa a população em uma posição de desamparo e suscetível à exploração dos fazendeiros. Não há transporte público, e os idosos e doentes ficam à mercê da “solidariedade” dos proprietários de terras.
Para Klaudia Marques, liderança do Quilombo Pimentel, a luta em Pedro Leopoldo é secular: “Os que nos atacam são os herdeiros da época da escravidão; acham que a terra pertence a eles. Nosso quilombo não existe por caridade, existe uma rica história que precisa ser preservada” denuncia.
No dia 28 de janeiro, o vereador Vanderlei Dias (PMDB) denunciou graves crimes ambientais que ocorriam nas terras demarcadas do Quilombo. A reação dos herdeiros da Casa Grande foi imediata. O vereador recebeu ameaças de morte para que não interferisse nas terras do limite do Quilombo.
Em um vídeo que choca pela frieza e desprezo pelas leis, um fazendeiro local intimida o vereador dizendo que mataria quem pisasse em suas terras e que ele não se intimida, pois já teria “nas costas” mais de quatro homicídios. O vereador já registrou a ameaça na polícia e no Ministério Publico.
Klaudia Marques vai além dos problemas da invasão das terras. Para a líder comunitária é preciso criar uma política municipal de igualdade racial para reconhecer e valorizar a comunidade quilombola. A cultura, segundo ela, sofre mais agressão que as terras: “existe o risco desta história acabar”, lamenta.
Para aqueles que venceram a escravidão, esta luta é pela sobrevivência de uma história que continua a ser escrita por aqueles que exploram e por aqueles que como Klaudia e Zumbi resistem aos que se julgam donos do mundo.
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